sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Rússia eleva tom do alerta sobre plano americano de escudo antimísseis


Devido ao impasse nas negociações sobre o escudo anti-míssies americanos, Rússia pode acelerar a produção de mísseis “indefensáveis”

A Rússia posicionará seus próprios mísseis e poderia abandonar o tratado Novo Start para redução de armas nucleares se os Estados Unidos prosseguirem com seus planos para um sistema antimísseis na Europa, alertou o presidente Dmitri A. Medvedev na última quarta-feira (23). "Eu ordenei às forças armadas que desenvolvam medidas para neutralização dos dados do escudo antimísseis e sistemas de controle", disse Medvedev.

Ele disse que os novos mísseis balísticos estratégicos russos "serão equipados com sistemas avançados de penetração em escudos antimísseis e novas ogivas altamente eficazes", além de reiterar o alerta da Rússia de que posicionaria mísseis táticos no enclave russo de Kaliningrado, que faz fronteira com a Polônia.

Mas, foram os comentários de Medvedev sobre o tratado Novo Start, que entrou em vigor neste ano, que sugeriram o agravamento do tom dos alertas feitos por Moscou nos últimos dias sobre os planos para um sistema de defesa antimísseis baseado na Europa.

"Em caso de um desenvolvimento desfavorável da situação, a Rússia se reserva o direito de suspender passos adicionais no campo de desarmamento e controle de armas", disse Medvedev em um discurso televisionado de sua residência, nos arredores de Moscou. "Diante do elo intrínseco entre armas estratégicas de ataque e defesa, as condições para nossa saída do tratado Novo Start também poderiam aumentar."

Várias vezes em seu discurso, Medvedev reiterou seu pedido para negociações adicionais entre russos e americanos, mas essas negociações dificilmente mudarão as posições mantidas fortemente por cada lado.

A questão envolve um sistema baseado na Europa que está sendo desenvolvido pelos Estados Unidos, que dizem que visa a defesa contra um potencial ataque de mísseis pelo Irã. Os Estados Unidos chegaram a acordos para instalação de 24 interceptadores de mísseis na Romênia, assim como um sistema sofisticado de radar na Turquia.

A Rússia acredita que o sistema poderia ser usado contra seus mísseis balísticos intercontinentais e exigiu uma garantia por escrito de que esse não seria o caso. Os Estados Unidos disseram que não aceitam nenhuma restrição aos seus esforços de defesa antimísseis.

Medvedev levantou a questão com o presidente Barack Obama neste mês, no encontro da Cooperação Econômica da Ásia-Pacífico, no Havaí. Após essa conversa frente a frente, disse Medvedev, "nossas posições continuam divergentes".

Desde então, ele e outras autoridades russas têm feito declarações constantes alertando sobre as consequências de um fracasso dos dois lados chegarem a algum acordo.

As autoridades americanas insistem que o sistema antimísseis baseado na Europa visa tratar da ameaça do Irã --uma posição reiterada pela Casa Branca e pelo Pentágono após os comentários televisionados de Medvedev na quarta-feira.

"Em múltiplos canais, nós explicamos às autoridades russas que os sistemas antimísseis com instalação planejada na Europa não ameaçam e nem podem ameaçar a dissuasão estratégica da Rússia", disse Tommy Vietor, um porta-voz do Conselho de Segurança Nacional. "A implantação do tratado Novo Start prossegue bem e não vemos base para ameaças de abandoná-lo", ele disse. "Nós continuamos acreditando que a cooperação com a Rússia na defesa antimísseis pode aumentar a segurança dos Estados Unidos, de nossos aliados na Europa e da Rússia, e continuaremos trabalhando com a Rússia na definição dos parâmetros de uma possível cooperação."

Obama ordenou uma grande mudança nos planos do escudo antimísseis que herdou de seu antecessor, George W. Bush, optando por aproximar o sistema do Irã e construí-lo mais rapidamente. Bush era favorável ao posicionamento dos mísseis na Polônia e do sistema de radar na República Tcheca.

Em seus comentários, Medvedev disse que ainda há espaço para negociação. Mas ele acusou os Estados Unidos e a Otan de não se mostrarem dispostos a considerar o ponto de vista da Rússia.

"Eles não levam em consideração, pelo menos até o momento, nossas preocupações com a arquitetura do sistema de defesa antimísseis europeu", ele disse. "Eles estão dizendo: ‘Isto não é contra vocês, não se preocupem’. Eles estão tentando nos acalmar."

Mas em uma referência clara ao Congresso americano, Medvedev disse que há motivos para não confiar nas garantias do governo Obama.

"Os legisladores de alguns países declaram abertamente: ‘Isto é contra vocês’", ele disse.

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