sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Aspirante à presidência nos EUA, Rick Perry simboliza ala republicana radical

O governador do Texas, fervoroso evangélico, assusta inclusive seus correligionários por suas ideias e a dureza de seu discurso

Rick Perry
Ele chegou do Texas para revolucionar o campo eleitoral republicano. Rick Perry surgiu com força na pré-campanha, exibindo duas conquistas principais: dez anos de experiência como governador e o que ele chama de "milagre econômico" de seu estado. Com seus modos de caubói, esse político que há apenas dois anos insinuou que o Texas poderia se tornar independente dos EUA, agora quer governar o país. Provocador, apela diretamente ao Tea Party, mas também aos 80 milhões de eleitores evangélicos, uma sólida maioria silenciosa que já levou George W. Bush à presidência.

Nos primeiros dias de campanha, Perry, 61 anos, se fez ouvir. Acusou na segunda-feira (15) o presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke, de alta traição por sua decisão de deixar a porta aberta para imprimir mais dinheiro, para manter os juros baixos caso a economia se deteriore mais. "Imprimir mais dinheiro neste momento para fazer política é francamente perigoso... ou traidor, na minha opinião", disse em Dubuque, Iowa. "Não sei o que vocês fariam em Iowa, mas nós o trataríamos muito mal no Texas."

Assim, Perry ameaçou o homem escolhido por Bush em 2007 para presidir o sistema bancário central. O círculo do ex-presidente, com quem Perry tem más relações, reagiu logo. Karl Rove, arquiteto das vitórias de Bush, disse na Fox News: "Alguém não pode sair por aí acusando o presidente do Federal Reserve de ser um traidor. E sugerir que o tratemos mal no Texas não é algo que soe muito presidencial".

Perry, em rebeldia, não desce de seu cavalo. Ontem em New Hampshire se negou a retirar suas acusações e passou a outro assunto: negou novamente a influência humana sobre a mudança climática. É o ideário de Perry em ação. Provocação atrás de provocação, em estados chaves para as primárias. Aparece desse modo mais conservador que seu principal concorrente nas eleições, a congressista por Minnesota Michelle Bachmann.

Mas o governador não cita a adversária em seus discursos. Transformou Barack Obama em seu rival desde o início. "O presidente disse que eu deveria tomar cuidado com o que digo", disse Perry ontem na localidade de Bedford, New Hampshire. "Os fatos são mais eloquentes que as palavras. Minhas conquistas como governador ajudaram a criar empregos. Suas medidas, presidente, o estão destruindo."

O cartão de apresentação de Perry nesta pré-campanha é o que ele chama de "milagre econômico texano". Desde junho de 2009 o Texas criou um terço dos empregos dos EUA. A economia de seu estado cresce anualmente 3%, mais que o dobro do ritmo nacional. O economista e prêmio Nobel Paul Krugman escreveu no último domingo no jornal "The New York Times" que o milagre se deve ao fato de os salários serem muito baixos.

Dez por cento dos texanos ganham salário mínimo. Com o incentivo de uma grande permissividade trabalhista, empresas abandonam outros estados para se estabelecer no Texas. Como não são obrigadas a oferecer cobertura médica, 25% dos cidadãos não têm seguro-saúde. O desemprego no Texas, de 8,2%, está apenas um ponto abaixo da média do país. E, apesar de seu governador se opor aos impostos, o estado arrecada das companhias de petróleo, direta e indiretamente, 224 bilhões de euros por ano.

No entanto, Perry defende com firmeza sua gestão. Opina, segundo explicou em seu recente livro, "Fed Up!" (algo como "de saco cheio") que o governo deveria se reduzir a sua expressão mínima, cortando programas educacionais e sociais. É um inimigo da Casa Branca que quer viver nela. Tal é sua desconfiança de Washington, que em abril de 2009 disse a um jornalista que o Texas "poderia abandonar" a federação. Isto é, ameaçou com a independência.

A devoção que não tem pelo governo, ele tem por Deus. É um evangélico que acredita no poder transformador da oração. Em 6 de agosto reuniu em Houston 30 mil cristãos - excluiu muçulmanos e judeus - para que rezassem por uma melhora econômica. Em abril decretou oficialmente três dias de orações "para pedir chuva". O estado continua em uma seca severa.

As más relações com o círculo do ex-presidente George W. Bush vêm das últimas eleições para governador, as terceiras, no ano passado. Perry havia prometido à senadora Kay Bailey Hutchinson, próxima dos Bush, que em 2010 se afastaria para que ela ganhasse as primárias e eventualmente o sucedesse. Esta levou a promessa a sério e se candidatou, só para descobrir que Perry não cumpriria sua palavra e disputaria as primárias. O clã Bush, incluindo Rove, apoiou a senadora.

Então, aproveitando o sucesso do Tea Party, Perry renasceu. Sua popularidade estava então no mínimo. Soube aumentá-la apresentando-se como o filho de um fazendeiro de raízes texanas, alheio às estirpes políticas, que se fez sozinho. Definiu-se como devoto cristão, contrário ao aborto, conservador por princípios, não por decisão política. Chegou a acusar Bush de ter sido progressista demais em assuntos como o gasto público. E arrasou sua adversária.

As "traições" e ameaças de Perry

- "Se este sujeito [Bernanke] imprimir mais dinheiro daqui até as eleições, não sei o que vocês fariam em Iowa, mas nós no Texas o trataríamos muito mal. Imprimir mais dinheiro para fazer política neste momento da história é, na minha opinião, quase uma traição", disse o republicano.

- "Uma das razões pelas quais sou candidato à presidência é para ter certeza de que todos os homens e mulheres que usam uniforme [militar] neste país respeitam o presidente dos EUA", disse Perry, sugerindo que o exército americano não respeita Barack Obama.

- "Creio que a pior ameaça para nosso país agora é esse presidente que está tentando gastar para nos tirar desse desastre." Perry também acusou Obama de "estrangular o setor energético".

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