Alguns gostam de idealizar Vladimir Putin como o sucessor ideológico dos líderes soviéticos de esquerda, mas isso é tolice. Seus discursos oferecem evidência clara de que seus pontos de referência se originam no fascismo.
Para entender Putin, é preciso ouvi-lo. É preciso ler o que ele quer. Mais importante, é preciso ver o que ele busca impedir. Com frequência, os temores e as aversões de um político dizem mais sobre ele ou ela do que seus planos e promessas.
E o que é que move Putin? O tema central de todos os seus discursos é o medo de um cerco --a ameaça representada pelas potências que querem impedir a ascensão do povo russo, por temerem sua força interior.
"Eles tentam constantemente nos encurralar, porque temos uma posição independente, porque a mantemos e porque podemos chamar as coisas do que são sem nos envolvermos em hipocrisia", disse Putin em um discurso em 18 de março. Em uma entrevista para a TV em abril, ele disse: "Há forças suficientes no mundo que temem nossa força, 'nossa enormidade', como disse um de nossos soberanos. Eles buscam nos dividir em partes".
Ameaça à alma russa
Ainda permanece uma tendência de ver a política externa do Kremlin principalmente pelo prisma geopolítico --que o país está buscando recuperar parte do território que perdeu com a dissolução da União Soviética. Mas quando Putin fala do inimigo do povo russo, ele fala sobre algo mais profundo e mais básico. As forças contra as quais ele declarou guerra não estão apenas buscando expandir sua influência cada vez mais para o Leste --elas também estão atrás da alma russa. Isso é o que ele quer dizer quando diz que a Rússia deve combater o Ocidente.
Mas qual é a essência dessa alma? Putin também forneceu sugestões sobre isso. "Parece-me que a pessoa russa ou, em uma escala maior, uma pessoa do mundo russo, pensa primeiro sobre sua designação moral mais alta, sobre algumas verdades morais superiores", disse ele na entrevista. Em contraste a isso, há um Ocidente fixado no sucesso e prosperidade pessoal, como declara Putin, no "eu interior". Na visão de seu presidente, a batalha que a Rússia está travando é ideológica em sua natureza. É uma luta contra a superficialidade do materialismo, contra o declínio dos valores, contra a feminização e efeminação da sociedade --e contra a dissolução de todos os laços tradicionais diante desses desdobramentos. Resumindo, contra tudo que é "não russo".
Mesmo hoje, muitos têm dificuldade em reconhecer a verdadeira natureza de um homem que está no processo de virar do avesso a ordem pacífica europeia. Talvez não tenhamos a coragem de fazer as comparações certas, por elas nos recordarem de uma era que achávamos ter deixado para trás. Dentro do Partido de Esquerda da Alemanha e em partes do Partido Social Democrata de centro-esquerda, Putin ainda é visto como um homem moldado na tradição do líder de partido soviético, que defende uma versão idealizada do socialismo. A velha solidariedade por reflexo ainda está lá. Mas ela se baseia em um equívoco, porque Putin não é um pós-comunista. Ele é um pós-fascista.
Uma busca pela analogia histórica correta deveria se concentrar nos eventos de Roma, em 1919, em vez de Sarajevo, em 1914. Não demorará para aqueles que entrarem no mundo das câmaras de eco e metáforas que dão cor ao pensamento de Putin identifiquem as características que também estavam presentes no nascimento do fascismo. Há o culto ao corpo de Putin, a retórica elevada de autoafirmação, a difamação de seus oponentes como degenerados, seu desprezo pela democracia e pelo parlamentarismo ocidental, seu nacionalismo exagerado.
Os inimigos da liberdade na extrema direita europeia sentiram desde cedo a mudança do clima político. Eles entenderam imediatamente que, em Putin, há alguém que compartilha as obsessões e aversões deles. Putin responde os reconhecendo como indivíduos de mentalidade semelhante. "Quanto ao repensar dos valores nos países europeus, sim, eu concordo que estamos testemunhando este processo", disse ele ao seu entrevistador na TV, na última quinta-feira, apontando para a vitória de Victor Orban na Hungria e para o sucesso de Marine Le Pen na França. Foi a única coisa positiva que ele disse em toda a entrevista de quatro horas.
Missão histórica para o povo russo
Quando foram introduzidas há um ano, as pessoas também não reconheceram o verdadeiro significado das novas leis antigay da Rússia. Mas hoje está claro que elas marcaram o surgimento da nova Rússia. O que começou como uma lei antigay agora prossegue em outro nível: a progressão lógica da crença de que certos grupos são inferiores é a crença na superioridade do próprio povo de alguém.
E quando Putin evoca o mito de Moscou como uma "Terceira Roma", está claro que ele está atribuindo ao povo russo uma missão histórica. Cabe à Rússia não apenas a responsabilidade de deter a decadência do Ocidente em suas fronteiras, mas também fornecer um último bastião para aqueles que já perderam a esperança nessa batalha. Mas ele também está dizendo que a Rússia não pode se entregar.
