A chanceler alemã Angela Merkel passou muitos anos tentando entender o presidente russo Vladimir Putin. Mas nem ela esperava que ele anexasse a Crimeia. Agora, ela e seus colegas europeus estão se esforçando para tentar entender a situação.
O último dia 17 foi uma data de comparações históricas para CDU (União Democrata Cristã) de Angela Merkel. Pouco antes, quase 97% dos eleitores da Península Crimeia tinham votado a favor da anexação da região pela Rússia, um resultado que fez a chanceler se lembrar da Alemanha Oriental, onde ela cresceu. "Neste mundo, todos os pleitos que obtêm mais de 90% dos votos favoráveis têm de ser vistos com ceticismo", disse Merkel. Depois de uma breve e dramática pausa ela acrescentou: "com exceção da minha eleição para a presidência do partido, é claro".
O comentário de Merkel foi recebido com risadas, mas esse foi o único momento leve e alegre daquela manhã. O foco da reunião foi justamente a Rússia e a crise na Ucrânia. Volker Bouffier, governador do estado alemão de Hesse, falou sobre o "desamparo angustiante" do Ocidente diante da anexação da Crimeia pela Rússia, e disse que o fato o fez se lembrar do ano de 1938, quando o mundo não fez nada para impedir a anexação da região dos Sudetos, na então Tchecoslováquia, por Adolf Hitler. O secretário-geral do CDU, Peter Tauber, que tem pós-doutorado em história, destacou que, assim como ocorreu agora, com os Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi e a anexação da Crimeia, antes da tomada dos Sudetos ocorreu uma Olimpíada: a de Berlim, em 1936.
Essas são comparações que levam a uma única conclusão possível: a Europa precisa enfrentar o presidente russo Vladimir Putin – e, em vez de oferecer conciliação, os europeus têm de dar uma resposta firme. Antes da realização do referendo na Crimeia, Merkel havia elaborado um plano completamente diferente para que a Alemanha seguisse durante a crise na Ucrânia. Ela estava tentando trabalhar em estreita colaboração com Moscou, em um esforço destinado a evitar um confronto direto. Mas, depois de Putin ter anexado a Crimeia, Merkel foi obrigada a adotar uma atípica abordagem linha-dura. A chanceler alemã, que geralmente se contenta em aguardar e observar como a situação se desenrola, partiu para a ofensiva na semana passada, e disse ao parlamento alemão que "sanções econômicas serão consideradas sem sombra de dúvida" caso a situação se torne mais crítica.
Para uma chanceler que prefere ir devagar, essa foi uma declaração forte. Para uma líder que ficou famosa por gostar de avaliar cuidadosamente todas as suas decisões, essa foi uma atitude que provocou confusão. Qual é exatamente a estratégia de Merkel? Ao impor sanções é vital ter uma compreensão clara sobre seu adversário e saber quais objetivos ele está tentando alcançar. E é importante ser mais paciente. Será que Merkel acredita que a simples ameaça de dolorosas sanções econômicas impedirá Putin de engolir o leste da Ucrânia após ele ter deglutido a Crimeia como aperitivo? Ou será que Merkel está realmente preparada para embarcar em uma espiral de sanções? Quer ela deseje ou não, Merkel terá que dançar com o urso russo. E ainda não ficou claro que é que vai conduzir essa dança.
Isolando a Rússia
A situação da chanceler alemã é incômoda. Mas várias ligações telefônicas feitas para o presidente russo nas últimas semanas fizeram Merkel chegar à conclusão de que não há outra opção no momento. Apesar de as linhas de comunicação com Moscou continuarem abertas, proibições de viagem foram emitidas, contas bancárias foram congeladas e sanções econômicas direcionadas foram elaboradas. A comunidade internacional está isolando a Rússia.
Na semana passada, a chancelaria alemã observou os primeiros efeitos positivos da tática objetiva empregada por Merkel para lidar com a Rússia. Após dias de vai-e-vem em relação ao envio para a Ucrânia de uma possível missão de observadores da Organização para a Segurança e Cooperação da Europa (Organization for Security and Co-Operation in Europe – OSCE), Moscou finalmente concordou com a entrada dos enviados. Essa permissão foi interpretada como uma reação à pressão ocidental. Comentava-se que a determinação e a unidade demonstradas pelos Estados Unidos e pela União Europeia (UE) surpreenderam Moscou.
Mas o caminho de Merkel não está livre de controvérsias – nem dentro de sua coalizão governista, formada com os socialdemocratas de centro-esquerda, nem dentro de seu próprio partido. "Se nós impusermos sanções econômicas e nós formos os mais afetados no final das contas, essas sanções não servirão para ninguém", disse Armin Laschet, vice-presidente do CDU. Não é surpresa nenhuma o fato de a comunidade empresarial alemã também acreditar que as sanções são uma abordagem inadequada. É difícil calcular seus custos reais, e o preço dos esforços da UE para prestar assistência financeira à Ucrânia também é igualmente difícil de estimar. A Ucrânia precisará de um bilhão de euros apenas para evitar sua insolvência imediata.
