Aviões de guerra sírios atacam Aleppo enquanto rebeldes usam tanques

Um garoto sírio pula de um veículo blindado no norte da cidade de Atareb, próxima Aleppo

A batalha pela cidade síria de Aleppo se intensificou na quarta-feira (1º), quando observadores da ONU presentes lá relataram que caças sírios dispararam foguetes contra os bairros disputados e que os rebeldes usavam tanques e outros armamentos pesados.

 Os líderes da oposição - poucas horas depois do presidente Bashar Assad ordenar às suas forças para intensificarem o combate - também disseram que encontraram dezenas de corpos em uma cidade vizinha de Damasco, após uma busca de casa em casa pelo exército sírio por combatentes rebeldes e ativistas. Essa alegação de um novo massacre ocorreu enquanto os próprios rebeldes enfrentavam críticas severas pelo que pareceu ser uma execução sumária brutal, um dia antes, de homens armados pró-governo nas ruas de Aleppo, gravada e postada na Internet.

 Os vídeos supostamente gravados na cidade de Jdeidit Artouz mostravam corpos enfileirados sob lençóis manchados de sangue, enquanto um narrador apresentava uma contagem que continuava subindo: 37, 42 e há ainda mais.

“Eu contei 52 corpos”, disse Abu Abdullah, um morador que disse que ajudou a mover os mortos para uma mesquita local antes do enterro. “Eu estou realmente chocado. Por que aqui?”

 Os corpos foram encontrados próximos de uma área onde os rebeldes disseram que ocorreram combates na semana passada. Mas analistas disseram que corpos aparecendo fora de Damasco, em uma cidade também repleta de refugiados - juntamente com relatos de novos combates na capital e a escalada do combate em Aleppo, a maior metrópole da Síria e epicentro comercial - sugerem que o conflito de 17 meses está se tornando cada vez mais intenso e amargo, com mais linhas de frente e mais derramamento de sangue.

“É uma escalada rápida”, disse Andrew J. Tabler, um membro sênior do Instituto Washington para Políticas para o Oriente Próximo. “Assim que você começa a usar caças e tem uma cidade em plena revolta, fica claro que o regime Assad não vai parar e não está quebrando. Nós estamos entrando em uma nova fase desse conflito.”

 Aleppo, que durante grande parte do levante anti-Assad se manteve relativamente estável, agora é cenário dos piores combates. Por quase duas semanas o exército sírio está enfrentando as tropas rebeldes pelo controle da cidade, e pela primeira vez a ONU disse na quarta-feira (1º) o que os rebeldes estão dizendo há dias: o exército sírio está usando caças dentre seu arsenal de armamentos pesados visando esmagar a oposição. E eles não estão apenas sobrevoando, como no passado; agora, segundo a missão de monitoramento da ONU na Síria e vídeos mostrando os clarões de luz saídos dos caças escuros, eles estão disparando.

 “Nossos observadores confirmaram caças disparando foguetes e canhões - fogo pesado de metralhadora”, disse Sausan Ghosheh, uma porta-voz da missão de monitoramento da ONU.

 Tabler notou que os caças sírios ainda não estão jogando bombas. Mas a escalada calculada até o uso de caças parece fazer parte do esforço orquestrado de Assad para unir seus apoiadores, ao deixar claro que não limitará seu esforço militar. Em raros comentários publicados, aparentemente visando unir as forças do governo e dissuadir qualquer um de pensar em desertar, ele pediu às forças armadas sírias que mostrem “mais prontidão e preparação” para enfrentar “os agentes internos” que buscam desestabilizar o país, segundo a agência de notícias oficial “SANA”.

 Para celebrar o 67º aniversário da fundação do exército sírio, ele também usou seus comentários para culpar os oponentes por buscarem impedir a Síria de “melhorar nossa sociedade até o nível dos países desenvolvidos”. E ele disse que a “batalha contra o inimigo (da Síria) assume múltiplas formas”.

 Nesta semana ficou cada vez mais claro para analistas militares de fora que os combates provavelmente se arrastarão em Aleppo. Helicópteros atiravam do alto na quarta-feira (1º) enquanto combates ocorriam em torno de várias delegacias de polícia, que se tornaram pontos focais para os rebeldes buscando controlar os bairros ou ganhar terreno em novas áreas.

 Taxistas circulavam pelas ruas cobrando quatro ou cinco vezes mais a tarifa habitual, enquanto os moradores diziam que água, comida e eletricidade pareciam cada vez mais escassas.

 Alarmado com o agravamento da privação, o Programa Mundial de Alimentação da ONU enviou na quarta-feira (1º) ajuda alimentar para 28 mil pessoas em Aleppo, com planos para entregar a ajuda por meio de parceiros como o Crescente Vermelho sírio. Em julho, as autoridades da ONU disseram que forneceram ajuda alimentar para 541.575 pessoas na Síria, ficando aquém de sua meta de 850 mil pessoas, devido aos combates em várias partes do país.

 Com os rebeldes agora em posse de tanques - observadores da ONU não informaram quantos, ou onde poderiam ser usados - o conflito parece estar se distanciando cada vez mais do roteiro para a paz de seis pontos apresentado por Kofi Annan, o emissário especial para a Síria, cujo plano parece cada vez mais irrelevante. Em vez de passos para um cessar-fogo, ambos os lados parecem estar mais focados na guerra civil.

Rebeldes e ativistas relataram combates em várias partes do país na quarta-feira (1º), incluindo nas áreas altamente cristãs de Damasco que permaneciam quietas, e a batalha pela opinião pública também expandiu.

Figuras da oposição chamaram atenção especial aos corpos em Jdeidit Artouz - enviando um alerta aos repórteres com um link para vídeo ao vivo por streaming de um cortejo fúnebre em massa e de um enterro em massa - apenas um dia após os rebeldes em Aleppo causarem protestos entre os grupos de direitos e outros com suas execuções públicas, gravadas em vídeo, de homens identificados como milicianos pró-governo.

 Essas execuções foram assistidas por centenas de milhares de pessoas no YouTube e foram citadas pela Rússia, a mais importante apoiadora estrangeira do governo sírio, como nova evidência da brutalidade dos adversários armados de Assad, que ele rotineiramente chama de terroristas.

“A retaliação sangrenta pelas forças de oposição aos apoiadores do governo em Aleppo prova que direitos humanos são violados por ambos os lados”, disse Gennady Gatilov, o vice-ministro das Relações Exteriores russo, em uma mensagem no Twitter.

 O Human Rights Watch descreveu as mortes como “crime de guerra” e, à medida que ganhava maior importância como símbolo da justiça de rua rebelde, rebeldes e ativistas buscavam voltar a atenção na tarde de quarta-feira (1º) ao que descreveram como exemplo de um “massacre” pelo regime.

Susan Ahmad, uma porta-voz do conselho revolucionário em Damasco, um grupo anti-Assad, argumentou em uma entrevista que muitas das vítimas em Jdeidit Arouz eram civis, e que a cidade era refúgio das famílias que fugiam dos combates em Damasco.

 “Quase todos os mortos foram executados extrajudicialmente”, ela disse.