quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Mark Weisbrot: Brasil-Irã


É vital que países sigam o exemplo do Brasil e se manifestem antes de uma guerra contra o Irã começar

Na semana passada, o ministro brasileiro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, fez uma declaração corajosa e muito importante sobre a ameaça crescente de um ataque militar ao Irã. Ele pediu ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, que desse seu parecer sobre a legalidade de um ataque contra o Irã, como vem sendo ameaçado.

"Às vezes ouvimos a expressão 'todas as opções estão sobre a mesa'", disse. "Mas algumas são contrárias às leis internacionais."

As pessoas que continuam a afirmar que "todas as opções estão sobre a mesa", aludindo ao Irã, incluem várias autoridades dos EUA e de Israel e, o que é mais importante, o próprio presidente Obama.

E todo mundo sabe o que querem dizer quando afirmam que "todas as opções estão sobre a mesa": eles se reservam o "direito" de bombardear o Irã se não conseguirem o que querem por meios não militares, incluindo sanções econômicas.

Mas tal ação seria de fato "contrária à lei", como Patriota sugeriu. Na realidade, é um crime muito grave segundo as leis internacionais e representa uma violação clara da Carta das Nações Unidas (artigo 2).

A simples ameaça de recorrer à força militar contra outro Estado-membro da ONU -o que Obama e o governo israelense já fizeram- já é uma violação da Carta da ONU.

Aqui nos EUA, a mídia -especialmente as maiores emissoras de TV e rádio- vem produzindo propaganda de guerra sobre a "ameaça" vinda do Irã, em um replay virtual do que antecedeu a invasão do Iraque em 2003.

O Congresso, liderado pelo lobby neoconservador e pelo Aipac (lobby pró-Israel), vem fazendo pressão para cortar as soluções diplomáticas.

Uma resolução submetida ao Senado americano no momento incentivaria uma ação militar contra o Irã por simplesmente possuir a "capacidade" de produzir uma arma nuclear -algo que o Brasil, a Argentina, o Japão e outros países com programas pacíficos já possuem.

E tudo isso a despeito do fato de o Irã atender às demandas do Tratado de Não Proliferação Nuclear, incluindo as inspeções exigidas, e de não ter demonstrado nenhuma intenção de violar o tratado.

A visão consensual das 16 agências de inteligência dos EUA, segundo o "New York Times", é que "não há prova concreta de que o Irã decidiu construir arma nuclear".

É vital que os países que estão interessados em manter a paz e um mundo regido por tratados e diplomacia internacionais, em vez da força, se manifestem, como o Brasil fez, antes de uma guerra começar.

A declaração de Patriota é muito importante. Há muito mais que pode ser feito. O Brasil poderia trabalhar com os Brics e com a Unasul para conseguir mais declarações e compromissos. Esses grupos, ou seus países-membros, poderiam anunciar como reagiriam a um país que lançasse um ataque militar não provocado contra o Irã.

Por exemplo, poderiam comprometer-se a retirar seus embaixadores desse país, a romper relações diplomáticas e a rever suas relações comerciais, com a possibilidade de sanções econômicas seletivas.

Para prevenir outra guerra desnecessária e suas atrocidades inevitáveis, o esforço vale a pena.

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