quarta-feira, 25 de maio de 2011

O amado, além de eficiente, soldado canino

Fuzileiros navais americanos faziam patrulha a pé em Marja, no Afeganistão, um reduto do Taleban, quando mataram a tiros uma ameaça letal: um cachorro local que atacou seu cão labrador.

Se o labrador tivesse se ferido, os marines teriam perdido sua melhor arma de detecção de bombas escondidas à beira de estradas, e eles teriam chamado um helicóptero para fazer a retirada do ferido. Um ataque ao labrador era um ataque a um guerreiro companheiro. Como disse nesse dia o capitão Manuel Zepeda, comandante da companhia F do segundo batalhão da sexta unidade de Marines, "consideramos o cachorro um marine a mais".

O cão que participou do ataque lançado por comandos Seals da Marinha americana contra a mansão de Osama bin Laden no último 2 de maio -e cuja identidade não foi revelada- vem gerando uma onda de interesse pelos cães militares, que estão sendo usados pelos Estados Unidos pelo menos desde a Primeira Guerra Mundial e cada vez mais empregados no Afeganistão.

As tropas americanas podem estar se preparando para deixar o Afeganistão no verão americano, mas mais cachorros serão enviados. Até o final do ano, a expectativa é que haja quase 650 cães farejadores de bombas no Afeganistão. As Forças Armadas americanas têm cerca de 2.700 cachorros que prestam serviço militar ativo. Antes dos ataques de 11 de Setembro, havia 1.800.

Os cães militares são usados para proteção, perseguição, rastreamento e operações de busca e resgate, mas também, com frequência cada vez maior, para farejar as bombas de produção caseira que causam a maioria das baixas americanas no Afeganistão. Até agora, não existe nenhuma tecnologia que os supere.

As raças preferidas nas Forças Armadas são o pastor alemão e o pastor belga, ou Malinois, mas os fuzileiros navais no Afeganistão usam labradores puros-sangues devido ao faro apurado e ao temperamento não agressivo e ansioso por agradar. Hoje, os cães acompanham patrulhas terrestres de marines na província de Helmand, no sul do Afeganistão, andando livremente 90 m ou mais à frente das patrulhas e fazendo as vezes de detectores de bombas. Trata-se do trabalho crucial de um cão altamente treinado (e cujo treinamento pode custar até US$ 40 mil por animal), mas, às vezes, ao término de um dia de calor sufocante, um labrador não passa de um labrador.

Durante uma patrulha em Helmand na primavera passada, o labrador Tango liderava um grupinho de fuzileiros navais que estava entrando em um vilarejo. De repente, ele se abaixou, abanando o rabo -sinal de que tinha detectado explosivos por perto. Os soldados ficaram imóveis. Não foi encontrada bomba alguma. Poucas das histórias tocantes sobre marines em combate e seus cães tiveram impacto emocional tão grande quanto a do soldado Colton W. Rusk, 20, metralhador e treinador de cães que foi morto em dezembro por disparos de franco-atiradores em Helmand. Enquanto estava em serviço no Afeganistão, Rusk enviou a seus pais fotos e notícias do seu amado cão farejador de bombas, Eli. Oficiais dos marines contaram a seus pais que, quando Rusk foi baleado, Eli o cobriu com seu corpo, tentando protegê-lo.

Eli, que tinha três anos, foi o primeiro nome da lista de sobreviventes que constou do obituário de Rusk. Em fevereiro, ele foi adotado pelos pais do soldado, Darrell e Kathy Rusk. "Ele é um grande consolo", disse Kathy Rusk, que vive em Orange Grove, no Texas. Ela contou que, quando ela e seu marido trouxeram Eli, "o primeiro lugar que ele procurou foi o quarto de Colton. Ele farejou por todo lado e, então, pulou sobre a cama de nosso filho."

Até agora, 20 labradores de um total de 350 na ativa foram mortos em ação desde que os marines iniciaram o programa canino, em 2007. A maioria morreu em explosões de bombas improvisadas. No Comando de Operações Especiais, de onde saiu o cachorro que participou da missão contra Bin Laden, cerca de 34 animais foram mortos em ação entre 2006 e 2009, disse o major Wes Ticer. Os cães, às vezes enviados para cumprir até quatro turnos de serviço, se aposentam das Forças Armadas quando chegam aos oito ou nove anos de idade.

Em meados de maio, Rebecca Frankel, vice-editora executiva do site ForeignPolicy.com, postou no site um ensaio intitulado "War Dogs" (cães de guerra), com fotos de cães saltando de helicópteros, mergulhando de paraquedas e descansando com marines. O ensaio ganhou vida viral e já foi visto 6,5 milhões de vezes -um recorde para o site.

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