terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Palestina é ou não um Estado?


Bandeira da Palestina é
hasteada pela primeira vez na sede
da Unesco

Os norte-americanos se acostumaram às concessões quadrieniais que afligem aqueles que concorrem à presidência. E nenhuma concessão é tão efusiva e excessiva quanto o apoio perene expresso em relação a qualquer coisa que Israel possa querer ou fazer. Isso é especialmente verdadeiro entre republicanos que esperam conquistar o apoio judeu, que tradicionalmente inclina-se para o Partido Democrata.

A cada quatro anos ouvimos candidatos presidenciais dizer que a primeira coisa que farão no Salão Oaval é mudar a Embaixada dos EUA de Tel Aviv para Jerusalém. Mas quando qualquer um desses sionistas oportunistas de fato chega à Casa Branca, eles aderem à antiga fórmula de que o status de Jerusalém deve ser negociado entre as partes.

Mas quando o possível candidato à presidência Newt Gingrich disse recentemente que os palestinos eram "um povo inventado", o ex-porta-voz da Câmara fez algo inovador. Indo além de qualquer posição oficial do governo de Israel, Gingrich insinuou que os palestinos não têm direito a um país próprio. Até Benjamin Netanyahu, que criou obstáculos intermináveis para impedir a criação de um estado palestino, já declarou ser a favor dela.

O que é interessante é o quanto o pensamento de Gingrich é antigo. Orgulhando-se de ter sido professor de história, Gingrich ancora seu argumento dizendo: "lembre-se, não havia uma Palestina enquanto estado. Ela era parte do Império Otomano. E acho que temos um povo palestino inventado, que na verdade é composto por árabes que historicamente faziam parte da comunidade árabe. E eles tiveram uma chance para ir para muitos lugares."

Por esse padrão, os iraquianos, jordanianos e libaneses também são povos inventados, e estabeleceram nações próprias só depois da separação do império Otomano, e como resultado do colonialismo europeu.

Gingrich tem razão que nunca existiu um estado chamado Palestina. O termo "Palestina", na época otomana, incluía o que hoje é Israel, a Cisjordânia e Gaza, bem como uma parte do Líbano. O "Mandato Palestino" da Inglaterra incluía o que hoje é a Jordânia, também, até que os britânicos desenharam uma linha no Rio Jordão e chamaram seu território ao leste de Transjordânia – a Jordânia de hoje.

Enquanto a Declaração de Balfour de 1917, que levou o nome do secretário de exterior britânico Arthur Balfour, prometia uma terra judia na Palestina, desde que ela não "prejudicasse os direitos civis e religiosos das comunidades existentes não judias", ninguém nunca consultou os árabes da Palestina. O primeiro-ministro Lloyd George falou sobre ela com líderes árabes que lutavam ao lado da Inglaterra. Mas ele disse que não poderia entrar em contato com os árabes palestinos, uma vez que eles estavam lutando contra a Inglaterra - presumivelmente por participarem do Exército Otomano da época, ou por morarem em território controlado pelos otomanos.

Mais tarde, judeus palestinos que fizeram parte do exército britânico na 2ª Guerra Mundial escreveram "Palestina" em seus uniformes.

Um antigo argumento sionista costumava dizer que os judeus da palestina eram civilizados e modernos, enquanto os árabes eram mais primitivos e não tinham as qualificações para ter um estado. Lembro de uma revista Life de 1946 que dizia: “O árabe palestino é separado do judeu palestino não só pela religião mas por uma diferença de séculos. A maioria dos judeus emigrou para a Palestina de países industriais modernos. Os árabes ainda estão tentando sair do medievalismo”. O pecado original dos árabes foi não aceitar a divisão da Palestina da ONU, como os judeus fizeram com David Ben-Gurion.

De fato, depois que Israel tomou a Cisjordânia e Gaza em 1967 houve israelitas que disseram que a Cisjordânia nunca pertenceu legalmente à Jordânia, tendo sido capturada para desafiar resoluções da ONU sobre como a Palestina deveria ser dividida entre árabes e judeus. Assim, os territórios ocupados pertenciam tanto a Israel quanto a qualquer um. Lembro de Golda Meir me dizendo que os palestinos eram apenas árabes palestinos, não um povo separado com direitos. E havia outros que pensavam que os árabes palestinos deveriam sair para outros países árabes, como diz Gingrich. Seguidores de Ariel Sharon costumavam dizer que a Jordânia é a Palestina.

Mas os tempos mudaram, e as atitudes também – embora, aparentemente, não para Newt Gingrich. Sempre me impressionou como o nacionalismo palestino cresceu como uma imagem especular do nacionalismo israelense. Os palestinos anseiam, como Menachem Begin escreveu uma vez sobre os judeus, por ser um “povo livre... em seu próprio país”.

Os palestinos se tornaram um povo histórico, e acredito que a maioria dos israelenses aceita isso, e ficariam felizes com uma solução de dois estados se sua segurança puder ser garantida.

Gingrich pode se qualificar como um homem para o passado. Mas para o futuro? Ou mesmo para o presente?

Um comentário:

  1. Pessimo artigo. Além de repetir o velho mantra do controle sionista da política americana, o texto ainda mostra que o autor pouco ou nada conhece da história do oriente médio. Para aqueles de nós que falam árabe e não são completamente ignorantes sobre o assunto, é facil afirmar que os árabes ainda são os maiores defensores do "a Palestina é a Jordania", e que ambas são a Síria. Até Abu Mazen disse isso há poucos meses (em árabe):
    http://www.alrai.com/article/597726.html

    Mas pra quem não fala árabe e não sabe história, recomendo este blog em português (que usa historiadores árabes e fontes muçulmanas para explicar a história da região e do conflito):
    http://orientemedioemfotos.blogspot.com/

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