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As duas maiores autoridades do Pentágono admitiram na quarta-feira (7) que o presidente Barack Obama indagou sobre opções militares que pudessem ajudar a pôr fim ao conflito cada vez mais violento na Síria, mas elas enfatizaram os riscos e disseram que o governo ainda acreditava que a pressão econômica e diplomática era a melhor forma de proteger os sírios da repressão vingativa do regime de Assad.
A avaliação do general Martin E. Dempsey, comandante das Forças Armadas, e do secretário de defesa, Leon E. Panetta, em testemunho ao Senado, refletiu uma preocupação crescente com o levante de um ano na Síria, o mais violento dos conflitos da Primavera Árabe, no qual, pelas estimativas da ONU, mais de 7.500 pessoas foram mortas.
Seus comentários também refletiram a politização da questão da Síria nos EUA em ano de eleição presidencial, com os adversários de Obama o acusando de debilidade diante das crises estrangeiras.
Há apenas dois dias, John McCain, o senador republicano do Arizona que perdeu para Obama em 2008, tornou-se o primeiro senador a pedir ataques aéreos norte-americanos na Síria como “a única forma realista” de deter o que ele chamou de chacina. Tanto Dempsey quanto Panetta passaram grande parte de seus depoimentos rebatendo as perguntas de McCain sobre a relutância do governo.
A audiência no Comitê de Forças Armadas do Senado ocorreu enquanto o conflito na Síria tomava rumos dramáticos.
A principal autoridade de assistência da ONU, Valerie Amos, visitou a cidade devastada de Homs, na Síria --a primeira inspeção por uma observadora independente desde que o presidente Bashar Assad ordenou um assalto militar feroz contra a resistência armada da cidade, há mais de um mês. Sinais ameaçadores indicam que as forças de Assad agora direcionarão sua campanha para o norte, para a província de Idlib, onde o Exército Sírio Livre, um grupo composto basicamente de desertores do exército, está desafiando sua autoridade.
Dempsey disse ao comitê que as opções incluíam transporte aéreo humanitário, monitoramento naval, vigilância aérea dos militares sírios e o estabelecimento de uma zona de proibição de voos. Especificamente, ele disse que “o presidente dos EUA, por meio da equipe de segurança, tinha pedido para que fosse iniciada a estimativa do comandante”, expressão usada para designar a avaliação inicial de uma situação e as possibilidades de ação militar.
Panetta, que acompanhou Dempsey, disse ao comitê que as opções militares estavam nos estágios iniciais. “Não fizemos um planejamento detalhado porque estamos esperando a ordem do presidente”, disse ele. Atualmente, é comum os presidentes indagarem sobre opções militares durante as crises estrangeiras, e faz parte do dia a dia do Pentágono desenhar planos de contingência para uma ampla gama de conflitos potenciais.
Panetta e Dempsey passaram muito tempo explicando as dificuldades de uma ação militar. Panetta disse que a intervenção poderia provocar uma guerra civil no país e piorar uma situação que já é explosiva. Ele disse diretamente que o governo Obama reconhecia “que há limitações da força militar, especialmente para combatentes norte-americanos em terra” e acrescentou ainda que “não faz sentido” os EUA agirem sozinhos, sem uma coalizão de aliados.
Amos, subsecretária geral da ONU e coordenadora de assistência de emergência, chegou à Síria para uma visita de dois dias no início da quarta-feira para avaliar as necessidades de assistência do país. Ela acompanhou uma equipe da Sociedade Árabe do Crescente Vermelho ao bairro de Baba Amr, em Homs, que sofreu enorme destruição e onde ativistas disseram que centenas de civis foram mortos. Ela não emitiu declarações sobre o que observou, mas uma porta-voz da ONU, Amanda Pitt, disse que Amos tinha dito a ela por telefone que o bairro estava praticamente inabitado, tinha alguns tiroteios e estava “bastante devastado”.
“Ela queria ir para Homs e Baba Amr para ter uma noção do impacto dos combates --e da falta de acesso humanitário-- e queria chegar lá o mais rápido possível”, disse Pitt por e-mail, acrescentando que o ministro de relações exteriores da Síria, Walis al-Moallem, seu anfitrião, tinha dito a Amos que “poderia ir aonde quisesse”.
A Agência de Notícias Árabe da Síria, serviço estatal de notícias, não fez menção à visita de Amos a Homs, mas informou sobre sua chegada na quarta-feira. A agência ainda citou al-Moallem, que disse que o governo estava tentando responder às necessidades civis de emergência “apesar da sobrecarga que enfrenta por causa das injustas sanções impostas por alguns países árabes e ocidentais à Síria”.
Enquanto Amos visita a Síria, uma onda de novas prisões são denunciadas em Homs pelo Comitês de Coordenação Local, um grupo ativista, e há sinais que os maiores defensores estrangeiros de Assad estão perdendo sua fé na longevidade de seu governo. As denúncias de tortura e privação em Homs por civis em fuga foram negadas como propaganda inimiga pelo governo de Assad, que vem minimizando as manifestações em massa contra ele e insiste que suas forças têm combatido o terrorismo patrocinado pelo exterior neste último ano.
China e Rússia impediram as tentativas do Conselho de Segurança da ONU de condenar e responsabilizar Assad, mas surgiram dúvidas entre elas. Na segunda-feira, o primeiro-ministro e presidente eleito russo, Vladimir V. Putin, reafirmou seu apoio a Assad, mas disse que não sabia por quanto tempo seu governo duraria.
Na quarta-feira, a China anunciou que estava retirando seus trabalhadores da Síria, deixando apenas uns cem para vigiar as propriedades chinesas. Apesar de não ter ficado claro quantos trabalhadores chineses estariam saindo da Síria, o anúncio refletiu o que pareceu uma crescente desconfiança do poder de governo de Assad. “O governo chinês deve proteger a produção e os projetos das firmas chinesas, além da vida dos cidadãos chineses no exterior, especialmente das equipes de engenharia”, disse o ministro do comércio da China, Chen Deming, segundo a agência de notícias oficial Xinhua.
O Conselho Nacional Sírio, um grupo de oposição expatriado, informou em seu site que colunas de blindados e caminhões de soldados foram observadas avançando para Idlib, no Norte da Síria. O grupo, que não identificou as fontes de sua informação, condenou o que chamou de “silêncio internacional diante dos crimes continuados das forças de Assad para reprimir as demandas do povo por liberdade”.
Forças de segurança também varreram o subúrbio de Qalamoun, em Damasco, na quarta-feira, e prenderam alguns dos que haviam participado de manifestações contra o governo na noite anterior, disse um ativista por Skype. Os serviços telefônicos foram interrompidos de forma que ficou difícil avaliar a amplitude das prisões, disse o ativista, e a eletricidade só tem funcionado por cerca de nove horas por dia.
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