sexta-feira, 20 de janeiro de 2012
Paris teme ataques ao Irã durante o verão; a diplomacia tenta prevenir uma ação militar israelense
Num momento em que há perigos se acumulando na região do Golfo, onde os Estados Unidos e o Irã parecem estar à beira de um confronto, a França iniciou um esforço diplomático cujo objetivo se resume da seguinte forma, segundo o círculo de Nicolas Sarkozy: “obrigar o Irã a fazer uma escolha binária: o futuro do regime ou a bomba nuclear”.
Paris acredita que uma campanha de sanções internacionais que paralisem a economia iraniana se faz urgente, pois é grande o risco de que Israel comece a realizar ataques aéreos contra instalações nucleares iranianas “durante o verão de 2012”.
Há muito tempo que o governo francês acredita ter um papel particular de vigilância nessa crise que coloca em xeque a paz no Oriente Médio, bem como a ordem nuclear mundial. Surpreendentemente, a recente dramatização da situação deu lugar a novas tensões silenciosas entre a equipe de Sarkozy e a de Barack Obama.
Nada disso aparece publicamente, e os dois dirigentes demonstravam uma boa relação durante uma coletiva para a TV, paralelamente ao G20 de Cannes, em novembro de 2011. Mas por trás dessa fachada, o governo francês acusa a administração Obama de ter sido hesitante na implantação de sanções radicais contra o Irã, ao passo que, segundo eles, foi iniciada uma contagem regressiva.
“O Congresso impôs a Obama as medidas que ele assinou em 31 de dezembro”, a respeito de uma asfixia progressiva das transações internacionais com o Banco Central iraniano, dizem em Paris. “Ele fez isso a contragosto”, ressalta um oficial, lembrando que o Senado americano havia votado com “100 votos contra zero” para a imposição de uma política mais rígida em relação ao Irã, ao passo que a Casa Branca queria diluir ou adiar certas medidas.
Um diplomata francês de alto escalão ressalta que foi difícil para Obama considerar medidas contra o petróleo iraniano, pois o presidente americano seria prisioneiro de considerações eleitoralistas: uma disparada no preço do óleo bruto afetaria negativamente sua campanha de reeleição.
Posto sob pressão do Partido Republicano, cujos candidatos lembram continuamente o perigo iraniano, Barack Obama teria dificuldades em reconhecer aquilo que em Paris é visto como “o fracasso de sua política da mão estendida” a Teerã. Uma política que havia suscitado fortes ressalvas, do lado francês, sobretudo a respeito de uma oferta de troca de urânio enriquecido feita, em vão, no final de 2009.
Ainda hoje, certos oficiais franceses desconfiam da propensão de parte da administração americana em buscar um acordo “precário” com Teerã. É por isso que Paris insiste, dentro do grupo das grandes potências que estão tratando dessa crise, para que a exigência da suspensão do enriquecimento de urânio, inscrita nas resoluções da ONU desde 2006, seja constantemente lembrada.
Enquanto Washington hesitava em atacar o setor das exportações iranianas de petróleo, o palácio do Eliseu divulgou, no dia 21 de novembro de 2011, uma carta de Sarkozy a outros dirigentes ocidentais, pedindo por medidas mais decisivas: interrupção da compra de petróleo iraniano e congelamento dos bens do Banco Central. São essas medidas – em particular o embargo do petróleo – que a França acredita ter conseguido impor à União Europeia, que deverá anunciar decisões nesse sentido no dia 23 de janeiro.
A França, por seu ativismo a favor de sanções de um novo registro, quer fazer parte de um triângulo diplomático com Washington e Israel, na esperança de ocupar um papel central. Assim, o governo francês assumiu a mensagem israelense dentro da Europa e junto à equipe de Obama, para a instauração de um embargo petroleiro. E, além disso, apoiando-se em contatos dentro do Congresso americano, manifestamente visto em Paris como um aliado, bem como o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu.
Mas nem por isso a França endossa a linha dos “falcões” do Likud, afirma Paris, pois ela continua a interpretar que um cenário militar contra o Irã seria uma “catástrofe”, como disse Sarkozy em agosto de 2007.
Ataques aéreos teriam por efeito “unir os iranianos atrás do [Líder] Khamenei, unir todos os xiitas atrás do Irã, e eles só retardariam o programa nuclear iraniano, sem acabar com ele definitivamente”, diz um oficial, categoricamente. E é exatamente para “buscar uma alternativa àquilo que seria uma grande besteira israelense” que a França tem empregado tantos esforços a favor das sanções.
Estas visam convencer o Irã de que seria melhor suspender – antes que seja tarde demais – seu programa nuclear, em vez de se sujeitar a medidas que podem provocar um colapso econômico do país, colocando assim o regime em risco. É premente que essa estratégia funcione, pois o ano de 2012 é “crucial”. “Estamos convencidos de que falta mais ou menos um ano para a bomba” iraniana e de que “os israelenses não esperarão um teste nuclear iraniano para resolver o problema”, comenta uma autoridade francesa. Tal prazo corresponde ao mencionado pelo ministro israelense da Defesa, Ehud Barak.
Segundo um diplomata francês de alto escalão, “se os israelenses quiserem ‘atacar’ antes que se chegue a um estágio irreversível, o melhor momento é antes das eleições presidenciais americanas”. Isso porque, em plena campanha eleitoral, Barack Obama “estaria sujeito a uma inevitável pressão política para não deixar Israel sozinho diante da tentação de realizar um ataque militar”. “Se Israel atacar”, observa essa fonte, “será antes do dia 6 de novembro”. E, mais especificamente: “O momento mais perigoso será o verão de 2012”.
Nicolas Sarkozy é “o presidente mais engajado do mundo”, na questão iraniana, afirmam seus aliados. A escalada das tensões regionais, bem como o avanço nos trabalhos científicos iranianos, descrito no último relatório dos inspetores internacionais, favorecem uma nova mobilização. Em Paris, há quem preveja que o chefe do Estado explorará esse tema em sua campanha eleitoral, para valorizar sua firmeza e sua constância frente a uma crise de proliferação que agora comporta grandes riscos de uma derrapagem militar.
Estão usando Israel para fazer o serviço sujo, como se a França não tivesse nada a ver.
ResponderExcluirEsses Europeus acham que o mundo inteiro é burro..