E nós não podemos nos esquecer dos eleitores. Merkel sabe que os alemães não gostam de correr riscos, independentemente de o problema envolver a reforma da previdência social ou um confronto com a Rússia. A vitória eleitoral da chanceler no outono passado foi, em parte, o resultado de sua promessa de proteger a Alemanha de desconforto relacionado à crise do euro. Isso é o que eles estão esperando agora do plano traçado por Berlim para a crise da Ucrânia: segurança e estabilidade.
Até agora, de acordo com uma nova pesquisa realizada para a Spiegel pelo instituto de pesquisa TNS Forschung, 60% dos entrevistados consideram apropriada a resposta do Ocidente à crise na Ucrânia. Pesquisas anteriores, no entanto, mostraram que mais de dois terços dos alemães se opõem à adoção de sanções econômicas, que comporiam o próximo nível desse enfrentamento. E 55% dos alemães simpatizam com a visão de Putin, segundo a qual a Ucrânia pertence à esfera de influência da Rússia. Praticamente o mesmo percentual de entrevistados acreditam que o Ocidente deveria simplesmente aceitar a anexação da Crimeia pela Rússia.
Evidente prazer
O nível de seriedade com o qual Berlim está tratando a crise na Ucrânia pode ser sentido pelas observações recentes feitas pela ministra da Defesa alemã, Ursula von der Leyen. O Ocidente, por via das dúvidas, eliminou totalmente a possibilidade de uma ação militar. Mas a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) está considerando aumentar sua presença nos Estados Bálticos localizados na fronteira com a Rússia. "Agora é importante que os membros periféricos da aliança da Otan demonstrem sua presença", disse von der Leyen. "A situação atual mostra claramente que a Otan não é apenas uma aliança militar. A Otan também é uma aliança política".
A ministra defendeu ainda a expansão da Otan para os países que pertenciam anteriormente ao Bloco do Leste ou à antiga União Soviética, numa ampliação que a Rússia criticou duramente. "Em primeiro lugar, foi a cartilha dos valores democráticos que exerceu tal atração (da Otan) sobre os novos membros", disse ela. É por isso que a Otan cresceu na década de 1990, continuou ela, e não porque "a aliança fez da expansão sua prioridade".
Ainda assim, é a União Europeia, e não a Otan, que vai assumir a liderança na gestão da crise durante o futuro próximo. Quando Merkel se reuniu com os seus homólogos da EU, durante um jantar realizado na quinta-feira passada, o principal foco foi Vladimir Putin, segundo revelaram participantes do evento. Com um evidente prazer, os presentes ao encontro de cúpula relataram a zombaria à que Putin foi submetido, comentaram sobre a facilidade para interpretar a linguagem corporal do presidente russo e discorreram sobre o óbvio sofrimento que o poder perdido pela Rússia desde o fim da União Soviética provoca nele. A chanceler Merkel concorda plenamente com esta última constatação, e, por isso, ela tem observado Putin de perto. Mas Merkel não tem nenhum prognóstico sobre o que poderá ocorrer daqui em diante.
Qual será o próximo passo de Putin? Será que ele vai anexar a Transnístria ou a Ossétia do Sul? Será que ele vai incitar a minoria russa no Báltico ou no Cazaquistão? Às vezes, Angela Merkel assiste novamente a gravações com aparições que Putin fez na TV. Ela estuda sua linguagem corporal e ouve atentamente ao áudio original em russo.
Na última semana, Merkel contou ao conselho do CDU que Nelson Mandela lhe disse certa vez: "eu tenho de saber como o outro pensa". Em seguida, ela passou a descrever o mundo do ponto de vista de Putin. Para os russos, disse ela, o Ocidente os colocou constantemente na defensiva. Essa imagem retrata a Rússia pós-soviética como o novo aluno da turma – a turma do Ocidente, da modernidade e da democracia, da qual a Rússia inicialmente tentou fazer parte. Mas, ao fracassar nessa integração, o país se refugiou na teimosia e na agressividade. Merkel está convencida de que é necessário usar de clareza e severidade para enfrentar Putin. Aqueles ,que nunca oferecem nenhuma resistência a ele, fracassam.
Subestimando Putin
Merkel observou como o presidente russo mudou ao longo dos anos. Quando ele assumiu o poder, ela podia perceber a admiração que ele nutria pelo Ocidente, seu desejo de modernizar a economia russa e de recuperar o status de superpotência de seu país. Agora, apenas o último objetivo se mantém de pé. A antiga admiração de Putin em relação ao Ocidente se transformou em desprezo devido ao que ele vê como seu relativismo impenitente, seu fracasso no Iraque e no Afeganistão e a vulnerabilidade demonstrada durante a crise financeira global.
