terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Irã vê ascensão da linha-dura islâmica em terras árabes

Mais de um milhões de pessoas foram protestar contra o governo na Praça Tahrir, no Cairo
Esperando que os protestos que varrem as terras árabes possam criar uma abertura para as forças islâmicas radicais, os conservadores do Irã estão satisfeitos com os acontecimentos na Tunísia, no Egito e no Iêmen, cujos líderes seculares enfrentaram rebeliões de grande escala.

Enquanto o governo do presidente Mahmoud Ahmadinejad enfrentou sua própria revolta popular dois anos atrás - e a reprimiu com sucesso -, os conservadores iranianos dizem ver pouca semelhança entre aqueles eventos e as revoltas árabes; pelo contrário, compararam as recentes rebeliões à própria revolução islâmica no Irã em 1979.

"Na minha opinião, a República Islâmica do Irã deveria ver esses eventos sem exceção sob uma luz positiva", disse Mohammad Javad Larijani, secretário-geral do Conselho para Direitos Humanos Iraniano e uma das figuras mais francas entre os conservadores tradicionais do Irã.

Ele deixou claro que espera que o governo "anti-islâmico" de Zine El Abidine Ben Ali, que foi deposto na Tunísia, seja substituído por um "governo do povo", significando um em que as forças islâmicas conservadoras teriam o predomínio, assim como fizeram quando a população iraniana derrubou o xá Mohamed Reza Pahlevi, estabelecendo uma quase teocracia.

Do lado oposto estão os EUA e a França, ele disse, que "fazem o possível para surfar a onda e evitar que as pessoas estabeleçam o regime que elas desejam".

"Estou mais otimista sobre o Egito", disse Larijani em comentários publicados na sexta-feira no site Khabar Online, que é estreitamente ligado ao irmão dele, Ali Larijani, o presidente do Parlamento iraniano.

"Lá, os muçulmanos são mais ativos na agitação política, e se Deus quiser vão estabelecer o regime que quiserem", disse Mohammad Javad Larijani.

Alguns aqui repetiram a retórica pan-islâmica do fundador da República Islâmica, o aiatolá Ruhollah Khomeini.

"Hoje, em consequência dos dons da revolução islâmica no Irã, os povos islâmicos amantes da liberdade como as populações da Tunísia, Egito e países árabes próximos estão se erguendo contra seus governos opressivos", disse um importante religioso da linha-dura, aiatolá Mohammad Taghi Mesbah-Yazdi, que teria influência sobre Ahmadinejad.

Em comentários publicados na sexta-feira no site da agência de notícias semioficial Isna, Mesbah-Yazdi, que defende um sistema político em que as eleições simplesmente endossam líderes religiosos "escolhidos divinamente", cumprimentou a população da Tunísia e do Egito, afirmando que elas agiram "com base nos princípios" da revolução islâmica iraniana.

Enquanto isso, os líderes do movimento de oposição "verde" do Irã, que lideraram os grandes protestos de rua aqui dois anos atrás, depois da polêmica reeleição de Ahmadinejad, até agora não fizeram declarações sobre os acontecimentos na Tunísia, Egito e Iêmen.

Comentaristas estrangeiros tentaram traçar comparações e avaliar diferenças com a derrubada do governo de Ben Ali na Tunísia, mas muitos aqui consideraram as comparações forçadas e inconvincentes.

"Ninguém pode comparar a sociedade árabe com a iraniana", disse um ex-jornalista reformista que falou sob a condição de anonimato para evitar chamar a atenção dos serviços de segurança do Irã.

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