terça-feira, 9 de setembro de 2014

Plano dos EUA para destruir Estado Islâmico pode ir além de 2016

O governo Obama está se preparando para realizar uma campanha contra o Estado Islâmico que pode levar três anos para ser concluída –e poderá exigir um esforço contínuo para além do mandato do presidente Barack Obama, de acordo com altos membros do governo.

A primeira fase é uma campanha com cerca de 145 ataques aéreos, que está em andamento há um mês para proteger as minorias étnicas e religiosas e membros do corpo diplomático, de inteligência e os militares norte-americanos e suas instalações, bem como para começar a recuperar territórios do Estado Islâmico no norte e no oeste do Iraque.

A próxima fase, que começaria em algum momento quando o Iraque constituísse um governo mais inclusivo, marcada nesta semana, deverá envolver um esforço intenso para treinar, assessorar e equipar as forças armadas iraquianas, combatentes curdos e, possivelmente, membros de tribos sunitas.

A fase final, a mais difícil e mais politicamente controversa da operação --a destruição do exército terrorista em seu porto seguro dentro da Síria--, talvez não seja concluída ainda neste governo. De fato, alguns estrategistas do Pentágono imaginam que esta campanha militar tenha duração mínima de 36 meses.

Obama fará um discurso à nação na quarta-feira (10), quando defenderá o lançamento de uma ofensiva liderada pelos EUA contra os militantes sunitas que estão ganhando terreno no Oriente Médio, buscando angariar apoio para uma missão militar ampla enquanto garante à população que não está mergulhando as forças dos EUA em outra guerra no Iraque.

"O que eu quero que as pessoas entendam", disse Obama em entrevista ao programa da NBC Meet the Press que foi ao ar no domingo (7), "é que, ao longo dos meses, nós vamos ser capazes não apenas de diminuir o ímpeto" dos militantes. "Vamos degradar sistematicamente as suas capacidades, vamos diminuir o território que controlam e, finalmente, vamos derrotá-los", afirmou.

A campanha militar que Obama está preparando não tem precedentes óbvios. Ao contrário das operações de contraterrorismo dos EUA no Iêmen e no Paquistão, não se espera que ela seja limitada a ataques aéreos por drones contra a liderança militante. Ao contrário da guerra no Afeganistão, a campanha não vai incluir o uso de tropas terrestres, descartado por Obama.

Ao contrário da guerra do Kosovo que o presidente Bill Clinton e os países da Otan travaram em 1999, esta não vai ser uma campanha aérea intensiva e comprimida de 78 dias. E, ao contrário da campanha aérea que derrubou o líder líbio Muamar Gaddafi em 2011, o governo Obama não está mais "liderando pela retaguarda" e planeja desempenhar um papel central na construção de uma coalizão para combater o Estado Islâmico.

"Nós temos a capacidade para destruir o EI", disse o secretário de Estado, John Kerry, na semana passada, na reunião de cúpula da Otan no País de Gales. "Pode demorar um ano, pode demorar dois anos, pode levar três anos. Mas estamos certos de que tem que acontecer."

Antony Blinken, vice-assessor de segurança nacional de Obama, sugeriu que os Estados Unidos estão ingressando em uma missão prolongada. "Vai levar tempo para chegar ao ponto da derrota, provavelmente mais tempo do que este governo", disse Blinken na semana passada à CNN.

Kerry deve ir para o Oriente Médio em breve para solidificar a coalizão contra o Estado Islâmico. E o secretário de defesa, Chuck Hagel, irá para Ancara, na Turquia, na segunda-feira, para conquistar outro potencial aliado na luta contra o grupo militante sunita.

Embora os detalhes de como a coalizão emergente combaterá o Estado Islâmico continuem incertos, várias autoridades norte-americanas disseram que a lista de aliados até agora inclui a Jordânia, oferecendo ajuda de inteligência, e a Arábia Saudita, que tem influência sobre as tribos sunitas no Iraque e na Síria e que vem financiando os rebeldes sírios moderados.

Segundo as autoridades, os Emirados Árabes Unidos também se mostraram dispostos a considerar ataques aéreos no Iraque. A Alemanha disse que vai enviar armas aos combatentes peshmerga no Curdistão. E a preocupação crescente com os combatentes estrangeiros retornando da Síria e do Iraque também pode ter estimulado o Reino Unido, a Austrália, a França e a Dinamarca a integrarem a aliança.

Os membros do governo reconheceram, porém, que fazer com que esses mesmos países concordem com os ataques aéreos na Síria estava se provando mais difícil.

"Todo mundo está a bordo no caso do Iraque", disse um membro do governo sob condição de anonimato porque a política ainda está sendo desenvolvida. "Mas quando se trata da Síria, há mais preocupações" com as consequências dos ataques aéreos.

A autoridade, no entanto, expressou confiança de que os países acabariam concordando em levar a luta para a Síria em parte porque "realmente não há outra alternativa", disse.

O discurso que Obama pretende fazer sugere que ele está se aproximando de uma decisão sobre muitas questões pendentes, inclusive até que ponto a Casa Branca pode ampliar a campanha aérea de forma a incluir alvos ao longo da fronteira da Síria para atingir a liderança do Estado Islâmico e seus equipamentos, seus depósitos de suprimentos e centros de comando. O horário do discurso de quarta-feira não foi anunciado.

As autoridades negaram várias vezes o envio de tropas de combate terrestre, uma promessa que Obama reafirmou em sua aparição no programa Meet the Press.

"Não vai ser um anúncio sobre o envio de tropas terrestres norte-americanas", disse ele. "Não é o equivalente à Guerra do Iraque."

Não está claro, entretanto, se essa declaração exclui a eventual implantação de um pequeno número de unidades de operações especiais americanas ou de agentes da CIA para coordenarem os ataques aéreos em nome de combatentes curdos, das forças iraquianas e das tribos sunitas, um procedimento que torna muito mais fácil fazer a distinção entre militantes do Estado Islâmico, civis e guerrilheiros que combatem o Estado Islâmico.

(Eric Schmitt e Michael R. Gordon colaboraram a partir de Washington e Helene Cooper de Tbilisi, Geórgia. Julie Hirschfeld Davis contribuiu com a reportagem de Washington e Azam Ahmed de Irbil, Iraque.)

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