quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Síria fica isolada no mundo árabe

Sírio bate com o sapato em cartaz com a imagem do presidente da Síria, Bashar al-Assad, durante protesto na praça Taksim, em Istanbul, na Turquia
O regime sírio ficou isolado no mundo árabe. A Síria foi expulsa temporariamente da Liga Árabe no último sábado (12), em um gesto de repulsa pela brutalidade com que o presidente Bachar el Assad reprime a oposição. O rei Abdallah da Jordânia foi mais longe na última segunda-feira (14): transformou-se no primeiro dirigente regional a pedir a demissão de El Assad. "Se Bachar tivesse algum interesse por seu próprio país deveria deixar o cargo", disse Abdallah à BBC, e fazer o possível para que "começasse uma nova fase na vida política síria".

A bofetada diplomática de seu vizinho chegou a Damasco no mesmo dia em que a oposição denunciava a morte de 40 ativistas contrários a El Assad na localidade de Khirbet Ghazaleh, há apenas 20 quilômetros da fronteira com a Jordânia.

A expulsão da Liga Árabe foi recebida em Damasco com gestos de desafio. Segundo o governo sírio, a decisão carece de validade porque foi aprovada por 18 dos 22 países membros, e não por unanimidade. Mas o castigo imposto pelos vizinhos deve ter doído no regime, já que de maneira quase imediata grupos de manifestantes fiéis a El Assad, armados com pedras e paus, tentaram assaltar embaixadas árabes em Damasco, sem que a polícia síria fizesse algo para impedir.

A Liga Árabe voltará a se reunir nesta quarta-feira (16) para continuar debatendo a crise síria. Há possibilidade de sanções econômicas, embora a exclusão da organização pudesse acabar provocando, por vias indiretas, um problema quase insuperável para El Assad e a elite da minoria religiosa alauíta que domina a Síria.

Até agora, China e Rússia bloquearam qualquer iniciativa da ONU contra a Síria, argumentando sua vontade de manter boas relações com todos os países árabes. China e Rússia fazem bons negócios com os sírios: vendem armamento, compram o petróleo que não pode ser exportado para a UE devido às sanções comerciais e obtêm contratos. Mas a Síria é um cliente pequeno, e tanto Moscou quanto Pequim poderiam deixar de se interessar por ela se isso representasse algum tipo de atrito com os demais países da região.

Catar e Arábia Saudita lideram a pressão árabe contra a Síria. O fato de que duas potências econômicas sunitas sejam as mais críticas ao regime sírio, dominado pela minoria alauíta (uma seita do xiismo que constitui o sinal de identidade do Irã), permite que Bachar El Assad denuncie uma suposta conspiração religiosa, à qual acrescenta outra conspiração dirigida, segundo ele, por Israel e EUA, que ontem comemoraram o crescente isolamento sírio. Em uma sociedade como a síria, muito zelosa de sua soberania nacional, a tese de que a revolta não passa de um instrumento de potências estrangeiras continua tendo uma repercussão importante.

A UE também endureceu na segunda-feira suas sanções contra a Síria, adicionando 18 nomes à lista de autoridades governamentais e militares que estão proibidas de viajar e ter fundos bancários fora do país. O ministro francês das Relações Exteriores, Alain Juppé, pediu que a Rússia e a China retirem a ameaça de veto e permitam que o Conselho de Segurança da ONU imponha sanções econômicas.

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