quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Xenofobia de líder populista ameaça a estabilidade do governo na Holanda


Geert Wilders


"Incomoda ouvir os distúrbios, a falta de integração e civismo dos trabalhadores búlgaros, romenos e poloneses que chegam à Holanda? Perdeu seu emprego por culpa de um deles? Conte-nos." Essa apresentação desafiadora, assinada por Geert Wilders, líder da extrema-direita holandesa, acompanha a caixa postal de queixas contra os imigrantes do Leste Europeu recém-aberta no site do Partido da Liberdade (PVV). Segundo seus cálculos, há 41 mil denúncias de holandeses incomodados pela "avalanche de estrangeiros da Europa Central e do Leste". O número é difícil de comprovar porque o PVV não mostra as mensagens em questão. A iniciativa, entretanto, diluiu a convivência na Holanda e ameaça a estabilidade do governo de centro-direita do liberal Mark Rutte.

A situação do chefe de governo holandês é delicada. Sua coalizão com a democracia cristã é minoritária em uma Câmara de 150 lugares. Precisa do apoio extraparlamentar de Wilders para legislar. Por enquanto, Rutte não chamou seu colega à ordem. "Não penso em responder a qualquer passo dado por Wilders; a caixa postal é coisa dele, e não do governo", disse. Os democratas cristão e a oposição de esquerda lamentaram as maneiras do líder extremista. Mas Rutte parece não querer atiçar um fogo capaz de prejudicar a imagem tolerante da Holanda.

Uma dezena de embaixadores dos países afetados já protestaram. Em uma carta aberta, pediram aos líderes políticos e sociais holandeses que se afastem de "um projeto inadmissível, denegridor e discriminatório". "Essa caixa postal fomenta uma imagem negativa de um grupo específico de cidadãos da UE, instalados na Holanda, que não corresponde à realidade", continua a missiva. A assinatura conjunta reúne os representantes de Bulgária, Estônia, Hungria, Letônia, Lituânia, Polônia, Romênia, Eslovênia, Eslováquia e República Checa.

Wilders se opôs em certo momento à livre circulação de cidadãos do centro e leste da Europa pela UE. Também votou sem sucesso contra a chegada de imigrantes poloneses. A Holanda, por outro lado, se negou à entrada da Bulgária e da Romênia na zona sem fronteiras do Tratado de Schengen. Assim, a resposta do líder extremista aos embaixadores foi rápida e sonora: "Desperdiçam papel. Que guardem a carta onde quiserem", diz sua conta pessoal no Twitter.

O tumulto chegou ao Parlamento Europeu, cujo presidente, Martin Schultz, quer falar o mais cedo possível com o premiê holandês. O Parlamento busca a forma de fechar a caixa postal, e Viviane Reding, comissária de Justiça europeia, pediu uma rejeição frontal "a esta forma de intolerância". Por enquanto, o site contra a discriminação aberto pelas autoridades holandesas na Internet e destinado a qualquer tipo de denúncia já soma 1.500 assinaturas contra Wilders.

O político não se altera. Além disso, sabe que seu correio digital não infringe tecnicamente as leis holandesas e espera reforçar sua popularidade, um tanto danificada pela ascensão dos socialistas radicais, segundo as pesquisas. O que marca a polêmica atual é um ponto de inflexão em sua maneira de atuar. Até agora seu inimigo direto era o islamismo e a imigração vinda de qualquer país que o professasse.

Sua rejeição ao uso do véu feminino, em especial a burca (o véu integral) e o endurecimento das leis de estrangeiros foram suas bandeiras mais visíveis. Também lhe valeram ameaças de morte, viver cercado de guarda-costas e com sua privacidade reduzida. "Algo que não desejo nem ao meu pior inimigo", diz.

Especialista em evitar qualquer rótulo de xenofobia, e seguro de sua imagem de pioneiro em uma Holanda acostumada ao pacto político, Wilders mostrava-se até agora um populista de direita de difícil definição. Defensor da igualdade da mulher, contrário à discriminação dos homossexuais e campeão da liberdade de expressão e da terceira idade, passeava sua bandeira liberal com orgulho. Com sua descrição do estrangeiro (polonês, romeno ou búlgaro) como vizinho que "pode perturbar com seu ruído, sujeira ou amontoamento", será muito mais difícil para ele negar a xenofobia de seu ideário.

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