quinta-feira, 15 de março de 2012

Temor de uma guerra sectária livra regime de intervenção


Risco de guerra sectária divide a população síria e serve de dissuasão contra ação

Exército Sírio Livre (ESL) defende suas posições em Homs 
A Síria não é a Líbia.

Esse é o refrão mais repetido pelos que alertam para os perigos de uma intervenção militar contra o regime de Bashar Assad nos moldes da que ajudou a derrubar Muammar Gaddafi.

Levando-se em conta a necessidade de proteger os civis, o argumento usado para os ataques na Líbia, a urgência é a mesma. Só que na Síria os riscos são bem maiores.

Pelos cálculos mais modestos, o número de mortos pelas forças de segurança sírias em um ano de repressão está perto dos 8.000.

Na Líbia o total estimado varia de 2.000 a 30 mil, impossível precisar. Mas lá os rebeldes tomaram logo quase metade do país, estabelecendo base para se organizar. Algo que os opositores sírios, por ora, só têm em sonhos.

Na Síria, após um ano de revolta, o regime ainda controla quase todo o território e tem esmagado os poucos bolsões de resistência, como fez recentemente em Homs.

Se a urgência em proteger os civis é semelhante, as diferenças geopolíticas explicam a dificuldade em alcançar consenso internacional.

A oposição é fraca, fragmentada e carece de uma liderança única; a Rússia mantém um escudo diplomático em torno do regime, seu antigo aliado; a composição sectária da população é potencialmente explosiva.

O risco de uma guerra sectária como no Iraque é exagerado na propaganda do governo, mas divide a população síria e serve de dissuasão contra uma ação militar.

O governo e as Forças Armadas dos Estados Unidos parecem ter concluído que uma ação armada implica custos militares e políticos que não vale a pena correr.

Em artigo recente, Joshua Landis, o mais respeitado analista de Síria dos EUA, afirma que, a curto prazo, não há força capaz de derrubar Assad. A deterioração da economia é uma ameaça, mas não para breve.

Oposição precisa ter local para se organizar, diz analista

Medo e lealdade. Esta é a fórmula que, segundo analistas, tem permitido ao ditador Bashar Assad se manter no poder, mesmo após um ano de manifestações contra seu governo e mais de 8.000 mortes.

Medo das minorias sírias, que não aderiram ao movimento contra o regime -também de minoria alauíta- por se sentirem protegidas por ele, e da comunidade internacional de trazer mais instabilidade ao tabuleiro que inclui Israel, Iraque, Irã e Líbano.

"Muitos dos grupos minoritários -cristãos, drusos, curdos- se preocupam com o que poderia acontecer se a maioria sunita assumisse. Então eles não se uniram à oposição", observa o especialista Robert Danin, do Council on Foreign Relations. Esses grupos representam um quarto da população do país.

A lealdade do Exército e das forças de segurança, que evitaram uma deserção em massa, como ocorreu na Líbia, também teve um peso fundamental.

"Ao contrário dos que caíram, Assad tem forças de segurança muito fortes, formadas para proteger o regime, e não o país. Na Tunísia, por exemplo, os militares ficaram do lado dos manifestantes", lembra Abdel Bari Atwan, editor do jornal árabe "Al Quds Al Arabi", em Londres.

Para ele, o ditador sírio não terá seu posto ameaçado enquanto conseguir manter o Exército ao seu lado. Fred Lawson, autor do livro "Demystifying Syria", concorda.

"Enquanto as Forças Armadas obedecerem às ordens do alto comando dominado por alauítas, a guerra civil se arrastará indefinidamente."

O sírio Amr al Azm, professor da Shawnee State University, em Ohio, que se declara ativista da oposição, acredita que a falta de uma forte liderança contra Assad e do que chama "fator Benghazi" -um território onde a oposição se organize- também foi determinante para a permanência do ditador.

"A oposição não será capaz de construir uma força militar para derrubar o regime, mas pode se armar para afetar a capacidade das forças de segurança", avalia.

Para Danin e Al Azm, porém, a intervenção estrangeira ainda deve ser considerada. Segundo o sírio, o único diálogo possível com Assad é sobre "transição de poder".

3 comentários:

  1. Em Homs, populacão síria foi as ruas receber as tropas do governo. Novembro passado:

    http://www.youtube.com/watch?v=KxwgK6fluDU

    Isso a mídia ocidental não mostra.

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    1. muito bom oblonsky, ia postar o mesmo video. É bom saber que existe uma minoria não alienada.

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  2. Com video ou sem video os americanos nunca irão dominar nem explorar o povo sírio. Felismente esse povo irar se livrar desses imperialistas.

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