quarta-feira, 29 de agosto de 2012

China desenvolve mísseis para superar sistema de defesa dos EUA, dizem analistas


Submarino nuclear chinês realiza um disparo de testes com o novo ICBM JL-2
A China está seguindo em frente com o desenvolvimento de uma nova e mais capaz geração de mísseis balísticos intercontinentais e mísseis lançados por submarino, aumentando sua atual capacidade de disparar ogivas nucleares contra os Estados Unidos e sobrepujar os sistemas de defesa antimísseis, disseram analistas militares semana passada.

No geral, o fortalecimento constante da capacidade militar chinesa para guerra convencional e nuclear há muito é motivo de preocupação no Congresso americano e entre os aliados dos Estados Unidos no Leste da Ásia, particularmente à medida que a China assume uma posição mais assertiva em relação a disputas territoriais no Mar do Leste da China e no Mar do Sul da China.

O “Global Times”, um jornal controlado diretamente pelo Partido Comunista Chinês, noticiou na última quarta-feira (22) que a China estava desenvolvendo a capacidade de colocar múltiplas ogivas em mísseis balísticos intercontinentais (ICBM, na sigla em inglês). Mas o jornal contestou uma reportagem no “Jane’s Defense Weekly” de que o mais recente ICBM chinês, o Dongfeng-41, já tinha sido testado no mês passado.

Larry Wortzel, um ex-oficial da inteligência militar americana e coronel reformado do Exército que atualmente é membro da Comissão de Revisão Econômica e de Segurança Estados Unidos-China, um painel criado pelo Congresso, disse que a China estava desenvolvendo a capacidade de colocar até 10 ogivas nucleares em um ICBM, além de uma série de ogivas falsas. As ogivas falsas teriam calor e dispositivos eletromagnéticos visando enganar os sistemas antimísseis a os perseguirem como sendo tão ameaçadores quanto às ogivas reais, ele disse.

“A maior implicação disso é que se começarem a implantar uma força de mísseis com múltiplas ogivas, então significaria que tudo o que presumimos sobre o tamanho do arsenal nuclear deles estaria errado”, ele disse.

A China também testou separadamente mísseis lançados por submarino nas últimas semanas e poderia usá-los para flanquear os sistemas americanos de detecção de mísseis, disse Wortzel. A maioria dos conjuntos de radares implantados pelos Estados Unidos para detecção de mísseis balísticos foi construída durante a Guerra Fria para detecção de ataques por rotas polares.

Sun Zhe, professor de relações internacionais da Universidade Tsinghua, em Pequim, e um frequente comentarista das relações entre Estados Unidos e China, disse que a China está desenvolvendo suas forças militares apenas em resposta aos contínuos esforços por outros países, particularmente os Estados Unidos, de continuarem melhorando suas próprias forças.

“Nós já dissemos repetidas vezes que não seremos o primeiro país a usar força nuclear”, ele disse. “Nós precisamos ser capazes de nos defendermos, e a principal ameaça contra nós, eu temo, vem dos Estados Unidos.”

O desenvolvimento de mísseis de longo alcance pela China faz parte de uma expansão militar muito mais ampla, possibilitada pelo rápido crescimento do orçamento juntamente com o da economia chinesa, cujo produto foi de US$ 7,5 trilhões no ano passado, em comparação a US$ 1.2 trilhão em 2000.

A China deu início aos testes no mar de seu primeiro porta-aviões, o Varyag, uma versão adaptada de uma embarcação soviética, e começou a falar neste ano sobre a futura construção de até cinco porta-aviões. A China também começou a realizar em janeiro testes públicos de voo do J-20, seu novo caça stealth.

A escala do programa de mísseis estratégicos da China é muito mais secreta. O Pentágono estima que a China conta atualmente com 55 a 65 ICBMs. A China também está preparando dois submarinos para entrar em operação, cada um deles com 12 mísseis a bordo, disse Wortzel.

Essas forças são diminutas diante das dos Estados Unidos, que estão reduzindo seu estoque para 1.550 armas nucleares estratégicas até 2018, segundo o mais recente acordo de controle de armas com a Rússia assinado em 2010.

As previsões do Ocidente variam sobre quantos Dongfeng-41 a China produzirá, com 20 a 32 sistemas móveis de lançamento planejados. Os lançadores móveis dificultam a localização e destruição de um míssil antes de seu lançamento, e também criam a possibilidade de mísseis adicionais poderem ser escondidos em depósitos e usados como recarga após o lançamento do míssil inicial.

Se cada míssil tiver 10 ogivas nucleares, isso resultaria em poucas centenas a várias centenas de armas nucleares.

Mas Tom Z. Collina, o diretor de pesquisa da Associação de Controle de Armas, com sede em Washington, disse que a China não tem como empregar múltiplas ogivas sem primeiro desenvolver e testar ogivas menores. E a China assinou o Tratado Abrangente de Proibição de Testes em 1996, concordando em não realizar novos testes nucleares.

“Não se trata apenas da questão sobre se eles têm um míssil capaz de transportar fisicamente todas essas ogivas, mas também se conseguem colocar todas essas ogivas em um míssil”, disse Collina.

Os Estados Unidos têm tentado tranquilizar a Rússia e a China de que suas limitadas defesas antimísseis visam apenas abater um ou um punhado de mísseis lançados por um Estado inamistoso. Mas os defensores da defesa antimísseis nos Estados Unidos querem sistemas mais ambiciosos, mas também mais caros, um debate acompanhado com nervosismo por Moscou e Pequim.

Os Estados Unidos estão considerando onde poderiam melhor posicionar sistemas de radar de alta tecnologia projetados para rastrear mísseis balísticos. As forças americanas atualmente contam com um no norte do Japão e outros que são posicionados de tempos em tempos no mar. O “Wall Street Journal” noticiou nesta semana sobre as discussões sobre o posicionamento de mais dois em terra, um no sul do Japão e outro no Sudeste Asiático.

As autoridades americanas disseram repetidas vezes que sua principal preocupação é com a Coreia do Norte, que tem testado mísseis de longo alcance e está desenvolvendo armas nucleares. Mas especialistas e autoridades chinesas também suspeitam que os sistemas de defesa antimísseis dos Estados Unidos visem às forças de seu país.

“Eu não tenho dúvida de que uma das metas das defesas antimísseis seja conter ameaças da Coreia do Norte, mas falando objetivamente, a expansão de alta tecnologia dos bíceps militares americanos também tem impacto sobre a China”, disse Shi Yinhong, um professor de relações internacionais da Universidade Renmin, em Pequim, acrescentando que também há discussões na China sobre o desenvolvimento de defesas antimísseis.

3 comentários:

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    nao tenho bola de cristal...mais suspeito que Rússia e China .. trabalham em conjunto para neutralizar esse sistema anti misseis americano...
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    XTREME

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  2. Corrida armamentista, silenciosa (ou não?)... com o adicional de que as tensões em vários níveis estão bem mais elevadas que há 5 anos atrás, eu acho.

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  3. Não vejo motivos para preocupação. O equilíbrio de poderes e as alianças militares deverão garantir a paz (armada).

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