Vistas a partir da Estônia, antiga república soviética que conta com um terço de russófonos, a anexação da Crimeia no final de março e as ameaças que pesam sobre o resto da Ucrânia não têm nada de tranquilizador.
Mas Erik Laidvee, presidente da Transiidikeskuse, a companhia que administra o terminal de carga de Muuga, principal porto mercante do país, situado perto da capital Tallinn, tenta ser realista. Dificilmente poderia ser diferente, quando a maior parte de seus negócios depende da Rússia e do trânsito de mercadorias pela Estônia e seus portos do Báltico.
Porto fechado
Para esse pequeno país de 1,3 milhão de habitantes, que se juntou à União Europeia e à Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) em 2004 e à zona do euro em 2011, a fronteira comum com a Rússia não é só uma ameaça. A maior parte do porto de Mugga é dedicada ao trânsito de petróleo da Rússia (e do Cazaquistão, em menor proporção). Este representou em 2013 cerca de 19 dos 28 milhões de toneladas que passaram por Muuga. O mercado de trânsito representa cerca de 10% do PIB estoniano.
Os estonianos sabem bem do que o Kremlin é capaz quando acredita que seus interesses estão em jogo. Em 2007, o pequeno país báltico foi abalado por uma grave crise, após a decisão do governo de retirar a estátua de bronze de um soldado soviético que simbolizava para os russos a vitória sobre os nazistas e para os estonianos o início da ocupação soviética, que terminou em 1991. A Estônia na época sofreu vários ataques cibernéticos e medidas de retaliação econômica por parte de Moscou.
Foi nessa época que o porto de carvão de Muuga foi fechado, sendo que 5 milhões de toneladas dessa matéria-prima vinda da Rússia passavam por ali a cada ano. O trânsito de fertilizantes também caiu depois de 2007, mas se recuperou desde então. Não se pode dizer o mesmo para o petróleo. Todavia, muitas empresas do porto que foram afetadas pelas medidas de retaliação do Kremlin são russas, como a Acron, uma das líderes mundiais dos fertilizantes, dona do terminal.
"Declaração estúpida"
Erik Laidvee conhece bem os russos. "Nossos negócios dependem dos contatos com as pessoas, independentemente do país", diz. Ele parece temer mais os políticos de seu próprio país. "Tudo que lhes peço é que não façam nenhuma declaração estúpida em relação à Rússia e que não sejam sempre os primeiros a criticarem Moscou", ele diz, admitindo que "a estátua de bronze não foi a única responsável pela queda do trânsito". "Os russos têm usado cada vez mais os portos em torno de São Petersburgo, em sua própria costa, o que é compreensível."
Mas Muuga também funciona no outro sentido como ponto de descarregamento e de distribuição de mercadorias que têm a Rússia como destino. E, nesse ponto, o porto de Tallinn tem uma nítida vantagem em relação aos seus concorrentes russos. "Os bancos e as seguradoras apreciam nossa seriedade", ressalta Erik Laidvee. "Em um porto russo, as mercadorias podem simplesmente desaparecer."
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