quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Bahrein é criticado pelo uso "torrencial" de gás lacrimogêneo contra protestos


Apesar da promessa de conter os abusos de suas forças de segurança, a minoria sunita que governa o pequeno reino de Bahrein, no golfo Pérsico, está envolvida no uso sistemático e desproporcional de gás lacrimogêneo contra sua inquieta maioria xiita, permitindo que a polícia habitualmente dispare rajadas contra alvos a curta distância em multidões e nas casas e veículos de bairros xiitas, disse um importante grupo de direitos humanos em um relatório divulgado na quarta-feira.

O grupo Médicos pelos Direitos Humanos, que tem criticado fortemente o comportamento da monarquia de Bahrein desde que começaram os protestos xiitas inspirados pela Primavera Árabe, há 18 meses, disse que o uso de gás pela polícia não tem precedentes no mundo, mesmo entre ditaduras em que o gás lacrimogêneo é uma ferramenta comum para o controle de multidões.

Seu relatório, baseado em dezenas de entrevistas com vítimas no Bahrein e evidências forenses reunidas em abril pelos investigadores do grupo, diz que a exposição anormalmente prolongada da população xiita aos componentes tóxicos do gás já causou um aumento alarmante de abortos, problemas respiratórios e outras doenças.

A organização documentou exemplos de ferimentos sofridos por civis cujos crânios e membros tinham sido atingidos por invólucros metálicos do gás lacrimogêneo disparados de poucos metros de distância. O relatório também descreveu casos em que pessoas não envolvidas em protestos foram atacadas com gás disparado para dentro de seus carros e através das janelas ou portas de suas casas, incluindo pelo menos dois casos em que os moradores morreram de complicações da exposição ao gás porque ficaram presos em espaços fechados.

"Desde fevereiro de 2011 o governo do Bahrein lançou uma torrente desses agentes químicos tóxicos contra homens, mulheres e crianças, incluindo idosos e enfermos", avaliou o relatório, intitulado "O uso de gás lacrimogêneo como armamento".

Luma E. Bashmi, diretora de assuntos de mídia internacional na Autoridade de Informação de Bahrein, refutou as afirmações do relatório.

"O governo de Bahrein nega e condena o uso de força letal ou meios ilegais para controlar demonstrações no reino de Bahrein", disse ela em um comunicado. "Quaisquer meios que tenham sido utilizados pelas forças de segurança respeitam os padrões internacionais de controle de tumultos. As sugestões de que o uso de gás lacrimogêneo em Bahrein é severamente prejudicial ou mesmo letal simplesmente não se baseia em qualquer pesquisa ou prova."

O relatório admitiu que uma comissão de inquérito oficial formada no ano passado para investigar abusos contra manifestantes xiitas foi altamente crítica, concluindo que as forças de segurança tinham usado força excessiva, tortura e confissões forçadas na repressão. As autoridades de Bahrein haviam prometido melhoras em consequência disso.

Richard Sollom, o vice-diretor dos Médicos para Direitos Humanos e um dos autores do relatório, deveria depor na quarta-feira em uma audiência na Câmara dos Deputados em Washington sobre se o Bahrein respeitou suas promessas. Ele disse que está descrente das promessas das autoridades do país. "Eles são muito bons em retórica, e não em resultados", disse ele em uma entrevista por telefone. "Literalmente não mudou muita coisa." Nos cem anos de história do gás lacrimogêneo, disse Sollom, "não há outro exemplo em que um país atacou constantemente sua população com essa substância tóxica".

O relatório parecia destinado a causar certa estranheza no governo Obama, que temperou suas críticas à repressão do governo de Bahrein mesmo enquanto reconhecia a legitimidade das queixas dos manifestantes. Bahrein, que abriga a Quinta Frota da marinha dos EUA, que patrulha o golfo Pérsico, é considerado um baluarte estratégico contra a influência do Irã.

Sollom, que visitou Bahrein três vezes, disse que os ataques com gás ocorreram semanalmente em alguns bairros xiitas e que o odor que permanece é tão forte que alguns moradores deram máscaras antigás para os visitantes. Ele também disse que o governo de Bahrein não respondeu ao pedido do grupo de uma explicação sobre o tipo exato de gás lacrimogêneo usado pela polícia. Tampouco explicou precisamente como e onde está obtendo esse gás, embora os recipientes encontrados na rua por ativistas sugiram que eles vêm dos EUA, França e Brasil.

Sollom salientou que os EUA tinham cancelado as licenças para exportações de gás lacrimogêneo para o Bahrein, o que sugere que qualquer produto de gás americano usado lá pode ter sido estocado antes da restrição ou foi reexportado de outros países. Segundo o grupo ativista Bahrain Watch, que registra o uso de armas pelo governo, a polícia recentemente começou a usar recipientes de gás sem marcas, supostamente para esconder o país de origem.

"Gás lacrimogêneo" é um termo genérico usado para um grupo de pelo menos 15 substâncias químicas para controle de tumultos, porque deixa as pessoas incapacitadas ao expor seus pulmões, pele e olhos a substâncias irritantes.

Um comentário:

  1. esses países árabes também dependem do resto do mundo para tudo em, nem produzir um gás lacrimogênio para espantar seus críticos eles conseguem produzir sem precisar comprar dos outros? esses países quando acabar o petróleo e o gás natural eles estão completamente ferrados.

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