segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Após queda de Gaddafi, Ocidente vê oportunidades de negócios na Líbia

Líbios comemoram a libertação da Líbia
As armas na Líbia mal se calaram, e a assistência militar da Otan à rebelião que derrubou Muammar Gaddafi não terminará oficialmente até segunda-feira (31). Mas uma nova força invasora já está tramando seu próprio desembarque nas costas de Trípoli.

Empresas ocidentais de segurança, construção e infraestrutura que veem as oportunidades de lucro diminuindo no Iraque e no Afeganistão voltaram suas atenções para a Líbia, agora livre de quatro décadas de ditadura. Os empreendedores estão agitados com o potencial de negócios de um país com imensas necessidades e petróleo para pagar por elas, além da vantagem competitiva da gratidão líbia aos Estados Unidos e seus aliados da Otan.

Uma semana antes da morte de Gaddafi em 20 de outubro, uma delegação de 80 empresas francesas chegou a Trípoli para um encontro com as autoridades do Conselho Nacional de Transição, o governo interino. Na semana passada, o novo ministro da Defesa britânico, Philip Hammond, pediu às empresas britânicas que fizessem as malas e seguissem para Trípoli.

Enquanto o corpo de Gaddafi ainda estava em exibição pública, uma empresa britânica, a Trango Special Projects, oferecia seus serviços de apoio às empresas interessadas em lucrar no país.

“Enquanto prossegue a especulação em torno da morte de Gaddafi”, dizia a Trango em seu site, “você e sua empresa estão prontos para voltar à Líbia?”

A empresa oferecia quartos em seu casarão em Trípoli e transporte “por nossa discreta equipe de segurança britânica e líbia”. Mas sua discrição não é barata. O preço para uma viagem de 10 minutos do aeroporto, que um táxi comum cobraria cerca de US$ 5, é listado por 500 libras britânicas, ou cerca de US$ 800.

“Há uma espécie de corrida do ouro ocorrendo no momento”, disse David Hamod, presidente da Câmara Nacional de Comércio Árabe-Americana. “E os europeus e asiáticos estão muito à nossa frente. Eu recebo telefonemas diariamente de membros da comunidade de negócios na Líbia. Eles dizem: ‘Voltem; nós não queremos que os americanos fiquem de fora’.”

Mas há hesitação em ambos os lados e, até o momento, há muito mais conversa do que ação. O Conselho Nacional de Transição, na esperança de evitar qualquer repetição da corrupção oficial da era de Gaddafi, disse que nenhum contrato de longo prazo será assinado até que um governo eleito tome posse. E com as cidades ainda repletas de armas e homens jovens desempregados, a Líbia está longe de oferecer um ambiente seguro de negócios –daí as propostas dos provedores de segurança.

Como a França e o Reino Unido, os Estados Unidos podem se beneficiar da gratidão das autoridades líbias pelo apoio aéreo crítico à revolução. Seja qual for o rigor das novas regras que venham a reger os contratos, as empresas ocidentais esperam ter alguma vantagem sobre, digamos, a China, que em julho ainda oferecia vender armas para Gaddafi.

“Vingança pode ser uma palavra muito forte”, disse Phil Dwyer, diretor do SCN Resources Group, uma empresa da Virgínia que abriu um escritório em Trípoli há duas semanas, para oferecer consultoria e serviços de “gestão de risco” para uma empresa que ele não quis citar. “Mas minha sensação é que aqueles que foram a favor” do Conselho de Transição “serão acolhidos de um ponto de vista de negócios”.

A Security Contracting Network, uma prestadora de serviços dirigida pela empresa de Dwyer, postou em seu blog dois dias depois da morte de Gaddafi que haverá abertura de muitas vagas de trabalho na Líbia.

“Haverá um aumento de atividade à medida que as companhias de petróleo voltarem à Líbia”, disse a empresa, juntamente com a necessidade de pessoal de logística e segurança, juntamente com a expansão das operações pelo Departamento de Estado e organizações sem fins lucrativos. “Fique de olho em quem ganhará os contratos relacionados, siga o dinheiro e encontre seu próximo emprego.”