"A morte é horrível, não é?", perguntou Putin aos espectadores ao fim de sua aparição na TV. "Mas não, parece que ela pode ser bonita se servir às pessoas: a morte pelos amigos, pelo povo ou pela pátria, para usar a palavra moderna." Nada poderia ser mais fascista.
*Jan Fleischhauer é autor da coluna política conservadora semanal da "Spiegel Online"
"A morte é horrível, não é?", perguntou Putin aos espectadores ao fim de sua aparição na TV. "Mas não, parece que ela pode ser bonita se servir às pessoas: a morte pelos amigos, pelo povo ou pela pátria, para usar a palavra moderna."
ResponderExcluirFosse dito por Obama seria um pronunciamento patriótico.
Seria interessante postar também um texto de alguém que não fosse um russófobo, que desse um overview do cenário com neutralidade, que buscasse esclarecer a postura da Rússia para com o ocidente e seus interesses, do contrário, a imparcialidade do blog fica comprometida.
ResponderExcluirO Ferreira Junior disse tudo. É uma questão de ótica, por onde se quer enxergar a situação.
Se Putin é o fascista pintado no texto, ele não vale menos que a elite sionista-maçônica que orquestra as desgraças globais em proveito próprio.
"Eles tentam constantemente nos encurralar, porque temos uma posição independente, porque a mantemos e porque podemos chamar as coisas do que são sem nos envolvermos em hipocrisia" - é o que há de verdadeiro nesse texto.
calma gente ocidente so esta fazendo o que sempre se fez, demonizar os que oferecem resisitencia........mudar a historia, pintando um quadro de heroismo indivdualista, como se isso fosse possivel............
ExcluirPelo menos sabes o que é o fascismo mesmo? Ou só o conhece dos livros didáticos e da televisão?
Excluirhummm o comentarista pode estar mesmo correto. ele n parece ter formação socialista, pelo contrário, além doq está tentando se manter no poder -- o que, diga-se, é oq aparentemente Quer o povo Russo também.
ResponderExcluirtambém é claro que ele está lutando por certo viés moral que aq no ocidente, "parece nao caber mais". mas é certa ingenuidade, ao meu ver, dizer que toda a luta de Putin é ideológica. ao meu ver, no poder político, nunca há luta ideológica. o que há é luta pelo poder e perpetuação do poder -- eu sei q é uma visao meio Foucotiana ou mesmo Maquiavelista mas geopolítica é isso.
ao meu ver nao há luta ideologica nao meu caro amigo alemao. há luta por sobrevivencia. é esse o ponto q putin está tentando trazer ao povo russo para se manter firme (e mantê-lo firme). qnd digo "sobrevivencia", n digo sobrevivencia de valores, ou de modo de vida, ou ainda de "permanencia no poder". Digo sobrevivencia no sentido curto: Sobrevivencia contra um estado Dominante que é o estado Americano. Não ha, ao meu ver, maneiras de se "estadodenizar" ninguem, tal qual fizeram no japão. E acredite, os japoneses vão aprender a duras penas "o erro que fizeram" ao se "ocidentalizarem", ou melhor "amenicanizarem".
Um país com baixissima natalidade, aonde as pessoas mal se falam, e a permanencia firme da sociedade (e não familia) tradicional -- aonde cada um cobra muito do outro, mas parece haver pouco valor em ser uma "pessoa". É disso que muitas nações sentem "medo". De se perderem nessa "homegeização forçada", desse Status Quo Americano que está caindo. O "sonho americano" é uma falácia fora da america. E parece que até mesmo alguns americanos já se tocaram disso (que é de fato uma falácia, até lá dentro).
Lutar para sobreviver... nao deixar de ser presidente, nao perder o seu si enquanto tal. Parece uma luta mesmo "fascista". Mas na verdade é uma luta contra a essa servidão forçada ao estado "onupresente" americano -- e putin como "bom" estadista sabe disso. E sabe que os USA estão contra ao que ele quer.
Michel, se eu falei alguma bobagem, por favor perdoe e acrescente sua opiniao.
Abraços aos amigos.
Não, Geopolítica não é isso, isso é o que você e alguns autores simplistas acham que ela é, pois esses brilhantes métodos que são inventados para teorizar o comportamento humano bitolaram a cabeça de todos nós. É preciso sair da caixinha para perceber que, apesar de Putim ser um risco para o futuro e um homem com sede de poder, ele é um dos poucos homens com alguma fibra moral e que ainda lutam pelo seu povo. Parte daí a necessidade do povo Russo em mantê-lo, já que o mundo está cheio de otários lutando por um abstrato "bem global comum" e indefinido. E não, ao contrário do que você pensa, o estado Americano não é dominante, é um dos pioneiros dominados a, em nome da elite global, lutarem para unir o mundo sob um só cetro, a diferença essencial é o fato dessa Elite encontrar em Putim uma resistência potencial ao domínio já exercido sobre a maior parte do mundo. A conjuntura engole completamente da velha análise Fascismo x Comunismo, ambos os movimentos foram pelo mesmo grupo instrumentalizados para que se possa dividir e conquistar as nações.
