quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Índia e Estados Unidos fazem parceria definidora

Barack Obama e Manmohan Singh
Três décadas e dois oceanos estão entre o presidente Barack Obama e o primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh. Mas em um palco após uma coletiva conjunta realizada aqui na segunda-feira, os dois homens, nenhum deles conhecido por seu entusiasmo social, estavam inseparáveis: o braço do presidente americano jovem e magro apoiado firmemente no ombro do homem mais velho, com Singh sorrindo largamente e seu braço em torno da cintura de Obama.

Mais de uma vez durante sua visita de três dias, Obama chamou o relacionamento entre a Índia e os Estados Unidos de “parceria definidora do século 21”. Mas o relacionamento entre os dois homens também evoluiu para algo como uma amizade. Obama chamou Singh de seu guru e, na segunda-feira, Singh chamou Obama de “um amigo pessoal e um líder carismático, que deixou uma marca profunda nos assuntos mundiais”.

O relacionamento longo e complicado entre os Estados Unidos e a Índia passou de um abraço caloroso, muito antes da independência, ao gélido da Guerra Fria e à reconciliação dos últimos anos, baseada nos valores democráticos e multiculturais compartilhados e um desejo de compensar a influência de uma China em ascensão.

Mas enquanto amplas forças históricas moldam o relacionamento, um laço pessoal parece estar se formando entre os líderes das duas maiores democracias do mundo, que desenvolveram um entendimento fácil em seus numerosos encontros internacionais e agora oferecem jantares de Estado um ao outro em visitas recíprocas.

“O entendimento pessoal é muito importante”, disse Ronen Sen, que até o ano passado foi o embaixador da Índia nos Estados Unidos.

O presidente Dwight D. Eisenhower tinha em alta consideração o primeiro premier da Índia, Jawaharlal Nehru. Quando o presidente visitou a Índia em 1959, os dois visitaram vilarejos juntos em um conversível, e Eisenhower foi recebido de forma calorosa pelo público em todos os lugares onde esteve.

A filha de Nehru, Indira Gandhi, que se tornou primeira-ministra em 1966, encantou facilmente o presidente Lyndon B. Johnson naquele ano, em sua primeira visita aos Estados Unidos. Ele considerou irresistível a mulher jovem e elegante, estendendo tanto o encontro na casa do primo de Gandhi que ele teve que ser convidado para o jantar.

As relações de Gandhi com o presidente Richard M. Nixon foram notoriamente ruins. Mas quando ela e o presidente recém-eleito Ronald Reagan se encontraram em Cancún, México, em um encontro de cúpula para o desenvolvimento internacional, eles se deram bem, para surpresa de todos. Reagan convidou Gandhi para uma visita de Estado e ela aceitou.

“No auge da Guerra Fria, devido a uma química pessoal, Índia e Estados Unidos conseguiram criar um degelo em suas relações”, disse Lalit Mansingh, um ex-ministro das Relações Exteriores e embaixador nos Estados Unidos.

O partido nacionalista hindu de Atal Bihari Vajpayee, o primeiro-ministro da Índia de 1998 a 2004, tinha uma ideologia de centro-direita que se encaixava com a do presidente George W. Bush. Os dois homens acabaram conseguindo negociar um acordo que pôs fim ao exílio nuclear da Índia.

Bush e Singh consolidaram o acordo em 2005.

“Eles se entendiam extremamente bem”, disse Sen, o embaixador nos Estados Unidos na época.

À primeira vista, parecia existir um laço improvável entre Bush, informal e dado a tapinhas nas costas, e Singh, um acadêmico reservado, 14 anos mais velho do que ele. Mas o profundo interesse de Bush na Índia impressionou Singh, disseram funcionários que observaram o relacionamento de perto.

Sunanda K. Datta-Ray, um jornalista indiano que escreveu um livro sobre as relações entre os Estados Unidos e a Índia, disse que ele também ficou surpreso com o entendimento entre os dois homens e perguntou a Singh a respeito. Singh respondeu que apreciava a natureza franca e sem rodeios de Bush.

“Ele disse que ele era uma pessoa bastante calorosa e humana”, disse Datta-Ray.

Singh deu muito que falar quando disse a Bush, após um encontro na Casa Branca, que “as pessoas na Índia amam você profundamente”.

Um entendimento entre Obama e Singh talvez cause menos surpresa. Ambos são melhores nas complexidades das políticas do que em cumprimentos políticos. Ambos desfrutam de uma adulação no palco global que parece ausente em casa. Obama chegou à Nova Déli recém saído da derrota de seu partido nas eleições deste mês, em que os democratas perderam a maioria na Câmara e viram seu controle do Senado fortemente reduzido.

Singh, uma figura celebrada globalmente e que foi renomeado primeiro-ministro quando o Partido do Congresso venceu as eleições parlamentares, poucos meses depois da chegada de Obama à Casa Branca, tem enfrentado críticas em casa pelo modo como tem lidado com a crise na Caxemira, pelo aumento dos preços dos alimentos e pelos supostos erros na forma com a Índia tem lidado com seu arquirrival, o Paquistão.

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