segunda-feira, 21 de novembro de 2011

"Estamos preparados para tudo", diz ministro do Irã

Em entrevista à Spiegel, o ministro de Relações Exteriores iraniano Ali Akbar Salehi, 62, disse que as acusações de que o Irã está construindo uma bomba nuclear são propaganda ocidental, e acusou os inimigos de Teerã de realizarem uma guerra secreta contra o país.

Ali Akbar Salehi, chefe do programa Nuclear do Irã
Spiegel: Qualquer um que leia o último relatório da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) não pode deixar de se perguntar quanto tempo levará para que o Irã conclua sua primeira bomba nuclear.
Salehi: Nosso líder revolucionário Aiatolá Ali Khamanei decretou uma fatwa, uma norma de acordo com a lei religiosa, descrevendo as armas nucleares como algo não islâmico. Elas são "haram", proibidas, o que significa que essas armas de destruição em massa não têm nenhum papel em nossa estratégia de defesa. Esta é a verdade. Todo o resto é propaganda.

Spiegel: As provas que indicam a existência de um programa nuclear secreto são impressionantes. O relatório da AIEA inclui um apêndice de 12 páginas que mostra provas substanciais que tornam impossível tirar qualquer outra conclusão que não esta: o Irã quer a bomba.
Salehi: Esta alegação é injusta e injustificável. O relatório parece interpretar muitas coisas, o que é perigoso. A AIEA arrisca sua credibilidade fazendo esse tipo de interpretação.

Spiegel: O diretor geral da AIEA, Yukiya Amano, enfatiza no relatório que tem "preocupações sérias em relação às possíveis dimensões militares do programa nuclear do Irã."
Salehi: A AIEA está agindo sob pressão de certos países.

Spiegel: Você quer dizer Israel e seu aliado, os Estados Unidos?
Salehi: Estamos preparados para tudo. Mas não temos medo da discussão na AIEA em relação a este documento. Amano está enfrentando tempos difíceis. Nós responsabilizaremos ele e a AIEA por suas conclusões.

Spiegel: O relatório diz que as informações nele contidas foram retiradas de diversas fontes independentes, inclusive provas fornecidas por mais de dez estados-membro, bem como informações da própria AIEA.
Salehi: Esses fatos não são nada novos. O predecessor de Amano, Mohamed ElBaradei, também conhecia os fatos básicos. Nós já havíamos respondido numa declaração de 117 páginas, mas ElBaradei não tirou as mesmas conclusões que Amano agora. A AIEA abandonou sua antiga objetividade.

Spiegel: A comunidade internacional tem bons motivos para desconfiar do Irã, considerando a frequência com a qual o governo forneceu informações falsas sobre seu programa nuclear.
Salehi: Nunca fornecemos informações falsas. Sempre cooperamos com os termos do Tratado de Não-Proliferação Nuclear e o tratado da AIEA. Mas se exigem de nós mais do que os tratados internacionais estipulam, nós nos recusamos.

Spiegel: Apesar de suas críticas, o relatório ameaça trazer uma nova rodada de sanções. Você de fato espera que as pessoas de seu país aceitem a intensificação do boicote econômico?
Salehi: Estes são inconvenientes que estamos dispostos a aceitar. Com 3 mil anos de história atrás de nós, 30 ou até mesmo 50 anos sob o embargo são uma simples nota de rodapé. Não abriremos mão de nossa independência e continuaremos nosso programa nuclear civil. Há uma grande unanimidade neste ponto tanto dentro do nosso governo quanto entre as pessoas.

Spiegel: Em vez de criticar o relatório do inspetor de armas nucleares, seria melhor se você oferecesse suas sugestões sobre como resolver este conflito.
Salehi: Vários países, inclusive o Irã, propuseram abordagens que poderiam ter levado a uma solução satisfatória. Houve, por exemplo, a iniciativa da Turquia e do Brasil pela retirada do material enriquecido, que foi inicialmente bem recebida pelo presidente norte-americano Barack Obama, mas nunca foi aprovada. Uma sugestão da Rússia também foi ignorada. Nós também interrompemos o enriquecimento de urânio como uma medida para aumentar a confiança, mas nunca nos agradeceram por fazer isso. Você honestamente acredita que mais sugestões surtirão resultados? Acredito que não existe mais motivo para fazer mais concessões. A questão nuclear é simplesmente uma desculpa para nos enfraquecer por qualquer meio possível.

Spiegel: E você quer usar qualquer meio possível para ganhar tempo e continuar enriquecendo urânio, aproximando o país da construção da bomba?
Salehi: Como cientista nuclear, não posso conceber o que o enriquecimento de urânio para propósitos civis tem a ver com a construção da bomba. O Tratado de Não-Proliferação Nuclear expressamente nos permite enriquecer urânio. Até assinamos o Protocolo Adicional do tratado para satisfazer os céticos.

Spiegel: Você não consegue afastar as suspeitas de que estão abusando de seu direito de enriquecer urânio?
Salehi: É bom que estejamos falando sobre abuso. O que dá a algumas nações o direito de usar vírus de computador contra nós e de assassinar nossos cientistas nucleares, enquanto continuam alegando que trabalham pelos direitos humanos?