ExcluirRidícula essa afirmativa do jornalista de que "Putin não é um pós-comunista. Ele é um pós-fascista." O que acontece é que Putin acabou com a entrega da Rússia perpetrada por Gorbatchov e Yeltsin. Na minha visão Putin é, como digo, um "nacionalista ecumênico", isto é, nacionalista sim mas de boa e respeitosa convivência com todas as Nações. É a Rússia que está sendo cercada e Putin tem mesmo que tomar as devidas providências e está fazendo isso mesmo! (Henrique from Curitiba-PR)
ResponderExcluirAté parece que tem como "vender" a Rússia. Outra coisa, nacionalista não rouba o país.
ExcluirMichel, quando você diz "nacionalista não ROUBA o pais" introduz gratuitamente o tema "corrupção", exatamente como faz a elite argentária mais reacionária aqui no Brasil. Para completar o quadro só falta você também dar uma de "moralista seletivo" como são os "coxinhas" adeptos do PSDB. Mas este tema "corrupção" me recuso a debater, não me deixo dominar por este tipo de diversão, "diversão" no sentido estratégico operacional! (Henrique from Curitiba-PR).
ExcluirEu falei de Putin-Rússia, não do Brasil. Em tempo, Putin não é taxado na Rússia como nacionalista.
ExcluirHenrique, você não se deixa dominar por esse tipo de diversão porque provavelmente não pôde até hoje encontrar argumentos que a expliquem. A corrupção é um dos temas-chave para a conquista de território ideológico, principalmente pela Esquerda, afinal "Compraremos da burguesia a corda para enforcá-la" (Lenin). É incontestável que a corrupção do inimigo é fator essencial para subjuga-lo, portanto diversionismo mesmo é ignorar essa premissa.
ExcluirKiev,capital do reino de Rus quando Moscou era um lugarejo cheio de cabanas.Em 988 o principe vladimir de Kiev se converteu ao cristianismo.A capital do reino de Rus foi transferida para Moscou devido a invasão de Kiev e grande parte do reino Ocidental pelos mongóis no Sec. 12.Em 1453,Ivan III,herdou a herança religiosa,politica e cultural do agonizante Império Bizantino...Putin,não é ditador é um estadista de uma nação poderosa que tem histórico de soberania e resistência.Não é um "grandão bobão"composto de desterrados e refugos escravocratas.Alias,a Rússia do "ditador"Putin,nunca imprimiu cédulas com a inscrição:Estados Unidos da Rússia.
ResponderExcluirPaulo Pereira
Falou tudo e mais um pouco.
ExcluirProfundo disparate mais nada.
ResponderExcluirImagine o mundo sem a Rússia e a China..... sempre será necessária a presença de uma potencia antagônica se não estávamos ..... F.....
ResponderExcluirPutin é uma consequência natural da política externa adotada no governo Clinton, que em pleno pós-Guerra Fria, preferiu se distanciar do processo de transição nos países do antigo bloco socialista. A postura do seu governo abriu espaço para o que tem sido designado de II Guerra Fria, e eu a considero tão grave quanto as condições impostas à Alemanha após a 1ª Guerra Mundial, que acabaram provocando o revanchismo alemão e, consequentemente, a 2ª Guerra. Não por acaso, a própria anexação da Crimeia pela Rússia assemelha-se muito ao Anschluss (anexação) da Áustria pelo governo de Hitler.
ResponderExcluirQuanto ao conjunto de suas posições políticas, vejo Putin como um ditador de centro-esquerda.
''Há o culto ao corpo de Putin, a retórica elevada de autoafirmação, a difamação de seus oponentes como degenerados, seu desprezo pela democracia e pelo parlamentarismo ocidental, seu nacionalismo exagerado''...
ResponderExcluirMas isso é apenas uma herança do período soviético, os soviéticos desprezaram a democracia ocidental, Como Putin, o nacionalismo também se manifestou na União Soviética, principalmente na segunda guerra com a ''Grande Guerra Patriótica'' para defender o pátria soviética, isso é uma forma de elevar a moral do povo, os soviéticos faziam e os russos fazem.
Querendo ou não, os russos manteram boa parte da politica soviética, principalmente nessa questão do anti-imperialismo americano, e o culto a personalidade politica, através da TV estatal que também ocorria na URSS, e agora ocorre com a Russia de Putin.
Se ele é fascista, então a URSS tinha um governo fascista. Pois quase toda politica dele hoje é baseada no período soviético. Eu, creio que ele seja um velho representante da esquerda ''truculenta'' em oposição a esquerda ''pós-moderna'' europeia.