sexta-feira, 20 de julho de 2012
Tudo mudou em Damasco após ataque de quarta, relatam moradores
Algo fundamental mudou em Damasco na quarta-feira (18): há uma espécie de realidade antes do atentado a bomba, e uma bem diferente depois.
“É sério, até essa manhã era possível sentir que o governo ainda tinha um controle firme do país”, disse uma moradora de 25 anos, se recusando a dizer seu nome em meio aos eventos inquietantes.
As lojas inicialmente abriram, ela disse, e o trânsito, apesar de leve, se movia com facilidade. Os estudantes universitários faziam suas provas.
Então vieram os anúncios alarmantes pela televisão estatal, um após o outro por volta do meio-dia, de que uma bomba tinha explodido em uma pequena reunião de importantes figuras da segurança do país, matando três, incluindo Assef Shawkat, o cunhado do presidente Bashar Assad.
“Tudo mudou após as 15h, e as coisas seguiram em uma direção totalmente diferente”, ela disse, repetindo os comentários feitos por vários moradores de Damasco, contatados via Internet.
Primeiro, as ruas ficaram congestionadas de pessoas correndo até as lojas para estocar os suprimentos necessários, caso a cidade fosse tomada por combates: água, farinha, massas, pilhas. Então o comércio fechou mais cedo e as ruas ficaram vazias. Nem mesmo os táxis circulavam.
Muitas pessoas ficaram sentadas no interior de suas casas, longe das janelas, assistindo televisão.
Se fossem contra o regime, elas assistiam a “Al Jazeera” ou a “Al Arabiya”, esta última transmitindo imagens ao vivo de alguns dos confrontos mais violentos entre soldados e rebeldes no extremo sul da cidade.
Os apoiadores do regime normalmente sintonizam a emissora estatal, com seus pronunciamentos tranquilizadores de que o governo está no controle. Após cada boletim informando outra morte ou mais algum detalhe, a emissora estatal retomava seu talk show diário padrão sobre como a Síria foi alvo de uma conspiração homicida por parte da mídia internacional.
O governo sírio conseguiu isolar Damasco do restante do país desde o início do levante, em março de 2011, mantendo até mesmo de fora grande parte da imprensa estrangeira. A cidade permaneceu uma espécie de trena psicológica: se Damasco permanecesse sob controle, isso significaria que o regime de Assad ainda estava no controle.
Os ativistas às vezes brincavam a respeito. Eles vinham de Daraa, Homs ou Idlib, onde a destruição era vasta, o governo praticamente inexistente e onde davam ao governo Assad dois ou três meses de sobrevivência. Em Damasco, eles se embasbacavam com o trânsito, as lojas e restaurantes lotados, reavaliando a contragosto que talvez o regime resistiria por outro ano ou mais.
Então veio a quarta-feira.
A mudança não foi apenas em Damasco. Os ativistas na cidade de Hama, na região central, disseram que distribuíram doces nas ruas para celebrar as mortes, e pediram aos xeques para dizerem aos pais para ligarem para seus filhos no exército, dizendo que esse era o momento ideal para mudarem de lado.
Mas foi em Damasco que a mudança foi mais palpável. Muitas pessoas fora dos círculos políticos falavam em fugir para Beirute. Mas como as forças de segurança bloquearam o anel viário, a principal artéria em torno da cidade, não se sabia se isso era possível.
Os apoiadores do regime expressavam raiva. Como presidente, Assad, assim como seu pai antes dele, defendeu os alauitas, um ramo do Islã xiita cujos membros dominam as unidades militares de elite e os vários órgãos de inteligência.
Bandos de alauitas defensores do governo perambulavam pelo centro de Damasco na noite de quarta-feira, disseram alguns moradores, ameaçando qualquer um que encontrassem.
“Alguns deles diziam que queriam contra-atacar, vingar o que aconteceu hoje; eles são muito passionais”, disse Malek, um estudante sírio em Nova York, que passou grande parte do dia contatando amigos e parentes em casa. “Mas a maioria queria apenas fugir. Eles dizem que ele os está empurrando para o precipício; eles não estão contentes.”
O medo se espalhou de que a guerra se torne um confronto entre sunitas e alauitas.
“Eu tenho amigos alauitas partindo de Damasco, saindo da cidade ou até mesmo da Síria”, disse Malek, que disse apenas seu primeiro nome, por temer pela segurança de seus contatos na Síria. “Aqueles que estão partindo vão para a montanha alauita em Latakia. É a área mais segura para eles.”
Louay Hussein, um proeminente político alauita, se considera membro da oposição, mas permeneceu em Damasco enquanto a maioria dos ativistas fugiu para o exterior durante o levante. Ele negou os relatos de alguns militantes da oposição de que as forças anti-Assad controlavam áreas da capital.
“Todo esse conflito armado abrirá o caminho para a guerra civil”, ele disse, lamentando o que começou 17 meses atrás como um movimento de protesto pacífico. “Eu temo que o ataque de hoje será o ponto de virada contra os rebeldes, onde o regime será mais brutal.”
Mas os apoiadores da oposição disseram ter encontrado novas forças após o ataque, antecipando uma onda de deserções no exército e um novo impulso para o levante. Eles pensam que haverá muitos motivos para celebrar o Ramadã, o mês sagrado do jejum, que começa nesta semana e é uma espécie de período de um mês de ação de graças.
“Eu agora sinto que o regime pode realmente cair, pela primeira vez nós sentimos que o regime está realmente caindo”, disse Oueiss al Omar, um jovem morador de Damasco. “Eu não esperava por isso, eu fiquei muito surpreso e me deu um impulso para continuar um ativista. É um estímulo para os revolucionários.”
*Dalal Mawad e Hwaida Saad, em Beirute, e Hala Droubi, em Dubai (Emirados Árabes Unidos), contribuíram com a reportagem.
Informante, olhando as notícias vejo que está morrendo mais soldado do que rebelde propriamente dito (a maioria das baixas são civis). Isso procede?
ResponderExcluirÉ complicado falar, mas creio que as baixas maiores sempre serão dos rebeldes, uma vez que eles não tem as armas que as tropas leais ao governo tem, não tem apoio aéreo e etc.
ExcluirSegundo o Global Times, o Kuwait Times e o Now Lebanon, 136 guerrilheiros foram mortos e 145 foram capturados na Batalha de Damasco. As tropas de Assad tiveram 92 baixas. Quando o número de baixas é alto ou equiparável, isso nos mostra que o combate é franco, diferente que a mídia ocidental vem falando. Até agora 64 civis perderam suas vidas na citada batalha.
Hmm... Obrigado pelo esclarecimento.
ExcluirDisponha, amigo.
ExcluirBashar Al Assad recuperou hoje os bairros em Damasco em combate e olha que foi noticiado no globo, como sempre critico de quem não faz certo jogo político,esses ataques em Damasco lembram um pouco o que o Talibã faz de vez em quando em Cabul sabe que não tem como tomar a cidade mais ataca, a batalha durou mais em Damasco Porq Síria não tem o poder da OTAN de resolver bem mais rápido, mais lembram de quando o Talibã ficou vinte horas combatendo nos arredores da sede da OTAN em Cabul?
ResponderExcluir"Os ativistas na cidade de Hama, na região central, disseram que distribuíram doces nas ruas para celebrar as mortes" São uns miseráveis. Chamar terroristas de ativistas mostra até que ponto a mídia se tornou partidária. Até há pouco tempo, Assad era tratado como presidente. Agora é tratado como ditador.
ResponderExcluirLuiz Oliveira