sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Presidente militariza polícia de El Salvador, um dos países mais violentos da América Latina


Agente da Polícia Nacional Civil de El Salvador

O presidente salvadorenho, Mauricio Funes, o primeiro mandatário de esquerda desde o final da guerra civil salvadorenha (1980-1992) e militante da Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional (FMLN), surgida da guerrilha, militarizou o sistema de segurança pública. A decisão contradiz a Constituição e os acordos de paz de Chapultepec. Diversos textos indicam que a segurança pública é tarefa de civis.

Funes conseguiu em poucos meses o que quatro governos conservadores não puderam em 20 anos. Na segunda-feira nomeou o até então vice-ministro da Defesa Nacional, general Francisco Salinas, como diretor-geral da Polícia Nacional Civil (PNC). O presidente já havia escolhido o general David Munguía Payes como ministro da Justiça e Segurança.

O mandatário justifica suas decisões baseando-se em que tanto Munguía como Salinas são militares aposentados (e portanto civis) e em que a situação do país exige "resultados" contra a criminalidade, tarefa em que acredita que os militares serão mais eficientes. O pequeno país centro-americano, com menos de 6 milhões de habitantes, tem um dos índices de violência mais altos do continente. No ano passado morreram assassinadas mais de 4.300 pessoas. Nos primeiros 22 dias deste ano foram registrados 297 homicídios: somente na última segunda-feira morreram oito pessoas.

Tensões internas

As mudanças também despertaram tensões no interior da PNC. Um terço de seus comandantes pertence à FMLN e desconfia dos militares que chegariam ao organismo instituído graças aos acordos de paz. Desde novembro vários altos comandantes foram destituídos ou se demitiram. O analista em segurança pública e assessor da FMLN na Assembleia Legislativa Óscar Fernández afirma que a decisão presidencial "faz parte de uma estratégia mais ampla dirigida pelo governo dos EUA. Esta se concentra em ampliar a iniciativa Mérida, aplicada no México desde junho de 2008 com resultados não muito positivos, pois a violência e a criminalidade nesse país aumentaram desde então. [...] Os EUA querem replicar essa experiência no chamado Triângulo Norte da América Central, isto é, Guatemala, Honduras e El Salvador". Na opinião de Fernández, o governo dos EUA não só busca atacar o narcotráfico, como também "controlar a região" diante de um "eventual avanço de posições esquerdistas na região".

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