sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Disputa presidencial na França será acirrada


Nicolas Sarkozy


Os eleitores franceses irão às urnas em abril para o primeiro turno de uma eleição presidencial, e diferente da votação próxima na Rússia, o resultado na França ainda é desconhecido. Cresce o medo em algumas partes de que o candidato do Partido Socialista, François Hollande, derrotará o presidente Nicolas Sarkozy, que seu governo conduzirá a França fortemente para a esquerda e que ele minará fatalmente o trabalho que Sarkozy realizou com a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, para restaurar a confiança na zona do euro.

Não tão depressa. Primeiro, Sarkozy tornará esta disputa mais interessante antes que termine. Segundo, uma vitória de Hollande não significaria uma mudança drástica para a orientação da política econômica francesa ou para a gestão da crise na zona do euro.

Não causa surpresa que o adversário lidere com vantagem nas pesquisas. Os níveis de desemprego na França estão estagnados em cerca de 10% –o pior nível em mais de uma década. Em janeiro, a Standard & Poor’s rebaixou o rating de crédito da França. Cerca de 65% dos entrevistados têm uma visão ruim do desempenho de Sarkozy como presidente, a pior avaliação entre qualquer presidente às vésperas de uma eleição desde que Charles de Gaulle deu início à Quinta República da França em 1958.

Mas esta não é a primeira luta de Sarkozy, e podemos esperar que ele realizará uma forte campanha pela reeleição. O fato de ser o presidente reforçará suas chances; quando perguntados sobre quem defenderia de modo mais eficaz os interesses da França no exterior, os eleitores ainda deram a vantagem para Sarkozy. Os resultados das pesquisas mudarão nos próximos dois meses, já que a batalha do presidente por sua vida política atrairá grande cobertura da mídia. Aproximadamente um entre cada cinco eleitores ainda está indeciso e metade daqueles que já têm uma preferência disse que ainda pode mudar de ideia.

Mas o que aconteceria se, como esperado, Hollande vencesse? O sentimento do mercado tem sido negativo, particularmente desde que ele deu início à sua campanha em janeiro, com uma virtual declaração de guerra contra os banqueiros. Aqui, também, o senso comum merece escrutínio.

A dureza de seu tom contra o setor financeiro tem muito a ver com a recente história de fracasso do Partido Socialista. Em 2002, o porta-estandarte socialista, o primeiro-ministro Lionel Jospin, sofreu a humilhação de ser eliminado no primeiro turno, quando os partidos menores na esquerda basicamente o abandonaram, e o ícone carismático da extrema direita, Jean-Marie Le Pen, e sua Frente Nacional avançaram. Jacques Chirac teve então uma grande vitória.

Dez anos depois, Hollande precisava abrir sua campanha com um apelo ao que o ex-candidato presidencial americano, Howard Dean, poderia chamar de ala socialista do Partido Socialista. Mas após mobilizar a esquerda, Hollande viajará no final deste mês para Londres, lar de cerca de 200 mil cidadãos franceses, muitos dos quais trabalhando no setor financeiro. Hollande assegurou ao seu público antecipadamente que, apesar de que mudanças regulatórias precisam ser feitas, suas propostas para o setor bancário não serão “extremas”.

Fazer campanha é uma coisa, mas não há necessidade de esperar até que os votos sejam contados para lembrar que governar é outra bem diferente.

Não é segredo que, sejam quais forem os adjetivos usados para descrever sua abordagem, austeridade faz parte do plano de Hollande. Ele promete reduzir o déficit orçamentário da França para 3% do PIB em 2013 e eliminá-lo até 2017. Sim, ele pretende reverter a idade de aposentadoria de 62 anos para 60 anos, mas apenas para aqueles que trabalharam pelo menos 41 anos, um ajuste que é consistente com as “carreiras longas” previstas durante a reforma da aposentadoria pós-crise da França há dois anos.

Uma vitória de Hollande provavelmente significaria aumento de impostos para as pessoas de maior renda e para os ganhos de capital de modo geral –e novas regulamentações para os banqueiros. Mas ele não poderia e não reinventaria, como alguns temem, o papel do governo na economia da França.

Finalmente, alguns dizem que uma vitória de Hollande minará a batalha para reforçar a confiança na zona do euro. Ele aumentou essas preocupações no final do ano passado, ao prometer reabrir o pacto fiscal europeu endossado por Sarkozy antes do Parlamento francês ratificá-lo. Hollande insiste que o acordo impõe austeridades demais e faz pouco para estimular o crescimento.

Sim, ele tratará desse acordo com cuidado, porque ele sabe muito bem que rejeitá-lo poderia gerar uma turbulência no mercado por toda a Europa e submeter a economia francesa a uma considerável pressão do mercado. Aqui de novo, há bem menos na retórica de campanha do que parece.

O fato de Merkel estar apoiando ativamente a reeleição de Sarkozy –uma decisão extraordinária– não ajudará o relacionamento bilateral mais importante da Europa em caso de vitória de Hollande.

Mas Hollande não fará com que a França exerça um papel fundamentalmente diferente na zona do euro. Um ex-protegido de Jacques Delors, um presidente por três mandatos da Comissão Europeia e supostamente a autoridade política mais pró-Europa na França, Hollande não se tornará o homem que minará fatalmente o euro, o símbolo mais tangível da integração da Europa.

Na verdade, a cooperação franco-alemã se tornou um elemento chave da campanha de Hollande. Ele proporá um novo tratado franco-alemão para aumentar a integração entre os dois países. Ele terá que trabalhar com Merkel para conseguir isso.

“Merkollande” não soaria como “Merkozy”, mas dificilmente sinalizaria o fim da zona do euro.

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