O general Salim Idriss é o comandante do Exército Livre da Síria. Em entrevista concedida à "Der Spiegel", ele discute por que a questão das armas químicas é um artifício utilizado por Assad, por que o Ocidente se preocupa tanto com os extremistas islâmicos e como ele coordena suas forças via Skype.
O brigadeiro general Salim Idriss, 56, lecionou na academia militar de Aleppo, na Síria, antes de se juntar ao Exército Livre da Síria (FSA), em julho de 2012. Posteriormente, ele foi escolhido por vários comandantes do Exército e por outros membros do conselho revolucionário da Síria para atuar como chefe do Estado Maior do Supremo Conselho Militar e, como tal, tem sido o comandante de mais alta patente do FSA, além de ser o contato mais importante entre os rebeldes e os governos estrangeiros. Idriss fala alemão, pois estudou engenharia elétrica na cidade alemã oriental de Dresden.
Pergunta: O acordo com o líder sírio Bashar Assad para que ele entregue suas armas químicas tem sido visto em todo o mundo como um sinal promissor...
Salim Idriss: Não por nós. O ataque com gás ocorrido em 21 de agosto passado foi um crime contra a humanidade – e ninguém foi responsabilizado por ele. Todo mundo fala sobre o monitoramento das armas químicas, mas não sobre a destruição da Síria e os assassinatos que estão ocorrendo atualmente no país. Todos os dias, a força aérea de Assad ataca cidades e aldeias, aniquilando blocos habitacionais inteiros com mísseis Scud e dando continuidade aos bombardeios com artilharia e tanques – e isso não incomoda ninguém. Todos os dias, nós registramos 100 ou mais mortes na Síria, e quase um terço dos habitantes do país fugiu de suas casas. Isso é loucura. Eu não compreendo o Ocidente. Por que é que todos ficam apenas olhando?
Mas será que a destruição dessas armas não seria um passo na direção certa?
Isso não vai funcionar! Nós já estamos recebendo relatos de que o regime está escondendo suas armas químicas. Quando os inspetores chegarem, muitas das instalações de armazenamento estarão vazias. Além disso, o mesmo jogo jogado em missões de anteriores da ONU vai recomeçar. Os superintendentes do regime vão dizer aos inspetores: "Você infelizmente não pode sair do hotel hoje, pois é muito perigoso". Ao mesmo tempo, o regime vai atirar contra os inspetores. É tudo profundamente desonesto.
Que efeito os ataques com mísseis de cruzeiro dos EUA teriam?
Apenas a ameaça representada por esses ataques foi o suficiente para fazer com que as tropas do regime entrassem em pânico. Se esses ataques aéreos tivessem ocorrido, muitos teriam abandonado seus postos imediatamente. Tudo o que nós estamos esperando é um ataque aos aeroportos, contra os lançadores de mísseis Scud. Se isso ocorresse, o regime já não seria mais capaz de resistir. Nós não precisamos de nenhuma tropa em terra, mas sim de ataques aéreos – ou, pelo menos, de mísseis antiaéreos para que nós possamos nos defender.
Mas ninguém pretende entregar nenhum míssil antiaéreo a vocês devido ao medo de que eles possam cair nas mãos dos terroristas.
Terroristas? Nós experimentamos o terror todos os dias. Pouco tempo atrás, eu conversei com um de nossos comandantes do leste do país. A força aérea tinha acabado de bombardear a barragem do rio Eufrates novamente. Se essa barragem estourar, bilhões de metros cúbicos de água vão destruir tudo. E isso não é terrorismo? Nós demos aos norte-americanos todas as garantias de que nós não vamos usar armas antiaéreas contra a força aérea de Assad.
Um dos temores do Ocidente é que os jihadistas poderão tomar o poder se Assad for deposto.
Você sabe quem foi que abandonou suas posições em Idlib e Aleppo quando um ataque dos EUA parecia iminente? Os radicais do "Estado Islâmico". Como eles não têm absolutamente nenhum interesse na queda do regime, eles vicejam durante a guerra e lucram com a nossa fraqueza. Eu não sei de onde eles obtêm apoio. E, como quase ninguém nos oferece apoio, os nossos combatentes são associados com eles, pois eles precisam de dinheiro e de armas.
Mas o Exército Livre da Síria (FSA) também coopera em operações militares com os jihadistas e até mesmo com o Estado Islâmico.
Eu sou contra isso e já adverti contra essa prática. Os jihadistas mataram vários de nossos comandantes. Eles também são muito perigosos para nós. Mas como ninguém nos ajuda, eu não posso proibir a cooperação em nível local.
Que tipo de controle você realmente têm sobre os combatentes do FSA?
Nós temos um objetivo comum: a destruição do regime e uma a Síria onde todas as pessoas possam viver com liberdade e dignidade. Mas a lealdade de nossas tropas depende fortemente de que tipo de ajuda nós conseguiremos oferecer às nossas unidades. Nossos amigos estrangeiros têm nos prometido muita coisa há vários meses, mas eles entregaram pouco até o momento. Mas, se nós não fornecermos mais armas, munições, medicamentos nem telefones com conexão via satélite para nossos comandantes, nós também não poderemos mais dar ordens a eles.
Quem toma as decisões em relação aos ataques?
A iniciativa, às vezes, costumava vir do Supremo Conselho Militar e, às vezes, ela vinha dos comandantes em terra. Durante dois meses, nós temos dado sugestões sobre o que deve ser feito. Em seguida, nós discutimos as ordens os comandantes, geralmente via Skype.
Uma cadeia de comando pela internet?
Sim, isso funciona melhor. Eu fico online todas as noites até as 3h da manhã, tentando coordenar as unidades espalhadas por toda a Síria. Além disso, eu negocio o apoio de nossos amigos no exterior e fico em contato com a Coalizão Nacional, a oposição política.
Você acredita que a conferência de paz programada para Genebra tem alguma chance de sucesso?
Nós apoiamos todas as soluções políticas, mas sob uma condição: Assad deve ser colocado diante de um tribunal e deve ser julgado. Nós não vamos negociar com alguém que usa armas químicas contra seu próprio povo.
Mas e se as coisas continuarem como estão? E se não houver nem intervenção nem acordo?
Então a Síria vai continuar sendo devastada. E, em seguida, nós vamos experimentar mais ódio e o colapso total. Isso é exatamente o que nós queremos evitar, mas nós precisamos de ajuda para fazer isso.
Já os rebeldes não precisam esconder as suas armas e podem fazer ataques químicos à vontade, pois o ocidente irá ignorar tais acontecimentos.
ResponderExcluirBando de terroristas sanguinários!!
ResponderExcluirBárbaros...cães hídrofobos, lamentável.Sds.
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