segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Exército se moderniza com etiquetas inteligentes


O exército brasileiro pretende ter todos os seus depósitos de suprimentos utilizando etiquetas inteligentes em seus materiais, como forma de rastrear e ter um melhor controle dos equipamentos até março do próximo ano

Coronel Luiz Antonio de Almeida Ribeiro
A tecnologia de reconhecimento e transmissão de dados por meio de etiqueta com radiofrequência (RFID, da sigla em inglês) foi implementada pela empresa Saint Paul, primeiro em depósitos de São Paulo e Rio de Janeiro, no ano passado.

Juntos, eles controlam, por meio da tecnologia, 150 produtos de 600 fornecedores diferentes. "Começamos o contato há dois anos e vi a necessidade deles, e com isso apresentamos outros parceiros para a implementação", diz Luciana Cabrini, diretora de marketing da Saint Paul.


Até o momento, o projeto compreende uniformes, calçados, capacetes e material de acampamento e está sendo ampliado para os alimentos e produtos de higiene. O exército já investiu R$ 312 mil no projeto.

Segundo o coronel Luiz Antônio de Almeida Ribeiro, chefe do 21º depósito de suprimento e coordenador da iniciativa, apenas uma operação realizada em um único dia compensou quase o valor total, que aconteceu no início deste ano.

Na ocasião, o coronel montou um sistema para a chegada de alunos da Escola Preparatória de Cadetes, em Campinas. Logo que se apresentavam, suas medidas eram tiradas e cadastradas num computador.

Cada registro era relacionado a um item disponível no 21º depósito, identificado com uma etiqueta inteligente e reservado imediatamente. No dia seguinte, cada um dos 600 alunos recebeu caixas com todo o material próprio.

"Antes da automatização, não podíamos correr o risco de um aluno ser impedido de entrar por falta de uniforme, então o exército enviava 30% a mais de cada tamanho de roupa. Desta vez, esse material adicional não precisou nem ser comprado", afirma o coronel, que estimou a economia feita em R$ 208 mil.

Para 2011, a mesma experiência deve ser aplicada para 70 mil soldados, o que deve estender o corte de custos para toda a organização.

Segundo o responsável pelo projeto na organização GS1 Brasil, Wilson Cruz, os resultados imediatos no Exército surpreendem. "Implementações de RFID na iniciativa privada costumam trazer retorno sobre os investimentos entre um ano e um ano e meio", diz.

Planos

Há também um projeto-piloto em andamento para o uso da identificação por radiofrequência em armamentos. O exército estuda formas de tornar rastreável cada parte da arma.

O plano prevê colocar uma etiqueta de forma aleatória em cada armamento, e outras partes serem reconhecidas por meio de raio laser.

O Centro de Tecnologia do Exército, baseado no Rio de Janeiro, também desenvolve um sistema para que o armamento deixe de funcionar se a sua etiqueta inteligente for retirada. "O objetivo é complicar o máximo possível o uso para quem tiver interesse em desviar equipamento militar", afirma o coronel.

Uma dificuldade maior está em levar o controle às munições. Elas possuem fulminato de mercúrio, que reage com a radiofrequência, levando ao risco de explosões. A solução avaliada seria colocar a etiqueta em caixas que armazenam as munições.

O projeto pode parecer de uma simples busca por economia, mas tem um caráter mais estratégico, defende o coronel. Um dos principais conceitos de estratégia militar diz respeito à mobilização — a velocidade com que uma organização de Forças Armadas consegue estar pronta para um combate.

A tecnologia de RFID faz o trabalho de logística ganhar eficiência e controle, o que diminuiria o tempo de mobilização nacional.

O uso avançado de tecnologias que agilizam as operações das força armada terrestre tem atraído atenção. Segundo Wilson Cruz, da GS1 Brasil, a Marinha, Polícia Federal e algumas unidades de Corpos de Bombeiros avaliam adotar a iniciativa.

Até mesmo a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) soube do projeto, por meio da GS1, e demonstrou interesse.

Para o coronel Ribeiro, a maior surpresa foi o pedido de visita ao depósito em São Paulo de representantes da Lockheed Martin, a americana fabricante de armamentos e uma das principais criadoras tecnologias de defesa, responsável pela produção de jatos militares e mísseis.

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