quarta-feira, 25 de maio de 2011

Democracia na Síria pode mudar todo o Oriente Médio

Protestos em Duma, cidade próxima a Capital da Síria, Damasco
Há uma história circulando entre os usuários libaneses do Facebook, sobre um ativista pró-democracia sírio que outro dia foi parado em um posto de controle do exército sírio. Dizem que ele tinha um notebook e um pendrive no assento do passageiro ao seu lado. O soldado sírio os examinou e então perguntou ao motorista: “Você tem um Facebook?” “Não”, disse o homem, então o soldado o deixou passar.

É para se ter pena daquele soldado sírio à procura de um Facebook no assento do passageiro, mas esse é o tipo de regime. A Síria realmente não sabe o que a atingiu –como o Estado policial mais rígido na região poderia perder o controle sobre sua população, armada apenas com câmeras de celular e, sim, acesso ao Facebook e YouTube.

É possível ver como aconteceu apenas com um exemplo: vários dissidentes sírios se uniram e criaram do nada a “SNN” –Shaam News Network– um site de notícias que está postando as fotos de celular e os feeds do Twitter que vêm dos protestos por toda a Síria. Muitas emissoras de TV de todo o mundo, todas proibidas de entrar na Síria, estão usando as imagens divulgadas pela “SNN”. Minha aposta é que a “SNN” custa não mais do que apenas alguns poucos milhares de dólares e é o site obrigatório para se buscar vídeos do levante sírio. Desse modo, um regime que controlava todas as notícias, agora não consegue mais.

Eu não vejo como o presidente da Síria, Bashar Assad, pode durar –não devido ao Facebook, que seu regime adoraria poder confiscar, se pudesse encontrar esse raio de coisa– mas por causa de algo escondido a plena vista: muitas, muitas pessoas sírias que perderam o medo. Apenas na sexta-feira, o regime matou pelo menos mais 26 pessoas de sua própria população em protestos por todo o país.

Esta agora é uma luta até a morte –e é o maior espetáculo na terra, por um simples motivo: a Líbia implode, a Tunísia implode, o Egito implode, o Iêmen implode, o Bahrein implode –mas a Síria explode. O surgimento da democracia em todos esses outros países árabes mudaria seus governos e teria implicações regionais a longo prazo. Mas a democracia ou o colapso na Síria mudaria todo o Oriente Médio da noite para o dia.

Um colapso ou democratização do regime sírio teria ramificações imensas para o Líbano, um país que a Síria controla desde meados dos anos 70; para Israel, que conta com a Síria para manutenção da paz nas Colinas de Golã desde 1967; para o Irã, já que a Síria é a principal plataforma do Irã para exportação da revolução para o mundo árabe; para a milícia xiita libanesa Hizbollah, que recebe foguetes do Irã via Síria; para a Turquia, que faz fronteira com a Síria e compartilha muitas de suas comunidades étnicas, particularmente os curdos, alauitas e sunitas; para o Iraque, que sofreu com o fato de a Síria servir como entrada para homens-bomba jihadistas; e para o Hamas, cujo líder se encontra em Damasco.

Como a Síria é um país chave, há uma tendência entre seus vizinhos de esperar que o regime de Assad possa ser enfraquecido –e portanto moderado– mas não quebrado. Poucos ousariam confiar no povo sírio para desenvolvimento de uma ordem social estável a partir das cinzas da ditadura Assad. Esses temores podem ser apropriados, mas nenhum de nós vota. Apenas os sírios, e eles estão votando com seus pés e com suas vidas pela oportunidade de viverem como cidadãos, com direitos e obrigações iguais, e não peões de um regime mafioso.

Mais do que em qualquer outro país árabe hoje, os manifestantes pró-democracia na Síria sabem que quando saem para exigir pacificamente liberdade, eles estão enfrentando um regime que não hesita em matá-los. Os libaneses ficaram surpresos com sua simples coragem.

“Nós temos uma obrigação de solidariedade com pessoas em apuros, que estão lutando por sua liberdade e sua dignidade com meios não-violentos”, disse Michel Hajji Georgiou, um escritor do jornal “L’Orient Le Jour” de Beirute e um dos responsáveis pela Revolução do Cedro ocorrida aqui, em 2005. “Não é possível uma democracia estável no Líbano se não houver democracia na Síria.”

É claro, a pergunta de um milhão de dólares que paira sobre a rebelião síria, e todas as rebeliões árabes, é: as pessoas realmente podem se unir e redigir um contrato social para viverem juntas como cidadãos iguais –e não como seitas rivais– assim que a mão de ferro dos regimes é removida?

A resposta não é clara, mas quando se vê tantas pessoas desafiando pacificamente esses regimes, como na Síria, isso diz que algo muito profundo deseja vir à tona. Diz que apesar de nenhum árabe ser um cidadão atualmente, com direitos plenos e obrigações, como disse Hanin Ghaddar, editora do “NOWlebanon.com”, um site que acompanha as revoluções, “eles querem ser”, e essa é a razão de ser dos levantes.

Ghaddar acrescentou que ela voltou recentemente de Nova York, onde se deparou com manifestações rivais no Central Park, entre pessoas insistindo que charretes puxadas por cavalos eram ok, e ativistas de direitos dos animais, argumentando que essas charretes de rua colocavam em risco os cavalos. “Eu pensei: ‘Oh, meu Deus! Eu quero viver em um país onde eu tenha o luxo de me preocupar com o direito dos animais’’”, não com direitos humanos. “Nós ainda estamos longe desse luxo.”

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