sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Em viagem, chineses buscam preservar abastecimento crucial de energia vinda do Golfo


Em viagem por três países árabes da região, o primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, justifica relações “normais” com o Irã

O primeiro-ministro chinês Wen Jiabao durante entrevista coletiva no encerramento de sessão legislativa, Congresso Nacional do Povo, em Pequim

O endurecimento dos ocidentais na questão iraniana e as ameaças de fechamento do Estreito de Ormuz por Teerã, no início de janeiro, deram uma dimensão particular à viagem de seis dias que o primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, acaba de efetuar pelos países do Golfo. Ao mesmo tempo, os americanos intensificaram seus esforços para levar os compradores asiáticos de petróleo iraniano, entre eles a China, a diversificarem suas formas de abastecimento a fim de pressionar o regime de Ahmadinejad.

Em Doha, capital do Qatar, onde ele chegou na quarta-feira (18), última etapa de uma viagem que também incluiu a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos, Wen manifestou seu desejo de que o Estreito de Ormuz permaneça aberto, uma vez que Pequim se opõe a “qualquer ato extremista” ao longo dessa via marítima estratégica, segundo a agência oficial de notícias Xinhua . Ao mesmo tempo em que reiterava a importância de se resolver a questão nuclear iraniana de forma pacífica, ele disse que a China manteria atividades comerciais “normais” e “justificadas” com o Irã, e que estas deviam ser “protegidas”. Terceiro maior fornecedor da China, atrás de Angola e da Arábia Saudita, o Irã fornece 10% do petróleo chinês.
A questão iraniana chegou a Pequim logo antes da partida de Wen Jiabao: este último recebeu, no dia 11 de janeiro, a visita de Timothy Geithner, secretário de Estado americano do Tesouro, como parte de uma nova ofensiva americana para incentivar a China a “cooperar” nas sanções contra Teerã, uma vez que a China era contra.

No dia seguinte à visita de Geithner, Zhuhai Zhenrong, importante atacadista chinesa de produtos refinados de petróleo, sofreu o golpe das sanções americanas, por causa de seus contratos com Teerã. Uma punição simbólica – Zhuhai Zhenrong tem poucos laços comerciais com os Estados Unidos –, que no entanto vale como alerta para as quatro grandes petroleiras chinesas. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores lamentou uma decisão “não razoável” dos americanos, “não conforme ao espírito e à letra” das resoluções do Conselho de Segurança da ONU.

Se a viagem de Wen pelo Golfo parece atender à vontade americana de ver Pequim pressionando indiretamente o Irã, ela faz parte sobretudo de uma estratégia mais ampla de diversificação de seus abastecimentos pela segunda maior economia mundial, mas também de pesquisa de mercados alternativos para seus produtos.

Todavia, embora para Pequim as parcerias econômicas mais promissoras pareçam superar os danos colaterais que podem ser provocados por suas ligações com aliados como o Irã ou a Coreia do Norte, a China não sacrificará seus próprios interesses. “É fato que a China não quer dar a impressão de estar se alinhando com os americanos quanto à questão das sanções, por diferentes razões. Mas é preciso ver que os chineses detestam, acima de tudo, a desordem e a instabilidade”, afirma um diplomata ocidental em Pequim.

Para Jin Canrong, vice-diretor do departamento de Estudos Internacionais da Universidade do Povo da China em Pequim, “a situação no Irã é incerta demais”. “A China é contra o uso da força, mas ela tem pouca influência, então no final prevalecem seus interesses, que são garantir seu abastecimento”, ele diz.

Pequim também está procurando consolidar suas relações com os países do Golfo, onde a China é vista como uma parceira fresca, sem bagagem colonial, mesmo que a forma como ela trata suas próprias minorias muçulmanas possa causar incômodo. A Arábia Saudita é o pivô dessa estratégia, desde que Hu Jintao recebeu, durante sua visita oficial a Riad em 2009, uma garantia de abastecimento “em quaisquer circunstâncias”, segundo um acordo de cavalheiros entre a saudita Aramco e a chinesa Sinopec. Os Emirados Árabes Unidos (EAU) e o Qatar, que pela primeira vez recebeu um chefe de governo chinês, devem passar a ter um papel maior: assim, a visita de Wen levou ao estabelecimento de um acordo de parceria estratégica entre a China e os EAU.

Wen pediu para que sejam aceleradas as negociações por um acordo de livre-comércio com os países do conselho de Cooperação do Golfo. Um primeiro acordo de swap (troca de divisas), de 35 bilhões de yuans (R$ 9,87 bilhões), foi assinado entre Pequim e os Emirados – a fim de estabelecer parte das trocas em moeda nacional.

Em Dubai, onde vivem 200 mil chineses, Wen comemorou na terça-feira a “abertura de uma nova rota da seda, um caminho de cooperação extensiva entre a China e os povos árabes, um caminho de confiança política mútua, de credibilidade comercial, de solidariedade e de assistência mútua”.

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