quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Brasil investe pouco em defesa, dizem especialistas

Importância estratégica crescente do país justificaria gasto maior no setor, segundo participantes de debate na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional

O investimento em defesa feito pelo governo brasileiro é relativamente baixo, considerando as riquezas nacionais e o papel crescente do país numa reorganização geopolítica global. A análise foi feita ontem por especialistas ouvidos na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) sobre a Estratégia Nacional de Defesa (END). Na audiência presidida por Fernando Collor (PTB-AL), o tema foi avaliado de forma mais ampla do que uma questão estritamente militar.

Para o professor Gunther Rudzit, coordenador do curso de Relações Internacionais da Fundação Armando Alvares Penteado (Faap), de São Paulo, a Constituição de 1988 gerou confusão entre segurança nacional e defesa nacional. Citando exemplos, o professor afirmou que a segurança vai muito além da defesa.

Um dos grandes problemas no reaparelhamento das Forças Armadas, segundo Rudzit, diz respeito à educação. Ele afirmou que há, por exemplo, uma dificuldade de compatibilizar a alta tecnologia com o serviço militar obrigatório. A baixa capacitação dos soldados limita a capacidade de se absorver tecnologia avançada.

O general Aderico Mattioli, diretor do Departamento de Produtos de Defesa do Ministério da Defesa, elogiou o comprometimento do governo com a END, ressaltando que a questão permeia todos os ministérios.

Segundo o general, a END tende à centralização de compras, e o ministério se adapta a demandas de produtos “desafiadores”. Ele destacou que a compra e venda de produtos de defesa também contribui com o comércio exterior, mas os militares estão preocupados com a demanda brasileira por produtos de média e alta tecnologia que têm de ser importados – algo que, afirmou, “não é nosso sonho, mas nossa realidade”.

Transferência limitada de tecnologia gera entrave
Outro problema apontado pelos debatedores na CRE foi a série de limitações na transferência de tecnologia para o Brasil, levando em conta as implicações diplomáticas decorrentes do longo período de vínculo com o país fornecedor.

Cláudio Moreira, presidente da Academia de História Militar Terrestre do Brasil, estimou o mercado mundial de produtos de defesa em US$ 1 trilhão, sendo que o Brasil participa com 0,1% desse montante. Para ele, há grande potencial de ampliação da presença brasileira, haja vista a necessidade de estratégias de defesa que levem em conta as questões da Amazônia, da exploração do petróleo na camada pré-sal e do acesso a alimentos e água doce. No entanto, Moreira assinalou que o país sofre embargos tecnológicos que atrasam a geração de produtos civis derivados dos militares.

Para Darc Antônio da Luz Costa, presidente da Federação das Câmaras de Comércio e Indústria da América do Sul (Federasur), o Brasil está “ficando rico”, e riqueza e poder andam juntos. Na sua opinião, a nova situação requer um investimento mais compatível com o produto interno bruto (PIB) do país. Segundo ele, o país deve aproveitar sua posição geográfica para estreitar vínculos com países do Mercosul e funcionar como uma possibilidade de contestação ao domínio dos Estados Unidos.

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