quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Premiê turco chama França de "racista" por aprovar lei que condena genocídio armênio


Recep Tayyp Erdogan


O senado francês aprovou um projeto de lei que determina que negar a ocorrência de genocídio – incluindo o massacre de armênios em 1915 – se constitui em crime. A reação turca foi furiosa. O primeiro-ministro Recep Tayyp Erdogan denunciou aquilo que ele classificou de uma atitude “racista e discriminatória” da França em relação à Turquia

O primeiro-ministro ministro turco, Recep Tayyp Erdogan, criticou um polêmico projeto de lei francês, que determina que é crime negar que o massacre de armênios em 1915 foi um ato de genocídio, devido à atitude “racista e discriminatória” em relação à Turquia. O primeiro-ministro também ameaçou implementar sanções não especificadas, “passo a passo, sem recuos”, contra a França, caso a lei seja sancionada.

Embora a Turquia reconheça as mortes de armênios ocorridas em 1915 durante a ruptura do Império Otomano, ela se recusa a aceitar que aquilo se constituiu em genocídio – contrariando dessa forma a opinião da maioria dos historiadores. Mas depois que o senado francês apoiou o projeto na última segunda-feira (23/01), só é necessária a assinatura do presidente Nicolas Sarkozy para que a proposta se transforme em lei.

Erdogan não estava em clima de reconciliação, e anunciou aos políticos do seu governo islâmico conservador: “Isso é, claramente, um massacre da liberdade de expressão. Por ora, porém, a Turquia não tomará nenhuma medida. Nós ainda não perdemos a esperança de que esse erro possa ser corrigido”. Segundo reportagens publicadas na mídia turca, as possíveis sanções poderiam incluir a expulsão do embaixador francês em Ancara e a proibição da entrada de navios de guerra franceses em portos turcos.

O novo projeto de lei faz com que a negação do genocídio seja um crime. O massacre de armênios ocorrido de 1915 a 1917, e que, segundo estimativas, teria provocado a morte de 200 mil a 1,5 milhão de pessoas, é classificado como genocídio na França desde 2001.

A Turquia, como Estado sucessor do Império Otomano, nega categoricamente que tal genocídio tenha ocorrido, questiona o número de armênios que morreram e argumenta que muitos turcos também foram mortos nos episódios de violência ocorridos naquela época. Na terça-feira (24/01), o Ministério das Relações Exteriores turco atacou o projeto de lei, chamando-o de irresponsável e pedindo que ele fosse arquivado a fim de “evitar que este episódio venha a fazer parte da história dos erros políticos, legais e morais da França”.

A Turquia já suspendeu os vínculos militares, econômicos e políticos com Paris e, no mês passado, chamou de volta, por um breve período, o seu embaixador na França quando a câmara dos deputados francesa aprovou o mesmo projeto de lei.

Agora Ancara aumentou a pressão sobre Sarkozy, sem cuja assinatura o projeto não poderá transformar-se em lei, e que enfrentará uma batalha pela reeleição daqui a três meses. Segundo alguns relatos, o estímulo ao projeto de lei, que foi aprovado pelo partido de Sarkozy, o UMP, no parlamento, é apenas uma tentativa por parte do presidente de conquistar os votos dos cerca de 500 mil indivíduos de etnia armênia que vivem na França.

“Ataque total contra a França”

Hackers turcos indignados ameaçaram lançar uma série de ataques pela internet contra a França. Por exemplo, em uma carta ao jornal francês “Libération”, o grupo AyYildiz anunciou que lançaria ataques contra os websites dos principais bancos e instituições franceses, enquanto que a organização de hackers Akincilar advertiu que desfechará um ataque total contra Sarkozy e a França. Antes mesmo da votação, hackers pró-Turquia paralisaram vários websites, incluindo o da política Valérie Boyer, que apresentou o projeto de lei ao parlamento francês em dezembro de 2011.

E não foi apenas na Turquia que o projeto de lei teve uma resposta negativa. No Azerbaijão, autoridades governamentais disseram que a credibilidade da França como mediador na atual disputa com a Armênia pela região de Nagorno-Karabakh ficou irreversivelmente danificada devido à aprovação do projeto de lei. Segundo a agência de notícias alemã “DPA”, o portal da Internet do Azerbaijão aze.az teria anunciado que o Ministério das Relações Exteriores daquele país também criticou a “medida unilateral” tomada pela França, afirmando que ela é contrária à democracia, aos direitos humanos e à liberdade de expressão.

O projeto de lei também provocou polêmica na França. “Como ministro das Relações Exteriores, eu creio que essa iniciativa foi meio inoportuna. Mas o parlamento decidiu assim. O que eu gostaria de fazer hoje seria pedir aos nossos amigos turcos que mantivessem a compostura”, declarou o ministro das Relações Exteriores Alain Juppé à rede de televisão Canal Plus. “Após este episódio, que foi um pouco excessivo, eu tenho que dizer que estou convencido de que nós retornaremos às relações construtivas. Eu estendo a minha mão aos turcos e espero que algum dia eles a apertem”.

Na Armênia, no entanto, a aprovação do projeto de lei foi motivo de satisfação. Falando na capital do país, Ierevan, o ministro das Relações Exteriores armênio, Eduard Nalbandyan, afirmou: “Este dia ficará escrito em letras de ouro não só na história da amizade entre os povos armênio e francês, mas também nos anais da história da proteção aos direitos humanos”.

O senado francês aprovou o projeto de lei na noite da segunda-feira por 127 votos a 86. O projeto já havia sido aprovado pela assembleia nacional, a chamada casa baixa do parlamento, em dezembro do ano passado. Tendo sido aprovado por ambas as casas legislativas sem alterações, o projeto pode ser considerado como tendo sido aceito pelo parlamento e pode entrar em vigor. Ele prevê a pena de um ano de prisão e multa de até 45 mil euros (US$ 58.500) pelo crime de negação de genocídio.

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