Durante a atual crise, a chanceler teve de admitir que subestimou a determinação de Putin. Em fevereiro passado, Merkel ainda acreditava que pudesse impedir a Rússia de anexar Crimeia. Na semana passada, ela avisou os líderes europeus, durante um encontro a portas fechadas, que ninguém deveria confiar em Putin. Merkel disse que Putin mentiu para ela várias vezes e fez promessas que foram quebradas logo em seguida.
O grupo de contato proposto pela Alemanha no início da crise, que deveria fornecer um canal de negociação direta entre Moscou e Kiev, é um exemplo desse tipo de comportamento. Inicialmente, Putin aceitou a ideia durante uma conversa por telefone com Merkel. Mas, depois de alguns dias de discussão sobre o assunto, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, anunciou de repente que a ideia não seria mais colocada em prática. A princípio, a missão de observadores da OSCE parecia estar ameaçada a ter um destino semelhante. Apesar de Putin ter concordado com a missão, que seria realizada em 16 de março, o acordo parecia estar em perigo na semana passada, até ser ressuscitado na semana passada. Ninguém, no entanto, parece estar especialmente confiante de que esse acordo venha a durar. Durante a Guerra Fria, "kremlinologistas" ofereceriam ideias e análises sobre o que a União Soviética supostamente estava pensando e planejando. Agora, o governo da Alemanha está desesperado por um "putinologista" – e a questão sobre até que ponto o presidente russo pode ir permanece sem resposta.
Há, no entanto, algumas certezas associadas à crise na Ucrânia, e os elevados custos estão entre elas, mesmo que a Europa venha a se recusar, no final das contas, a aplicar sanções econômicas à Rússia. A Ucrânia terá de ser salva da bancarrota. E isso também depende de Vladimir Putin. Se a Gazprom, estatal russa de gás natural, exigir o pagamento da quantia de mais de 1,5 bilhão (US$ 2,07) devida por Kiev, o novo governo ucraniano provavelmente será incapaz de quitar essa dívida, dizem fontes do governo de Berlim. A Europa teria que arcar com esse fardo.
Especialistas em orçamento do parlamento federal da Alemanha também estão analisando mais de perto o pacote de ajuda financeira no valor de 11 bilhões de euros que a UE anunciou no início de março. Um relatório detalhado compilado pelo Ministério da Fazenda alemão indica de onde esse dinheiro virá. Cerca de 1 bilhão de euros virão na forma de um empréstimo, além de uma quantia extra de 1,6 bilhão de euros que será fornecida a título de ajuda para o desenvolvimento do país durante um período de seis anos que se estenderia até 2020. Por fim, o Banco Europeu de Investimento e do Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento fornecerão aproximadamente 8 bilhões de euros em empréstimos adicionais.
O ministro da Fazenda da Alemanha, Wolfgang Schäuble, acredita que o orçamento alemão não será afetado pelo pacote de ajuda financeira à Ucrânia. Ao contrário dos EUA, Berlim não está planejando oferecer ajuda direta à Ucrânia.
Mas funcionários do Ministério das Relações Exteriores da Alemanha, comandado pelo ministro Frank-Walter Steinmeier, acreditam que entre 25 bilhões e 30 bilhões de euros anuais serão necessários para proporcionar à Ucrânia o mínimo de estabilidade. Funcionários de Steinmeier também se mostraram pessimistas em relação ao futuro político do país, que está profundamente dividido. A lista de problemas vai da corrupção descontrolada e da moeda instável até a significativa de influência gozada por políticos radicais, especialmente aqueles de extrema direita. Alguns na chancelaria alemã também começaram a usar o termo "estado falido".
E as comparações históricas continuaram. 2014 foi comparado a 1914, Putin foi comparado a Hitler e a Rússia de hoje foi comparada à República de Weimar. Só um paralelo ainda não foi traçado até o momento: a comparação entre a chanceler Angela Merkel e Catarina, a Grande. Sabe-se que Merkel tem muito apreço pela imperatriz russa de raízes alemãs: a líder alemã mantém um retrato de Catarina sobre sua mesa na chancelaria. Mas o que pouca gente sabe é que Catarina, a Grande, foi responsável pela conquista da Crimeia no século 18. A península foi anexada ao império russo em 8 de abril de 1783: "de agora até o fim dos tempos".
Comportamento de Putin , e de um lider que por que teja seu erros nao ,concorda com a Nova Ordem Mundial (NWO). Nun dois primeiros discursos de Putin depois da sua segunda reileicao ele prometeu que nao agiria com os obijetivos dos banqueiros e lideres Mundias , e condeno fortemente a invasao da Libia.
ResponderExcluirhttps://www.youtube.com/watch?v=Hr5GxN3C8uw