quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Síria: O jogo ambíguo da Turquia com os grupos extremistas

Oficialmente, a Turquia "não apoia nenhum grupo em particular dentro da oposição síria". Mas as idas e vindas de combatentes jihadistas de ambos os lados da fronteira com a Síria se tornaram incômodas. "Não fornecemos nenhuma ajuda direta a Jabhat al-Nusra nem a nenhum outro grupo. Nosso único contato é a Coalizão Nacional Síria", afirma o ministério das Relações Exteriores. A presença de militantes radicais, recebendo tratamento em hospitais fronteiriços ou abrigados em campos de refugiados, é cada vez mais visível.

Há vários meses os aliados da Otan vêm questionando a atitude de Ancara, que é acusada de, na melhor das hipóteses, fechar os olhos para essas movimentações e, na pior, de consolidar as posições dos jihadistas no norte sírio. Uma possibilidade perigosa, na opinião do jornalista turco Mete Cubukçu, que se pergunta "se a política externa turca não teria criado um taleban sírio". "É muito difícil encontrar ali uma explicação lógica. Não se pode ao mesmo tempo exigir da Otan a proteção da fronteira por baterias de mísseis Patriot e ajudar a Al-Nusra. É a grande discrepância da diplomacia turca", acredita um diplomata ocidental.

"Fronteira turca escancarada"
Os curdos são os mais críticos. Selahettin Demirtas, presidente do Partido da Paz e da Democracia (BDP), próximo do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), garante que "a fronteira turca está escancarada" para os jihadistas, que "sem o apoio turco não teriam conseguido resistir nem por uma semana". O governo de Erdogan é acusado de usar os jihadistas para conter os impulsos de autonomia curda no norte da Síria. O Estado Islâmico no Iraque e no Levante importuna as milícias afiliadas ao PKK pelo controle das cidades fronteiriças de Kobani (Ain-Al-Arab) e de Sere Kaniye (Ras-Al-Ain).

"A Turquia usa esses bandos armados para fazer guerra contra nós. Ela dá a eles balas e morteiros. Tudo isso é feito em plena luz do dia", afirmou, ao jornal turco "Taraf", Saleh Muslim, líder do PYD, o braço sírio do PKK. Kadri Gürsel, do jornal "Milliyet", tampouco duvida do apoio turco. "Teria sido impossível para esses militantes extremistas conseguirem tamanha superioridade contra as forças do regime sem um apoio logístico na Turquia e um acesso ilimitado à fronteira". O país já serviu de foco para a internacionalização do jihad em meados dos anos 1990, quando os voluntários que partiam para a Bósnia ou para a Tchetchênia transitavam por Istambul.

Críticas de Washington
Esse apoio aos rebeldes mais radicais é sobretudo tático, acredita Sinan Ulgen, diretor do think tank EDAM (Centro de Estudos Econômicos e de Política Externa). "Até dois meses atrás, a Turquia continuava apoiando esses grupos extremistas porque eles eram os mais influentes no campo de batalha. Mas isso suscitou críticas, sobretudo da parte de Washington", ele observa.

Então a Turquia teria apostado na força mais eficaz no local. Foram feitas reprimendas em março, durante a visita do ministro das Relações Externas, Ahmet Davutoglu, aos Estados Unidos

Segundo Ulgen, a Turquia teria mudado de política "para não colocar em risco suas relações com seus aliados, mas sobretudo porque ela se deu conta do risco que os jihadistas poderiam causar à sua própria segurança."

Um comentário:

  1. Temos ai uma noticia que não vamos ver na Rede Globo de Televisão. Muito obrigado por manter o público brasileiro informado Michel Medeiros.

    ResponderExcluir