quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Divisões de último minuto: Europa não consegue se unir na questão palestina

A União Europeia está mais distante do que nunca de uma posição comum no conflito do Oriente Médio. Os europeus nem conseguiram concordar com uma declaração conjunta no Conselho de Direitos Humanos da ONU. Alguns defenderam Israel, outros ficaram do lado dos palestinos, enquanto a Alemanha evitou adotar uma posição clara.

Tudo já estava supostamente resolvido em detalhes. Por uma semana, os diplomatas europeus credenciados na ONU em Genebra vinham trabalhando em uma declaração sobre o status de direitos humanos em Israel e nos territórios palestinos ocupados. Apesar de atualmente haver somente oito países europeus representados no Conselho de Direitos Humanos da ONU, a posição deveria falar por toda a UE.

Na semana passada, o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, pediu o reconhecimento de um Estado palestino independente pela Assembleia Geral da ONU em Nova York. A votação pelo Conselho de Segurança da ONU sobre o pedido deverá ser adiada, mas ainda assim todos os lados estão sob pressão para que tomem uma posição na questão controversa.

As chances de um acordo europeu pareciam boas na segunda-feira (26/9), particularmente porque a última versão do texto tinha um tom balanceado. O bloqueio por Israel da Faixa de Gaza foi condenado, assim como os mais recentes ataques terroristas palestinos contra israelenses. O documento também criticava as execuções desenvolvidas pelo Hamas na Faixa de Gaza e a violência dos colonos israelenses contra os palestinos na Cisjordânia.

Mas isso aparentemente foi demais para alguns amigos de Israel na Europa. Faltando apenas uma hora para o início do debate oficial em Genebra, o representante da Holanda informou que sue país não ia assinar tal resolução. Em um encontro de emergência reunido às pressas, o holandês pegou seu iPhone e leu uma série de exigências em revisões, sem as quais seu país infelizmente não seria capaz de aprovar o documento.

As correções obviamente vinham diretamente do chefe do embaixador holandês, o ministro de relações exteriores, Uri Rosenthal, conhecido por suas políticas pró-Israel. O membro do Partido do Povo pela Liberdade e Democracia (VVD), que também é judeu, apesar de não ser religioso, também é casado com uma israelense.

 

A Holanda se afasta da posição da UE

Ele instruiu seus diplomatas em Genebra que corrigissem uma série de formulações da declaração, entre elas inúmeras referências a uma “solução de dois Estados” –isto é, a fundação de um Estado palestino ao lado de Israel. O ministro de relações exteriores tampouco quis mencionar as prisões por Israel de ativistas de direitos humanos que faziam uma manifestação pacífica ou a destruição de casas na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, que forçou a remoção de palestinos.

E essa postura foi tomada apesar de um relatório do Conselho de Direitos Humanos da ONU confirmar que o governo israelense reforçou as ordens para destruição de casas desde o início do ano. De acordo com o relatório, cerca de 387 construções foram destruídas desde janeiro, entre elas 140 prédios residenciais, desabrigando 755 palestinos. Mais palestinos foram removidos na primeira metade de 2011 do que em todo o ano passado, acrescenta o relatório.

As mudanças de Haia não foram bem recebidas por outros diplomatas europeus. Apesar de alguns estarem preparados a negociar questões individuais, tais como as prisões de manifestantes por Israel, a recusa em admitir a necessidade de uma solução de dois Estados –que já é uma posição europeia há anos- foi longe demais.

 

Posição alemã não está clara

A maior parte dos presentes na reunião protestou e expressou espanto que alguns países membros concordassem com os desejos de último minuto da Holanda. A Alemanha, Itália e a República Tcheca declararam que estavam dispostas a aceitar as demandas para que fosse possível uma posição europeia unificada. Enquanto isso, a Suécia, Áustria, România e Eslovênia declararam que a proposta era inaceitável. Assim, logo antes da reunião do conselho, o representante da UE que presidia a reunião de crise não pode fazer nada além de declarar fracasso do debate.

No final, o texto que o grupo tinha concordado inicialmente foi assinado por apenas seis países europeus, entre eles alguns que não estão atualmente no Conselho de Direitos Humanos. A Alemanha poderia ter assinado o documento, mas preferiu não assumir uma posição. Um porta-voz do Ministério de Relações Exteriores recusou-se a comentar, citando “deliberações confidenciais”.

Este é o mais recente exemplo de como a coerência da UE está sendo sacrificada em prol de interesses nacionais. Quase ninguém espera mais que a UE apresente um voto unificado se o status palestino for votado na Assembleia Geral da ONU em Nova York. Enquanto isso, os quatro países que atualmente participam do Conselho de Segurança da ONU –Reino Unido, França, Alemanha e Portugal –também não devem concordar com uma posição única.

Assim, a UE praticamente não tem influência sobre o conflito do Oriente Médio. O que aconteceu no Conselho de Direitos Humanos prova que, para se impedir uma posição europeia unificada, israelenses e palestinos precisam apenas que um dos 27 países membros discorde.

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