quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Tribunal Especial para o Líbano é alvo do Hezbollah e de seus aliados

 Há quase três meses, as tensões intercomunitárias vêm voltando com novo vigor no Líbano. Elas se dão em torno do papel do Tribunal Especial para o Líbano (TEL), encarregado de julgar os supostos responsáveis pelo atentado perpetrado no coração de Beirute que matou o ex-premiê libanês Rafic Hariri, no dia 14 de fevereiro de 2005. Esse atentado precipitou a retirada do exército sírio do Líbano, para onde havia sido enviado durante a guerra civil (1975-1990). Parte das forças políticas libanesas (a Aliança de 14 de Março) havia acusado então a Síria desse assassinato.

O ex-chefe da segurança geral libanesa, Jamil Sayyed, é o ponta de lança da ofensiva contra o TEL lançada no verão pelo Hezbollah xiita e seus aliados. No dia 22 de julho, o secretário-geral do Hezbollah elevou a tensão ao anunciar estar esperando por acusações de membros do partido xiita pelo atentado de 2005.

Preso no dia 30 de agosto de 2005 a pedido da comissão internacional encarregada da investigação, o general Sayyed foi afinal libertado no dia 29 de abril de 2009 com três outros ex-dirigentes, por falta de provas. Desde essa libertação, ele tem feito cada vez mais ataques e procedimentos. Depois de ter denunciado um “grande complô” e acusações sobre “uma rede de falsas testemunhas”, ele pediu pela demissão do procurador do tribunal, Daniel Bellemare, e fez declarações incendiárias a respeito do primeiro-ministro, Saad Hariri, o próprio filho de Rafic Hariri.

“Politização” e “instrumentalização”

Originário da Bekaa, Jamil Sayyed fez carreira no exército libanês, na área da inteligência. Ele foi promovido à direção da segurança geral após a eleição do ex-chefe do estado-maior, Emile Lahoud, ao posto de presidente da República, em 1998, quando a Síria dispunha de uma grande influência no Líbano. Ele manteve seu posto até abril de 2005.

As acusações feitas pelo general Sayyed contra o TEL se somam às do Hezbollah que denunciam a “politização” e a “instrumentalização” dessa instituição criada após uma votação do Conselho de Segurança das Nações Unidas, em 2007. O Hezbollah acusa o TEL de ter deliberadamente descartado de sua investigação pistas alternativas, como a de um atentado organizado por Israel. Além disso, a milícia xiita organizou uma demonstração de força no aeroporto de Beirute, em setembro, para receber Jamil Sayyed que voltava do exterior.

No domingo, a Síria se juntou simbolicamente a essas críticas, emitindo mandados de prisão contra 33 personalidades libanesas, árabes e estrangeiras, inclusive aliados de Hariri. Essa iniciativa se segue a uma queixa prestada na Síria pelo general Sayyed contra as “falsas testemunhas” responsáveis por sua prisão.

Em uma entrevista cedida ao jornal francês “Libération”, na terça-feira (5), o ex-chefe da segurança libanesa se mostrou alarmista, garantindo que em caso de acusação do Hezbollah, “o sistema [libanês] entrará em colapso de cima a baixo e isso levará a uma instabilidade política, securitária, e tudo pode acontecer”.

Ele afirma, por fim, que um aliado do primeiro responsável pela investigação sobre o atentado, Detlev Mehlis, lhe havia oferecido propor um acordo às autoridades sírias, apesar da falta de provas sobre seu possível envolvimento.

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