quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Obama e Netanyahu entram em choque em torno dos assentamentos israelenses

 Netanyahu e Obama
As críticas do presidente Barack Obama aos novos planos habitacionais israelenses para Jerusalém Oriental, e a resposta ainda mais dura do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, colocaram em risco as negociações de paz do Oriente Médio, com a disputa em torno dos assentamentos judeus despontando como um obstáculo aparentemente intransponível.

O governo Obama está lutando para o reinício das negociações diretas entre israelenses e palestinos, que emperraram no mês passado após a expiração do congelamento parcial da construção de assentamentos na Cisjordânia. A secretária de Estado, Hillary Rodham Clinton, planeja se encontrar com Netanyahu em Nova York na quinta-feira, enquanto o Egito enviou dois altos funcionários para Washington para discutir formas de salvar o processo.

Mas o diálogo brusco entre Obama e Netanyahu reflete novamente o abismo entre Israel e os Estados Unidos em relação aos assentamentos –uma questão que Obama transformou inicialmente na peça central de sua diplomacia para o Oriente Médio. As autoridades palestinas disseram que o mais recente anúncio por Israel ameaçava as negociações e poderia levar a uma declaração unilateral de um Estado palestino.

Quando perguntado sobre os planos de Israel para 1.000 unidades habitacionais na parte contestada de Jerusalém Oriental, Obama disse: “Este tipo de atividade nunca contribui para as negociações de paz”.

“Temo não estarmos vendo nenhum dos lados fazendo um esforço extra para obtenção de um avanço”, acrescentou o presidente durante sua visita à Indonésia. “Cada um desses passos incrementais podem acabar arruinando a confiança.”

Poucas horas depois, o gabinete de Netahyanu respondeu com uma declaração, dizendo que “Jerusalém não é um assentamento; Jerusalém é a capital do Estado de Israel”.

Os Estados Unidos e Israel têm diferenças conhecidas em torno de Jerusalém, disse o gabinete de Netanyahu na declaração, acrescentando que os planos de construção não deveriam afetar as negociações de paz.

Apesar de seus esforços para desenvolvimento de uma confiança mútua, Obama e Netanyahu parecem continuar não se entendendo. Na terça-feira, eles estavam distantes tanto de modo real quanto simbólico: o presidente expressou suas críticas a Israel enquanto visitava Jacarta, a capital do país muçulmano mais populoso do mundo.

Netanyahu estava em Nova York, em encontros com empresários, em meio a uma visita aos Estados Unidos que incluiu um discurso para um grupo judeu em Nova Orleans, na segunda-feira, no qual pediu a Washington que fosse mais agressivo nas ameaças de ataque militar contra o Irã caso não desista de seu programa nuclear.

Analistas disseram que o tom inflexível de Netanyahu –em contraste com sua reação desgostosa após uma disputa semelhante durante a visita do vice-presidente americano, Joe Biden, a Israel– confirma o ambiente político alterado nos Estados Unidos. A derrota dos democratas nas eleições de novembro, disseram os analistas, encorajaram Netanyahu a reagir mais duramente contra o governo.

“Ele está lidando com um presidente politicamente enfraquecido”, disse Daniel Kurtzer, um ex-embaixador americano em Israel. “Muitos de seus amigos em Washington são republicanos. Ele se sente mais à vontade com eles, de forma que ele sente estar mais livre agora.”

O embaixador de Israel nos Estados Unidos, Michael Oren, rejeitou esse ponto de vista.

“Nós não estamos buscando um confronto com o governo Obama”, ele disse.

Ele disse que Netanyanu aguarda ansiosamente a discussão com Clinton sobre “como vamos avançar, assim que superarmos este obstáculo”.

Mas Oren se recusou a dizer se Netanyahu ofereceria novas propostas para romper o impasse. Os Estados Unidos pediram para que ele prorrogasse o congelamento dos assentamentos por 60 dias em troca de incentivos à segurança.

As autoridades israelenses disseram que Netanyahu está cercado por sua coalizão de direita, que é contrária à prorrogação do congelamento. Alguns funcionários disseram que ao adotar uma linha-dura a respeito do direito de Israel de construir em Jerusalém, Netanyahu poderia ganhar respaldo político para uma concessão na Cisjordânia.

Na quarta-feira, Clinton se encontrará com o ministro das Relações Exteriores do Egito, Ahmed Aboul Gheit, e seu chefe de inteligência, Omar Suleiman. O Egito está preocupado com o impasse e as autoridades americanas disseram que esperam que os egípcios tentem suas próprias ideias para ressurreição das negociações, que poderiam incluir a promessa israelense de retirada de tropas de parte da Cisjordânia.

Se isso bastaria para satisfazer os palestinos sem uma prorrogação do congelamento de assentamos não é clara. Em outro gesto voltado aos palestinos, Clinton anunciará a contribuição financeira anual dos Estados Unidos à Autoridade Palestina na quarta-feira, disse um funcionário do governo.

Netanyahu tem apoiado a mistura de Obama de engajamento e sanções contra o Irã. Mas no seu discurso às Federações Judaicas da América do Norte em Nova Orleans, ele pediu uma abordagem mais agressiva.

“Se a comunidade internacional, liderada pelos Estados Unidos, espera impedir o programa nuclear do Irã sem recorrer à ação militar”, ele declarou, “ela terá de convencer o Irã de que está preparada para tomar tal ação”.

Dan Diker, analista sênior de política externa do Centro Jerusalém para Assuntos Públicos, disse que o discurso foi calculado para “elevar a opção militar para o primeiro parágrafo da política, em vez do terceiro ou quarto”.

Mas o secretário de Defesa americano, Robert Gates, disse que a ameaça de ação militar não é a melhor forma de dissuadir Teerã. Gates disse que as recentes sanções da ONU contra o governo iraniano estavam começando a surtir efeito.

O anúncio das unidades habitacionais por Israel veio na forma de planos para a revisão pública publicados nos jornais locais nesta sexta-feira, pouco antes de Netanyahu partir para Washington. Assim como em anúncios anteriores, as autoridades israelenses disseram que o momento foi determinado de modo burocrático e não politicamente.

Ainda assim, o momento gerou dúvidas sobre o que Netanyahu sabia. Depois da visita de Biden a Israel ter sido estragada em março por um anúncio semelhante, que Netanyahu disse ter sido uma surpresa para ele, as autoridades americanas disseram aos israelenses que não queriam mais surpresas.

Na época, os assessores de Netanyahu disseram que ele enviou cartas exigindo listas de planos para futuros assentamentos para evitar surpresas enquanto as conversações de paz estavam em curso. Não ficou claro se Netanyahu sabia sobre eles antes de serem publicados em jornais na semana passada. Na terça-feira, também ficou claro que cerca de 800 unidades seriam construídas no assentamento de Ariel, Cisjordânia.

Saeb Erekat, principal negociador palestino, disse que a ação por Israel foi “um pedido para o reconhecimento internacional imediato do Estado palestino”.

A liderança palestina tem falado sobre mudar seu foco para obtenção do reconhecimento internacional de um Estado palestino, caso a construção de assentamentos continue e as negociações de paz fiquem paralisadas. O governo Obama e os países árabes pediram para que não sigam por esse caminho.

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