sábado, 4 de setembro de 2010

Comentaristas palestinos e israelenses estão pessimistas com a paz

Manifestantes queimam bandeiras de Israel e dos EUA durante manifestação em Istambul
Comentaristas palestinos e israelenses se mostravam pessimistas na sexta-feira, ao avaliarem o encontro de seus líderes em Washington nesta semana. Muitos o descreveram como teatro político –ternos escuros, apertos de mão cordiais e discursos grandiosos– oferecendo pouca chance de um fim para o conflito.

Alguns israelenses se concentraram no aumento de colonos judeus baleados pelo Hamas e na fraqueza política do presidente palestino, Mahmoud Abbas. Os palestinos temiam que o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, tinha pouca intenção de abrir mão daquilo que considerava seu por direito –todas as terras ocupadas em um Estado realmente soberano.

“O coração anseia pelo sucesso desta mais recente tentativa de paz”, escreveu David Horovitz, editor do “The Jerusalem Post”. Mas a cabeça “teme que o retorno nesta semana dos ataques terroristas seja apenas a primeira consequência homicida”.

Sam Bahour, um empresário da cidade palestina de Ramallah, disse em uma entrevista por telefone que a comunidade empresarial palestina estava dividida entre aqueles que preveem o fracasso das negociações e aqueles que esperam um acordo tão desigual em prol de Israel que torne a paz uma farsa.

“Nós estamos fadados a uma longa, longa crise”, ele disse.

Alguns comentaristas não estavam tão alarmados, mas havia poucos otimistas, um reflexo dos numerosos fracassos das conversações de paz diretas nos últimos 17 anos e a sensação de que, até o momento, o novo processo não parece diferir dos anteriores.

Adnan Abdellatif, um empresário de Jerusalém Oriental, era um dos menos pessimistas. Ele expressou preocupação com a habilidade dos negociadores palestinos diante da dura equipe israelense, mas estava feliz pelas negociações estarem ocorrendo e espera que possam levar a um acordo.

“Nós temos que conversar uns com os outros”, ele disse por telefone. “Não há outra escolha.”

O panorama geral em Israel era de que a rodada inicial dava pouco indício de para onde as coisas estavam caminhando.

“O que foi apresentado ontem e há dois dias em Washington foi teatro”, escreveu Nahum Barnea, um colunista do jornal israelense “Yediot Aharonot”. Os atores, ele notou, “recitaram bem seus textos e os leram seriamente, com otimismo cauteloso e responsabilidade solene, como exigido”. Ele acrescentou: “Foi algo digno, digno até o tédio”.

Alon Pinkas, um ex-cônsul geral israelense em Nova York, viu cinismo em ambos os lados. Em um artigo de opinião no jornal “Maariv”, ele disse que os palestinos querem na verdade que Israel mantenha o controle da Cisjordânia, para que enfrente censura internacional e isolamento. Israel, ele escreveu, quer apenas passar a impressão de estar buscando um acordo, como “um tributo pago aos Estados Unidos”, mas não planeja abrir mão de nada importante. Ele disse que a única esperança seria uma solução apresentada pelo presidente Barack Obama.

Muitos analistas se concentraram no prazo de 26 de setembro, quando terminará a moratória de 10 meses na construção de assentamentos na Cisjordânia, como um provável ponto de crise. Netanyahu indicou repetidamente que não prorrogará a suspensão e Abbas diz que a não prorrogação causará o fim das negociações.

Mas o pouco que veio à tona de Washington sugere que os dois líderes estão buscando um meio de contornar o problema. Eles marcaram uma nova reunião para 14 de setembro, provavelmente no Sinai egípcio, na presença da secretária de Estado americana, Hillary Clinton e de George J. Mitchell, o emissário especial do governo Obama para o processo.

Assessores de Netanyahu indicaram que ele propõe colocar todos os assuntos difíceis na mesa de uma vez –assentamentos, fronteiras, Jerusalém, segurança e os refugiados palestinos e seus descendentes– com os dois líderes se encontrando a cada duas semanas. Ao estabelecerem uma estrutura na qual nenhuma questão individual existirá por conta própria e todas sejam negociadas no mais alto nível e sigilo, ele espera promover um processo no qual ambos os lados cederão.

Desta forma, ele espera, quando chegar 26 de setembro e a construção limitada for retomada, Abbas não abandonará a negociação porque a construção de assentamentos será apenas uma dentre várias questões que ele estará negociando.

Ehud Barak, o ministro da Defesa israelense, já deixou escapar em uma entrevista para o jornal “Haaretz” que Israel planeja dividir Jerusalém, algo que supostamente seria anátema para Netanyahu.

“Jerusalém Ocidental e 12 bairros judeus que abrigam 200 mil moradores serão nossos”, disse Barak na entrevista nesta semana. “Os bairros árabes, nos quais vive aproximadamente um quarto de milhão de palestinos, serão deles. Haverá um regime especial implantado segundo os acordos fechados na Cidade Velha, no Monte das Oliveiras e na Cidade de Davi.”

Aqueles que rejeitam a simples ideia dessas negociações –o Hamas entre os palestinos e os colonos entre os israelenses– expressaram confiança de que fracassarão. Os colonos disseram que já estavam construindo novas casas em desafio ao congelamento das construções e aos ataques do Hamas.

Em Gaza, o Hamas e sua aliada, a Jihad Islâmica, realizaram um comício na sexta-feira em oposição a qualquer acordo com Israel.

Ismail Ashqar, uma autoridade do Hamas, disse que toda a terra da Palestina, incluindo o que atualmente é Israel, “é um dote islâmico para todos os muçulmanos”, enfatizando que a Autoridade Palestina e seus negociadores “não podem dar um único grão de poeira de seu solo”.

Khaled al Batsh, um líder da Jihad Islâmica, elogiou os militantes do Hamas que atacaram os israelenses nesta semana perto de Hebron e Ramallah, matando quatro e ferindo dois, dizendo que eles “infligiram dor ao inimigo”. Al Batsh acrescentou que “negociações só podem ser detidas por uma barragem de balas e explosões barulhentas”.

Alguns poucos comentaristas deixaram espaço para otimismo e surpresas. Barnea, o colunista do “Yediot Aharonot”, disse no final de sua coluna que se o que ocorreu em Washington foi teatro, então Netanyahu interpretou bem.

“Mas talvez não tenha sido um teatro”, ele escreveu. “Não apenas teatro. Não desta vez.”

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