terça-feira, 4 de outubro de 2011

Folha de SP: C'est la guerre

Guerrilheiros líbios
As guerras não são feitas para serem vencidas, mas para serem contínuas. Cito de memória um diálogo de George Orwell ("1984"), uma ficção científica que, em alguns momentos, é mais científica do que ficção. Sobretudo quando mostra a sociedade humana em busca de seu ponto ótimo, de sua perfeição, da qual resulta a pior e mais cruel forma de tirania.

Em nome do bem supremo, da paz social e pessoal, o Estado toma conta de tudo, dispondo de uma tecnologia avançada que vigia cada ato do cidadão, punindo com a tortura e a morte aqueles que de alguma forma não seguem as regras do poder encarnado no Grande Irmão -ou seja, o próprio Estado.

Na realidade, essa sociedade perfeita criada por Orwell está em permanente guerra com outras sociedades ou consigo mesma. As batalhas se sucedem e se alternam, uma é ganha, outra é perdida, não tem importância. A guerra é como o show que não pode parar, ganha-se uma para ter direito a entrar em outra.

Olhando a história da humanidade de um ponto de vista neutro, chega-se à conclusão de que uma prepara a outra, não importa o vencedor. O espaço é pouco para detalhar exemplos históricos, mas fiquemos no tempo mais recente. A cadeia de lutas, com ou sem intervalos regulares, constitui a própria história.

A guerra de 1914 preparou a de 1939, que por sua vez preparou a Guerra da Coreia, a do Vietnã, as crises de Berlim, a Guerra Fria, a crise do Oriente Médio, os conflitos regionais na Europa central, no Paquistão, no Iraque etc.

Não há ainda uma guerra total. A própria tecnologia criou armamentos em que não haverá lucro algum em qualquer conflito mundial.

Criará apenas as condições latentes para que as guerras, vencidas ou perdidas, continuem a dar a régua e o compasso da sociedade humana.

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