Spiegel: Não há nada que o governo de Israel tema mais do que uma bomba nuclear nas mãos do governo do Irã, e parece que está preparando um ataque às instalações nucleares do país.
Salehi: Nós não achamos que haverá um ataque. Israel sabe o quanto a situação é delicada. Como prova de que nosso programa nuclear é pacífico por natureza, estabelecemos as condições necessárias para o monitoramento exigido da AIEA. Eu também gostaria de observar que nenhum outro país trabalhou tão intensivamente com a AIEA nesta área quanto a República Islâmica do Irã.

Spiegel: É o que você diz.
Salehi: Durante a visita mais recente de Herman Nackaerts, chefe de inspeções nucleares da AIEA, cooperamos com os inspetores além do que era nossa obrigação. Nackaerts e seu chefe, Amano, até nos agradeceram pela cooperação.

Spiegel: Os Estados Unidos e a Europa estão determinados a impedir que o Irã continue enriquecendo urânio. Vocês terão que ceder eventualmente?
Salehi: Não, não teremos, e gostaria de apontar nossa história como prova disso. Desde sua criação até os dias de hoje, a República Islâmica do Irã nunca cedeu para aqueles que queriam obrigá-la a fazer alguma coisa. Mas aqueles que abordam o país com lógica e justiça, em vez de uma abordagem de dois pesos e duas medidas, sempre puderam contar com a cooperação do Irã.

Spiegel: Ao contrário, sua disposição de cooperar sugere que você está querendo muito que a situação escale. Há alguns elementos certamente radicais no Irã para quem um ataque contra o país seria um acontecimento conveniente?
Salehi: Esses tambores de guerra são as mesmas pessoas que querem desacelerar nosso progresso. O Iraque na época de Saddam Hussein nos forçou numa guerra de oito anos. Não queremos outra guerra. Todo político em nosso país compartilha dessa opinião. Mas se formos atacados, sabemos como nos defender. Qualquer ataque, de qualquer tipo, será combatido com retaliação. Imediatamente, sem nenhum segundo de hesitação.

Spiegel: Você também teve de enfrentar acusações de terrorismo apoiado pelo Estado. Há poucas semanas, os EUA acusaram a Força Quds, uma unidade de elite da Guarda Revolucionária, de planejar uma tentativa de assassinato contra o embaixador da Arábia Saudita em Washington, Adel al-Jubeir.
Salehi: Nenhum documento sustenta esta alegação. Toda a coisa foi criada por Washington. É uma farsa em que o suspeito de ser o atirador é um desempregado, e fornece aos EUA uma tática para distrair da crise financeira. O governo dos EUA presumivelmente também espera destruir as relações entre o Irã e a Arábia Saudita, duas nações irmãs no Islã. Não esqueça que os EUA também justificaram sua guerra contra o Iraque com provas falsificadas.

Spiegel: Depois que o esquema foi revelado em meados de outubro, você prometeu investigar as acusações. Onde estão os resultados?
Salehi: Até agora, nossas investigações mostraram apenas que tudo isso deve ser uma história totalmente inventada. O principal suspeito no caso negou todas as acusações no tribunal dos EUA. Por que cometeríamos uma atitude tão sem sentido? Na verdade, insistimos que os EUA peçam desculpas.

Spiegel: Acusações de terrorismo patrocinado pelo estado no Irã não são novidade. Seus serviços de inteligência estiveram envolvidos em assassinatos fora do país várias vezes.
Salehi: A República Islâmica do Irã já foi vítima de terrorismo nas últimas três décadas e sofreu muitas perdas ao combatê-lo. Recentemente realizamos uma conferência em Teerã sobre o combate ao terrorismo. Todas essas acusações são ilógicas.

Spiegel: Obama e a secretária de Estado norte-americana Hillary Clinton confirmaram várias vezes as acusações relativas ao assassinato planejado. Você está dizendo que ambos foram enganados por seus próprios agentes de inteligência?
Salehi: Todas essas medidas fazem parte de uma estratégia norte-americana de guerra tácita contra o Irã. Eles querem nos apresentar como vilões para o mundo, enquanto distraem as pessoas no ocidente de suas próprias atividades terroristas, como o assassinato de nossos cientistas e a guerra cibernética. Nós enviamos uma queixa para a ONU contra essas acusações injustificadas.

Spiegel: O presidente norte-americano escreveu uma carta pedindo aos líderes iranianos para extraditar Gholam Shakuri, um oficial da Força Quds de Teerã e o indivíduo supostamente responsável pelo atentado, para os EUA, junto com outro suspeito que mora no Irã.
Salehi: Não recebemos provas suficientes dos EUA nos dando informações precisas sobre a verdadeira identidade deste suspeito. Por que ele deve estar no Irã? E onde ele deve estar? Há milhares de pessoas chamadas Shakuri no Irã. Além disso, não há um acordo de extradição entre o Irã e os EUA. Esses tratados existem apenas entre nações que são amigas.

3 comentários:

  1. o irã tera que rever sua politica nuclear, os eua acabaram de colocar mais sançoes, so que agora no setor petroquimico onde o irã sofrerar maiores problemas.

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  2. As sanções ao Irã só prejudicam o ocidente, ninguém mais.

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  3. claro q prejudica os iranianos, msm que a china continue a comprar petroleo, as suas empresas q negociarem petroleo com irã n poderar negociar com outros paises (EUA).

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