segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Israel quer cortar eletricidade de palestinos em territórios ocupados


Criaças palestinas da Cisjordânia 


Várias pequenas cidades palestinas situadas no território ocupado da Cisjordânia viveram sem eletricidade durante décadas – até recentemente, quando uma fundação israelense que recebe verbas da Europa instalou na região painéis solares e turbinas eólicas. Agora, no entanto, Israel quer remover essas instalações, sob a alegação de que elas se encontram em terras que estão sob administração israelense.

Elad Orian diz que a melhor parte é quanto as luzes se acendem nas tendas, uma a uma. Aqui, nas colinas ao sul de Hebron, o fornecimento de energia elétrica há muito não era confiável. Ou a eletricidade não estava disponível ou ela era muito cara, sendo produzida apenas durante algumas horas por dia por um gerador barulhento e que consumia uma grande quantidade de óleo diesel. Mas essa situação mudou quando Elad Orian e Noam Dotan, dois médicos israelenses que se cansaram de conflitos, surgiram no cenário três anos atrás e instalaram painéis solares e usinas eólicas. Depois disso, equipamentos similares foram instalados em 16 comunidades, e passaram a fornecer energia elétrica a 1.500 palestinos.

As mulheres daqui não são mais obrigadas a fazer manteiga usando a força dos braços; elas podem refrigerar queijo de ovelhas, o produto que lhes proporciona a renda para a sobrevivência; e os filhos delas podem fazer o dever de casa à noite. Agora as famílias podem sentar-se juntas e assistir à televisão – e conectar-se com um mundo que parece estar muito distante da vida delas aqui na borda do Deserto da Judeia. O que ocorreu aqui foi uma revolução pequena e barata. Mas isso é também um bom exemplo de um projeto de auxílio para desenvolvimento que teve sucesso.

Entretanto, esse sucesso poderá em breve pertencer ao passado. Nas últimas semanas Israel vem ameaçando destruir essas instalações, e cinco localidades palestinas já receberam ordens para “interrupção de atividades” - o primeiro passo rumo à demolição. O problema é que as instalações ficam na chamada “Área C”, que cobre 60% da Cisjordânia ocupada e que é controlada por Israel. A permissão dos israelenses é uma exigência para que projetos de construção possam ser implementados – e os israelenses quase nunca concedem tais autorizações aos palestinos.

“Uma mensagem clara”
O resultado disso é que os moradores da Área C convivem com péssimas estradas e falta de eletricidade e água. Cultivar a terra é impossível, e a construção de fábricas é proibida por Israel. Por causa disso, apenas 150 mil palestinos vivem na Área C, um número que contrasta com os 310 mil colonos israelenses da área que contam com abundância de serviços e infraestrutura. O projeto de energia solar ajuda a tornar a vida dos palestinos da Área C um pouco mais suportável. Mas, ao que parece, tornar a vida desses palestinos mais suportável não é algo que Israel deseja.

“As ordens de demolição têm como objetivo enviar uma mensagem clara aos países da União Europeia: “Não interfiram, não invistam na Área C”, afirma o fundador do projeto, Noam Dotan.

Algumas dessas instalações já encontram-se no local há dois anos, o que faz com que seja difícil acreditar que elas só tenham sido percebidas agora por Israel. A decisão israelense se constitui em um aviso principalmente à Alemanha, que forneceu a maior parte das verbas para o projeto, um total de cerca de 600 mil euros (US$ 791.300). A iniciativa foi implementada pela organização de auxílio humanitário Medico International, em cooperação com a Comet-ME, a organização fundada pelos dois israelenses.

Diplomatas europeus em Ramallah e Tel Aviv suspeitam que as ordens de demolição sejam uma reação a um relatório recém-publicado pela União Europeia, em tom incomumente crítico a Israel, sobre a situação na Área C. O relatório afirma: “A janela de oportunidade para uma solução baseada em dois Estados está se fechando rapidamente devido à expansão contínua dos assentamentos israelenses”. A conclusão do documento: “A União Europeia precisa fazer investimentos no desenvolvimento econômico e na melhoria das condições de vida dos palestinos que vivem na Área C”.

