quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Sanções e escândalo atingem o aço iraniano

Na área de produção da siderúrgica Khouzestan Steel, perto de Ahvaz, no sudoeste do Irã, operários com capacetes laranja e uniformes cáqui enfrentam o forte calor e umidade sufocante enquanto transformam aço derretido em lingotes com acabamento.

Perto dali, uma placa remete aos dias mais felizes de investimento internacional e cooperação. A placa, mostrando longas barras de aço se movendo lentamente em roletes, pertence à Danieli, uma importante fornecedora italiana de tecnologia industrial e equipamento.

Os operários da usina –a maior produtora de lingotes de aço do Irã e uma das três maiores do país em termos de produção total– dizem que outras linhas de produção foram supridas por empresas alemãs, americanas e japonesas por mais de três décadas. Mas eles dizem que o grupo italiano foi o último no local –em 2007.

As sanções internacionais impostas devido ao programa nuclear do Irã não visavam diretamente o setor industrial, mas afetaram muitas indústrias, como a do aço, ao impor restrições financeiras.

Abdol-Majid Sharifi, diretor-gerente da Khouzestan Steel, diz que contornar as sanções e “transformar ameaças em oportunidades” é uma de suas principais prioridades.

“Nós estamos tornando local a indústria do aço”, ele diz aos repórteres durante uma visita. A autossuficiência na produção do aço é uma meta que deve ser atingida independente dos custos, ele diz.

A Khouzestan Steel alega que sua dependência de peças estrangeiras agora é de apenas 20%, após substituir cerca de 7 mil peças sobressalentes estrangeiras por peças de fabricação iraniana, incluindo fornalhas. Sharifi prevê que a produção de aço bruto na usina atingirá 3,3 milhões de toneladas neste ano iraniano (que começou em 21 de março), em comparação a 3 milhões de toneladas no ano passado.

Os governantes do Irã consideram a indústria siderúrgica um setor estratégico. Como resultado, o país é o principal produtor de aço no Oriente Médio, segundo a Associação Mundial do Aço. Suas minas de minério de ferro fornecem matéria-prima suficiente para a produção doméstica de aço, além do minério também ser exportado para outros países, como a China.

Mas, apesar do potencial, a produção de aço bruto foi de apenas 11,9 milhões de toneladas em 2010, segundo a associação. A produção não apenas mantém o país dependente de importação da Rússia e dos países da Ásia Central para atender suas necessidades domésticas de aproximadamente 18 milhões de toneladas, como também está longe da meta do governo de 50 milhões de toneladas até 2015.

Os analistas alertam que as sanções internacionais não são o único motivo para o não cumprimento dos planos de desenvolvimento e pelo fracasso em atrair investimento.

“Má gestão é mais culpada do que as sanções quando se vê quão lento era o progresso mesmo antes das sanções”, diz um analista do mercado de aço, que pediu para que seu nome não fosse citado.

Os observadores apontam para a disparidade com a vizinha Turquia, que produz aproximadamente 30 milhões de toneladas por ano, enquanto os traders e produtores privados de aço dizem que as usinas estatais estão enfrentando dificuldades com as dívidas elevadas junto ao setor bancário, devido à alta dos preços de matéria-prima.

A produção de aço bruto no Irã é praticamente um monopólio de três empresas estatais: a Mobarakeh Steel Company, Esfahan Steel Company e Khouzestan Steel. O setor privado do Irã está envolvido apenas no comércio de aço e projetos posteriores na cadeia produtiva, como a produção de laminadores.

A Khouzestan Steel está se preparando para a venda de 50,5% de suas ações para o setor privado neste ano, apesar de sua privatização ser controversa.

Em 2007, Mohammad Jaberian, um empresário, comprou 30,5% das ações da empresa por aproximadamente US$ 1,3 bilhão. Mas Jaberian mudou repentinamente de ideia e tentou abandonar o acordo.

Agora, a empresa está ligada ao maior escândalo financeiro do Irã, que chega a 30 trilhões de riais iranianos (US$ 2,8 bilhões). Ele é centrado em Mah-Afarid Khosravi, um empresário que dizem estar na cadeia e que teve seus ativos congelados. O escritório central de Khosravi em Teerã se recusou a comentar.

No mês passado, a imprensa conservadora do Irã, que é em grande parte contrária ao governo do presidente Mahmoud Ahmadinejad, publicou uma carta na qual o gabinete do presidente aparentemente pediu a dois ministros que vendessem metade das ações da Khouzestan Steel para Khosravi, segundo um plano nacional de privatização. O governo negou qualquer ligação com a suposta fraude.

A propriedade da Khouzestan Steel permanece opaca. Sharifi, o diretor-gerente da empresa, nega qualquer “ligação legal” entre a empresa dele e Khosravi, destacando que as ações controversas permanecem de posse do governo. Mas ele admite que houve uma cooperação entre a fábrica de laminadores de propriedade de Khosravi.

Sharifi se recusa a citar quaisquer números dos custos de produção de sua empresa, mas reconhece que aumentaram de 15% a 20% neste ano em comparação ao ano passado, principalmente devido aos cortes nos subsídios do Estado aos commodities básicos.

Apesar dos problemas, a Khouzestan Steel diz estar pronta para exportar seus produtos, apesar das restrições impostas pelo governo aos produtores locais, para que possam atender à demanda doméstica.

Sharifi diz: “Se formos autorizados a exportar, nós podemos estar facilmente presentes no mercado mundial, graças à alta qualidade sustentável de nosso aço”.

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