quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Colombianos se mobilizam para exigir dissolução das Farc


Nos últimos meses, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) sofreram contundentes derrotas militares e nos próximos dias certamente recebem outro golpe político. Milhares de pessoas saíram às ruas da Colômbia na última terça-feira (6) para exigir sua imediata dissolução. A mobilização civil ocorreu em repúdio ao assassinato de quatro policiais e militares indefesos, sequestrados há mais de uma década. A guerrilha disparou contra eles a sangue-frio ao ver-se descoberta por uma unidade militar.

A rejeição às Farc se estende por todo o país. As manifestações foram realizadas em cidades dos 32 departamentos colombianos. Os organizadores esperam uma resposta maciça. A última jornada de repulsa foi em 4 de fevereiro de 2008, quando, segundo estimativas diversas, saíram à rua cerca de 10 milhões de pessoas, que exigiram a libertação imediata dos sequestrados, cujo símbolo então era Ingrid Betancourt. A iniciativa foi lançada por organizações civis e ganhou força através das redes sociais.

"O país inteiro rejeita as Farc, rejeita seus métodos terroristas e sua persistência na violência, por isso marcharmos todos, como um só corpo, uma só nação, para manifestar essa rejeição", declarou o presidente da República, Juan Manuel Santos.

Mas que impacto terá essa marcha na guerrilha? Historicamente, as Farc dividem todos os estamentos em dois lados: os que são a favor e os que não são. A se julgar pelas reações do Secretariado, seu órgão diretor, em mobilizações anteriores, é provável que digam que estas obedeceram a "uma manipulação da oligarquia". Uma resposta tão simples encerra a complexidade de sua tragédia: um isolamento quase total e sua incapacidade para sintonizar com o resto do país. De fato, e muito ao contrário dos movimentos insurgentes que floresceram na América Latina entre os anos 1960 e 80, não há um só intelectual de esquerda ou de centro que compartilhe seus métodos.

A única ponte que têm é a ex-senadora liberal Piedad Córdoba, uma dirigente política muito questionada que nas últimas horas fez uma declaração disparatada, no País Basco: insinuou que os quatro uniformizados podem ter-se suicidado ou sido assassinados pelo próprio exército para colocar a culpa nas Farc.

A insólita declaração de Córdoba contradiz as próprias Farc, que anteriormente haviam aceitado nas entrelinhas a autoria do massacre e as conclusões forenses oficiais. "Os quatro uniformizados morreram por disparos de armas de fogo que penetraram pelas costas, e três deles receberam impactos na cabeça feitos a menos de 2 metros de distância", diz o relatório do Instituto de Medicina Legal que efetuou a autópsia nos três agentes e um soldado. Trata-se do coronel Édgar Yesid Duarte, o major Elkin Hernández e o intendente Álvaro Moreno, da polícia; e do sargento do exército José Libio Martínez, o mais antigo refém da guerrilha, sequestrado em 21 de dezembro de 1997.

Do múltiplo assassinato salvou-se milagrosamente o sargento de polícia e Luis Alberto Erazo, que, ao ver que os guerrilheiros começavam a disparar contra os prisioneiros, fugiu apavorado. Contou que estes então lhe atiraram granadas, cujos estilhaços causaram ferimentos em seu rosto e corpo.

A mobilização de hoje é o epílogo de dias frenéticos que começaram em 4 de novembro passado, com a morte em combate do número 1 das Farc, Alfonso Cano; a eleição de seu sucessor, Timochenko, e sua primeira declaração, na qual deixa entrever que intensificarão suas ações militares; o assassinato dos quatro reféns, e as declarações de Córdoba. Santos afirmou que o que ela disse lhe produz "coragem, no sentido espanhol, fúria e lástima", enquanto nas redes sociais e nos programas de rádio a reação dos cidadãos foi de enorme desgosto.

Muitos cidadãos tomaram as declarações de Córdoba como um estímulo para sair em protesto. Isto aprofunda ainda mais o isolamento de uma guerrilha que cada vez se interna mais na selva e que paulatinamente foi perdendo todo o contato com um país que abriga em suas cidades 74% da população.

As Farc e o ELN, uma guerrilha minoritária e de origem castrista, são os movimentos insurgentes que existem hoje no continente. Entre as duas forças somam cerca de 10 mil combatentes.

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