Debate político
Há alguns meses Israel designou para demolição um projeto similar, cofinanciado pelo governo espanhol, e isso só não ocorreu até o momento devido a uma maciça pressão diplomática.

Projetos financiados por organizações de auxílio humanitário ou pela União Europeia foram destruídos com frequência por Israel em outras ocasiões. O exemplo mais conhecido disso foi o Aeroporto de Gaza, uma obra financiada pela União Europeia com US$ 38 milhões de euros, e que foi destruída por bombas israelenses pouco após ter sido concluída. Porém, de maneira geral, as demolições anteriores foram motivadas por preocupações com a segurança. Mas o fato de células solares que não representam perigo algum – instalações que são financiadas por países aliados para atender a necessidades humanitárias básicas – estarem correndo o risco de serem destruídas é uma novidade.

Por isso, quando o ministro alemão das Relações Exteriores, Guido Westerwelle, viajou a Israel há duas semanas, ele não falou com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e com o ministro da Defesa, Ehud Barak, somente sobre o processo de paz e o programa nuclear do Irã,mas também sobre turbinas eólicas e painéis solares instalados em locais como Shaab al-Buttum.

Centenas de palestinos vivem nesse vilarejo, e eles são os mais pobres dentre uma população destituída. Esses indivíduos, que formam uma comunidade de pastores, movimentavam-se livremente pela área até Israel ocupar a Cisjordânia em 1967. Desde então, ele tiveram que se fixar em um único local, coletando água da chuva durante o inverno e comprando a água cara que é trazida por um caminhão, por uma estrada de cascalho, no verão. Não há nenhuma estrada decente para essa comunidade palestina, apesar de Shaab al-Buttum estar situada entre dois assentamentos israelenses. Os assentamentos israelenses são ilegais, mas, “miraculosamente”, eles contam com todos os serviços básicos e a infraestrutura dos quais os seus vizinhos palestinos carecem: eletricidade, água encanada e estradas.

No entanto, nos últimos quatro meses, duas turbinas eólicas e 40 painéis solares têm fornecido energia elétrica aos moradores palestinos: algo entre 40 e 60 quilowats-hora por dia. Isso é suficiente apenas para aquecer um metro quadrado de uma casa bem calafetada durante um ano – ou para atender às necessidades de uma vila inteira.

Desde a chegada da eletricidade, a antropóloga israelense Shuli Hartman, 60, mora na vila. Ela desejava descobrir quais são os benefícios proporcionados à população local pela energia elétrica. Hartman observou que as mulheres dispõem agora de mais tempo porque a quantidade de trabalho foi reduzida e elas podem ganhar mais. A antropóloga também percebeu que elas se tornaram mais independentes, usando telefones celulares, um aparelho cujas baterias, até recentemente, elas não tinham como carregar. E ela viu como uma vila na qual todas as famílias tinham que lutar para sobreviver está agora aprendendo a se tornar uma comunidade. Uma moradora idosa disse a Hartman: “Para nós a eletricidade é como água para uma pessoa que caminha pelo deserto”. A vida dela ficou um pouco mais fácil devido à miniusina de geração de energia elétrica.

E, além disso, o projeto aproximou israelenses e palestinos. “Antes desse projeto os palestinos que vivem aqui só conheciam israelenses na forma de colonos e soldados”, afirma Hartman.

“Nós não queríamos apenas fazer manifestações e continuar sendo parte do conflito; nós desejávamos ser parte da solução”, explica Noam Dotan.

Mas ao que parece, Israel não deseja uma solução. A não ser que haja um milagre, as tendas de Shaab al-Buttum voltarão em breve a ficar na escuridão.

Um comentário:

  1. Os judeus estão fazendo com os palestinos o mesmo que Hitler fez com eles. Depois dezem que os iranianos é que são os vilões!!!!!

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