quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Sanções aprovadas pela União Europeia beneficiam Guarda Revolucionária do Irã


A União Europeia proibiu a importação de petróleo do Irã para tentar pressionar o regime a fazer concessões em seu controverso programa nuclear. Mas apesar de a economia iraniana estar sofrendo, Teerã se recusa a ceder. Enquanto isso a Guarda Revolucionária é que está lucrando com as sanções

Membros da "Força Quds", a elite da Guarda Revolucionária

A chamada arma do petróleo faz parte do arsenal de política de poder internacional desde os anos 70. Em 1973, os países exportadores de petróleo no Oriente Médio reduziram a produção diária em uma tentativa de forçar o Ocidente a abandonar seu apoio a Israel durante a Guerra do Yom Kippur. O Irã estava entre os países envolvidos no embargo. Agora, quase quatro décadas depois, o petróleo está novamente sendo usado como arma –com a reversão dos papéis.

Na última segunda-feira (23), os ministros das relações exteriores da União Europeia votaram na proibição da importação de petróleo e produtos petroquímicos do Irã a partir de 1º de julho de 2012. Novos investimentos em companhias petrolíferas iranianas não serão mais permitidos, nem equipamentos e tecnologias necessárias para a indústria petrolífera poderão ser exportados para o Irã. As sanções financeiras também serão reforçadas e grande parte dos ativos do Banco Central Iraniano será congelada. Além disso, o Tesouro americano colocou o Tejarat Bank iraniano em sua lista negra. O banco era "um dos poucos pontos de acesso restantes do Irã ao sistema financeiro internacional", segundo o departamento.

O embargo visa forçar Teerã a abandonar seu programa nuclear. As negociações entre o Irã, de um lado, e o grupo formado pelos Estados Unidos, Reino Unido, França, Alemanha, Rússia e China, do outro, estão suspensas há um ano. O negociador-chefe de Teerã, Saeed Jalili Saeed, tornou o reconhecimento do direito do Irã de enriquecer urânio em uma pré-condição para a retomada das negociações.

Teerã está mais próximo da bomba, apesar das sanções
O Ocidente está tentando forçar o regime iraniano a abandonar seu programa nuclear há anos. Desde 2006, esses esforços incluíram o endurecimento gradual das sanções contra Teerã, impostas pela Organização das Nações Unidas, pelos Estados Unidos e pela União Europeia –até o momento sem sucesso. A cada embargo, os políticos ocidentais proclamam que, desta vez, a economia iraniana realmente sentirá a pressão, mas o único resultado tem sido o regime aparentemente se aproximar cada vez mais de uma bomba atômica. Teerã anunciou há poucos dias que começou a enriquecer urânio a 20%. Todavia, os iranianos ainda negam que estão tentando desenvolver armas nucleares.

E agora a Europa, pela primeira vez, adotou medidas que visam diretamente o setor do petróleo, que é extremamente importante para o Irã. Mas ainda há dúvida sobre se as sanções obterão resultados.

Cerca de 20% das exportações de petróleo do Irã vão para a UE. Logo, a Europa é uma compradora importante –mas não a mais importante– para os iranianos. Cerca de três quartos das exportações de petróleo são enviados para os países ávidos por recursos do leste e sul da Ásia, como China, Japão, Índia e Coreia do Sul. Apesar da pressão dos Estados Unidos e da Europa, esses países até o momento não se mostraram dispostos a aderir às sanções.

De modo semelhante, a Turquia aparentemente vai querer lucrar com a política, em vez de participar: Ancara importa um terço de seu petróleo do Irã, e medidas punitivas contra o banco central do Irã provavelmente aumentarão a importância das instituições financeiras turcas nas transações com os parceiros comerciais iranianos.

Grécia queria adiar as sanções
Até mesmo as sanções adotadas pelos países membros da UE só vão entrar em vigor gradualmente. Oficialmente, isto visa dar aos iranianos a oportunidade de recuar. Mas na verdade, os países em crise do sul da Europa precisam de tempo para procurar novos fornecedores. A Grécia obtém cerca de 20% de seu petróleo do Irã, e a Espanha e a Itália ligeiramente menos. Atenas, em particular, implorou pelo adiamento da proibição até 1º de outubro.

A curto prazo, a expectativa é de que pelos menos alguns países europeus terão mais dificuldade em encontrar alternativas baratas para o petróleo iraniano do que os iranianos para encontrar novos clientes. Apesar do preço do petróleo ter aumentado ligeiramente após o anúncio da decisão pela UE, o efeito das sanções, segundo observadores, já foi computado nos aumentos de preço das últimas semanas.

Não há dúvida de que a economia do Irã já está sofrendo sob as sanções atualmente em vigor. O desemprego e a inflação aumentaram muito nos últimos meses, enquanto a moeda, o rial iraniano, se desvalorizou 40% frente ao dólar americano em um ano. Isso afeta particularmente a classe média iraniana. Ironicamente, é o próprio regime que se beneficia com a política de sanções.


Difícil recuo
As restrições ocidentais ao comércio estão forçando as empresas iranianas a recorrerem a meios ilegais para realizar negócios com outros países, seja na entrega de bens proibidos ao Irã por meio das rotas de contrabando no Golfo Pérsico ou por meio de empresas de fachada no exterior, que facilitam as transações entre as empresas iranianas e ocidentais. A Guarda Revolucionária com múltiplos tentáculos e as empresas que ela controla estão envolvidas na maioria dessas transações. Ela está disposta a fazer vista grossa para o contrabando em troca de pagamento. Além disso, a Guarda Revolucionária que é a força militar e a espinha dorsal econômica do regime, também controla o mercado negro iraniano de bens ocidentais e moeda estrangeira.

O governo iraniano há muito transformou a questão nuclear em um assunto de prestígio nacional. O presidente Mahmoud Ahmadinejad e o líder religioso, o aiatolá Ali Khamenei, já foram tão longe em seu conflito com o Ocidente que, no futuro, qualquer concessão parecerá uma capitulação. Encontrar uma solução para a disputa que permita à liderança iraniana manter as aparências parece quase impossível. Isso vale ainda mais para Ahmadinejad, cuja posição doméstica já está seriamente arranhada e ele mal conta com autoridade para implantar uma possível concessão por parte do Irã. Esse é um motivo para Teerã ter, nas últimas semanas, ameaçado repetidamente bloquear o Estreito de Hormuz, em caso de novas medidas punitivas por parte do Ocidente.

Logo, as novas sanções dificilmente promoverão qualquer avanço na questão nuclear. Apenas quando o Irã eleger um novo presidente em junho de 2013 é que o Ocidente pode torcer por alguma mudança. Mas uma torcida sem muita esperança.

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