segunda-feira, 24 de outubro de 2011

A França não teve um engajamento tardio na Líbia, diz ministro francês da Defesa

Para o ministro francês da Defesa, Paris soube usar suas alianças com pragmatismo
À esquerda o presidente francês, Nicolas Sarkozy, à direita o ministro da Defesa da França, Gérard Longuet

 Le Monde: O que vai acontecer na Líbia?
Gérard Longuet:
O território pertence aos líbios e ao CNT (Conselho Nacional de Transição). Este se engajou em um trabalho difícil, a emergência de um sistema político estável. O CNT poderá anunciar um governo. Haverá um número suficiente de gaddafistas notáveis presos para associar a eles o julgamento do regime. Nossa missão se simplificará, uma vez que não temos autoridade para instaurar um Estado ou forças de segurança na Líbia.

Le Monde: Os ataques serão suspensos?
Longuet:
O dispositivo será primeiramente reduzido, e quanto à nossa missão de proteção à população civil, passaremos para uma fase de desmontagem. Isso será feito nos próximos dias ou semanas, pois o combate está se enfraquecendo. Não passará do começo de novembro.

Le Monde: Qual será o papel da França?
Longuet:
Ela se esforçará para fazer o papel de uma parceira principal, em um país cujos dirigentes sabem que eles devem muito a nós.

Le Monde: É necessária uma nova reunião multilateral?
Longuet:
Os países da coalizão provavelmente irão adotar posições mais bilaterais em sua relação com a Líbia. Cada um tentará sair da situação da melhor forma possível. Não seremos nem os últimos, nem os mais banais. Não tivemos um engajamento tardio, medíocre, incerto. E não temos nada do que nos envergonhar.

Le Monde: A França foi criticada por agir de forma independente. A Otan atuou bem?
Longuet:
Uma disposição política nacional que sabe construir alianças tira o melhor das estruturas para agir. É o método de Nicolas Sarkozy. A França tirou de seu acordo com o Reino Unido um peso político dentro da União Europeia, que permitiu concretizar uma resolução no Conselho de Segurança da ONU, e depois passar o bastão para o comando da Otan. A construção política e a reatividade militar foram as condições do sucesso.

A França foi a principal parceira da operação, utilizando suas alianças, a UE e a Otan, como meios e não como tutoras. O secretário-geral da Otan acompanhou essa dinâmica.

A Otan é um comando integrado que é tudo, menos tirânica: a possibilidade de conduzir uma operação sob autoridade nacional é real. Estamos colocando um sistema de defesa nacional a serviço da Aliança. Não estamos contribuindo com um sistema multinacional renunciando à nossa identidade.

Le Monde: Foi a Otan, mais do que a União Europeia?
Longuet:
Vamos debater essa mecânica complexa na segunda-feira, no Parlamento europeu. Seria injusto dizer que a UE foi inútil. Ela permitiu que se consolidasse dentro da Otan um grupo que conseguiu convencer os Estados Unidos. Nós sabíamos que eles iam se retirar dos ataques ao mesmo tempo em que forneciam o indispensável suporte logístico. O fato de que os Estados Unidos, tão logo deixam de se opor, fazem o jogo do apoio material, prova que a Aliança funciona. Ela tem uma base permanente que são os estados-maiores, eles funcionaram bem.

Le Monde: Os alemães não participaram da operação e estão reduzindo seus recursos militares. Como trabalhar com eles?
Longuet: Os alemães estão iniciando uma reforma que fizemos quinze anos atrás: estão evoluindo para um exército profissional, de efetivo reduzido, capaz de intervenções externas. Depois dessas decisões estruturas, eles precisam tomar decisões estratégicas, como fizemos com o Livro Branco de 2008. Nós vamos trabalhar com eles, pois certos assuntos importantes estão no centro de nossa relação: a defesa antimíssil, o sistema de vigilância terrestre da Otan, a relação com a Rússia, a emergência de uma indústria europeia.

Le Monde: Mas nossas divergências quanto à questão nuclear permanecem?
Longuet:
Quanto ao antimíssil, a França está vendo aquilo que ela pode aceitar: a parte da detecção com nossa contribuição em satélites, e o controle da Otan sobre o comando.

Mas resta uma ambiguidade básica entre aquilo que os Estados Unidos, de um lado, e a França e o Reino Unido, enfim, os outros europeus, de outro, esperam da defesa antimíssil. Para muitos, é uma garantia que tem o mérito de custar somente uma parcela e permite que se possa dizer aos franceses que sua dissuasão é inútil. Dizemos aos americanos que é preciso valorizar nossas contribuições, não somos simples membros. Manteremos nossa dissuasão, pois a defesa antimíssil nunca será 100% certa. Portanto, é antes de tudo um debate europeu.

Le Monde: A Europa tem dificuldades para fazer da defesa um tema em comum.
Longuet:
É indispensável que falemos livremente sobre defesa entre europeus. Isso permite harmonizar nossos pontos de vista para termos uma atitude solidária dentro da Otan. Isso não quer dizer que sejam necessárias estruturas operacionais redundantes. A Europa deve ser um local de discussão estratégica.

Le Monde: De quem é o crédito do sucesso na Líbia?
Longuet:
De Nicolas Sarkozy. Foi o sucesso das instituições francesas, que fazem do presidente da República o chefe dos exércitos e da diplomacia. O homem que tinha esses poderes os exerceu. Ele nunca agiu sozinho, mas com David Cameron, a ONU, a Otan. Com pragmatismo, ele construiu alianças.

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