Em Trípoli, ainda há um clima de aguardar para ver. No café da manhã de sexta-feira em um hotel no centro, um prestador de serviços de segurança britânico apontou para as mesas de homens corpulentos –seguranças contratados como ele. “Veja só”, ele disse. “Estão cheias deles.”

Muitos ainda estão protegendo jornalistas estrangeiros, mas outros estão esperando conseguir contratos de treinamento junto ao novo governo, que tenta domar suas forças armadas indisciplinadas. Representantes do setor de segurança dizem que o trabalho aqui poderá nunca se igualar à escala colossal de gastos no Iraque e no Afeganistão, mas com o arrocho de gastos promovido pelos governos europeus e americano, ainda assim é um prêmio cobiçado.

As oportunidades de negócios para empresas ocidentais começaram a surgir na Líbia em 2004, quando a decisão de Gaddafi de desistir de seu programa de armas nucleares colocou um fim ao status de pária do país. Hamod liderou quatro delegações de empresários americanos à Líbia entre 2004 e 2010, observando um “degelo gradual das relações comerciais”, ele disse.

O total de investimento estrangeiro direto na Líbia cresceu de estimados US$ 145 milhões em 2002 para US$ 3,8 bilhões em 2010, segundo o Banco Mundial. Mas muitos acordos foram perdidos devido às exigências descaradas dos filhos de Gaddafi de participação nos lucros, e o estado do país era ruim após muitos anos de sanções econômicas e abandono.

A Líbia “precisava de tudo”, disse Hamod: serviços bancários e financeiros, hospitais e clínicas médicas, estradas e pontes, infraestrutura para o setor de energia e petróleo.

Agora, após meses de combates e com a situação da segurança ainda frágil, há novas exigências imensas, como a reconstrução dos complexos residenciais reduzidos a escombros por bombardeios, a proteção das instalações de petróleo enquanto a produção é restaurada e expandida e treinamento e fornecimento de equipamento para as novas forças armadas.

Hamod disse que as empresas americanas frequentemente são mais hesitantes que as chinesas e algumas europeias em atuar em ambientes tumultuados como o da Líbia pós-Gaddafi.

“Há relutância em ingressar com tudo na Líbia”, ele disse. “Historicamente, as empresas americanas estão interessadas no estado de direito em solo e no que ele pode significar para um investimento multimilionário.”

Em uma reunião do Grupo dos 8 em Marselha, França, em setembro, os ministros das finanças prometeram US$ 38 bilhões em novo financiamento, principalmente empréstimos, aos países árabes entre 2011 e 2013. Apesar de a Líbia estar extraindo menos de um terço de sua produção de petróleo pré-guerra de 1,7 milhão de barris por dia, ela conta com as maiores reservas da África, o que futuramente significará uma fonte constante de dinheiro.

A empolgação e confusão simultânea para as pessoas que exploram oportunidades na Líbia são evidentes na proliferação de grupos com tema da Líbia no LinkedIn, a rede social online dedicada a negócios.

“Alguém no grupo sabe me dizer se há voos para Trípoli”, escreveu Peter Murphy, um topógrafo irlandês atualmente trabalhando em um projeto eólico no exterior, em uma página de discussão no LinkedIn chamada Grupo de Negócios Anglo-Líbio. “Além disso, qual é a situação dos vistos para viajantes a negócios?”

Uma resposta veio de Mabruk Swayah, que se identificou no LinkedIn como um líbio trabalhando em desenvolvimento de negócios.

“Olá, amigos, todos vocês são bem-vindos à Líbia”, escreveu Swayah. “Apenas certifiquem-se de passarem pelos canais apropriados para seus contratos de trabalho e não se envolvam em propinas, incentivos ou agrados às autoridades.”Ele acrescentou: “Lembrem-se que agora temos uma imprensa livre”.

2 comentários:

  1. Era isso que eles queriam, pois a maioria dessas empresas a morte de civis e povo Líbio não significa nada, pois o lucro é mais importante do que mortes.

    ResponderExcluir
  2. Parabéns pelas reportagens a respeito da Libia.
    Torço pra que esse povo apartir de agora tenha uma vida Digna.

    ResponderExcluir