Para aqueles que sobreviveram à Guerra da Coreia, a imagem do porta-aviões nuclear George Washington liderando uma frota de navios dos Estados Unidos e da Coreia do Sul ao longo da costa leste da Península Coreana, no 57º aniversário do armistício temporário, é de fato alarmante. Em uma iniciativa cujo objetivo é punir a Coreia do Norte pela sua suposta ação que teria resultado no afundamento de um navio de guerra sul-coreano, a corveta Cheonan, os Estados Unidos e a Coreia do Sul estão exibindo o seu poderio militar com a mobilização de navios norte-americanos e sul-coreanos, mais de 200 aeronaves, incluindo aviões de caça F-22 Raptor, e 8.000 soldados.
A provocação militar de todos os lados demonstra no mínimo a fragilidade do acordo de armistício, que foi assinado pela Coreia do Norte, pela China e pelos Estados Unidos no dia 27 de julho de 1953. Ela revela até que ponto a inexistência de um tratado de paz poderia desencadear uma nova guerra, não apenas entre as duas Coreias, mas entre os Estados Unidos e a China.
Na verdade, ao contrário da retórica cheia de promessas de conversações que emana da Casa Branca, o presidente Barack Obama está dando continuidade às políticas duras do seu predecessor, baseadas em sanções e em exibição de poder militar. Essas políticas têm se mostrado contraproducentes e nada fizeram para reduzir o risco de proliferação nuclear. E o pior é que elas estão na verdade fazendo com que aumente a probabilidade de um conflito militar no nordeste da Ásia.
A secretária de Estado Hillary Rodham Clinton anunciou na semana passada, durante uma visita à zona desmilitarizada, que os Estados Unidos pretendem impor sanções mais pesadas contra a Coreia do Norte. Embora a secretária Hillary Clinton afirme que “essas medidas não são dirigidas contra o povo da Coreia do Norte”, é de fato a população norte-coreana que sofrerá com as sanções dos Estados Unidos.
O congelamento de bens e recursos norte-coreanos, em particular, restringe a capacidade do país de comprar os materiais de que necessita para atender às necessidades básicas da população no que se refere a alimentação, serviços de saúde, saneamento e educação. Além do mais, sanções nunca tiveram sucesso em pressionar a Coreia do Norte a se desarmar. Ao contrário, a Coreia do Norte considera as sanções econômicas um ato de guerra, e respondeu a tais sanções com a aceleração do seu programa de armamentos nucleares.
A História nos ensinou que a exibição de poderio militar, como os atuais exercícios bélicos, não modificam as políticas seguidas pela Coreia do Norte. Ao contrário, Pyongyang vê as manobras como uma maneira de testar a sua disposição, e advertiu que conterá essas manobras com “uma resposta física” própria. E o pior é que Pequim agora acha que os exercícios militares conjuntos dos Estados Unidos e da Coreia do Norte estão ocorrendo muito próximos à sua costa, e encaram essas manobras como uma ameaça à segurança da China e da região.
A resposta da comunidade internacional às tensões surgidas com o afundamento da embarcação sul-coreana ficou claramente delineada na declaração do dia 9 de julho do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), que pede urgentemente “a aderência total ao Tratado de Armistício Coreano” e “a solução de problemas importantes” por meio “do diálogo direto e da negociação” de forma a evitar uma “escalada”.
O governo Obama deveria dar atenção ao Conselho de Segurança da ONU, deslocando-se da sala de guerra para a mesa de negociações. A Coreia do Norte concordou, em troca, com conversações entre seis partes. O governo Obama deveria fazer o mesmo.
Conforme disse o ex-embaixador dos Estados Unidos na Coreia do Sul, James Laney, o que deveria “estar no topo da agenda... a fim de que se removam obstáculos para o progresso... é a criação de um tratado de paz para substituir o armistício que está em vigor desde 1953”.
Coreanos na península e no exterior afirmam que 60 anos de animosidade e guerra são mais do que suficientes.
Como coreana-americana, eu não posso ignorar as história tristes de divisões familiares, especialmente aquelas de pessoas idosas que poderão morrer em breve sem que revejam as suas famílias. Eu não conheço um só coreano, seja nos Estados Unidos ou na Coreia, que não fique extremamente comovido ao ver irmãos se abraçando pela primeira vez em meio século. Os nossos líderes nacionais podem continuar escolhendo a guerra e a divisão ou optar pela paz e pela reconciliação. Nós devemos implorar a eles que façam uma escolha sábia.
Christine Ahn é analista política do Instituto de Políticas da Coreia e integrante da Campanha Nacional pelo Fim da Guerra Coreana.
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