segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Para secretário-geral da OLP, "nunca os israelenses foram tão intransigentes"

 Yasser Abed Rabbo 
Como esteve em todas as negociações entre Israel e Palestina dos últimos vinte anos, Yasser Abed Rabbo fala por experiência própria: "Ao longo dos sete processos de negociações que conhecemos," declara ao "Le Monde" o secretário-geral da Organização de Libertação da Palestina (OLP), "nunca os israelenses haviam adotado uma posição tão intransigente". Sob pressão americana, as discussões foram retomadas no final de julho com base em um acordo inicial: os dois primeiros assuntos a serem discutidos serão as fronteiras do futuro Estado palestino e as garantias de segurança exigidas pelo Estado judaico.


Israelenses e palestinos se encontraram sete vezes, sem que nenhum avanço pudesse ser percebido: os primeiros querem começar a falar em segurança; os segundos, em fronteiras. "Os israelenses nos dizem: 'Nada de definição de fronteiras enquanto vocês não aceitarem todas as nossas exigências de segurança, já que estas devem determinar o traçado das fronteiras!"

E o secretário-geral da OLP enumera as condições impostas pelos negociadores israelenses: "Continuidade de presença militar no vale do Jordão, continuidade dos blocos de assentamentos, muro da separação, presença militar no cume das montanhas, Jerusalém excluída da negociação e o espaço aéreo ficará sob nosso controle... Não estou inventando nada, é o que estão dizendo para nós!" Yasser Abed Rabbo é um dos principais dirigentes palestinos a falar sobre o andar das negociações que, a pedido de Washington, devem permanecer secretas.

Ele vê três razões para o endurecimento da posição do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, refletida em seu discurso na Universidade Bar-Ilan de Tel-Aviv, no dia 6 de outubro: "A primeira é que Netanyahu não acredita na solução de dois Estados. Isso não nos surpreende, ele é o verdadeiro belicista em Israel e sempre foi contra os acordos de Oslo; a segunda é que a extrema direita israelense constitui sua principal aliada; a terceira é que ele pensa que, daqui a um ano, a administração Obama estará prestes a sair e terá menos liberdade. Então ele está tentando ganhar tempo". Segundo Abed Rabbo, poderia haver uma outra razão: "Netanyahu está enviando a seguinte mensagem a Obama: 'Faz tanto tempo que você não aceita minha posição sobre o Irã – Israel é contra qualquer flexibilização das sanções dentro do contexto das negociações sobre o programa nuclear de Teerã -, que vou enfraquecer o processo de paz entre Israel e Palestina."

O ex-ministro de Yasser Arafat, hoje conselheiro do presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, explica que as garantias exigidas por Israel são inaceitáveis: "Se nós lhe dermos uma única colina, eles vão instalar ali dez soldados, depois pedirão uma estrada que chegue até ali, uma zona de segurança para proteger essa estrada e assim por diante... No final das contas, teremos uma outra ocupação, só que dessa vez teremos colocado nossa assinatura!" Yasser Abed Rabbo está convencido de que Israel está falando em segurança para justificar a anexação de territórios. Ele acredita que prova disso é a exigência israelense de fazer do Vale do Jordão uma zona-tampão: "Vão para o Vale do Jordão! Vocês não verão ali nenhum soldado, mas sim empresas israelenses explorando a terra e obtendo enormes lucros. Não se trata de segurança, mas sim de negócios e colonização."

Ele insiste que as "garantias" exigidas por Israel visam privar os palestinos das terras agrícolas mais férteis, monopolizar aquelas cujo subsolo contém lençóis aquíferos e as que servem para ligar as diferentes partes da Cisjordânia. "No fim das contas," ele resume, "acabaremos com bolsões de território que continuarão sob controle de Israel".

Na Universidade de Bar-Ilan, Netanyahu endureceu o tom, explicando que a "chave mais importante para resolver o conflito" é o reconhecimento pelos palestinos de que Israel é "o Estado-nação do povo judeu". Essa exigência é inadmissível, ressalta Yasser Abed Rabbo, porque ela equivale a "pedir aos palestinos que se tornem sionistas. Como condição de paz, nós deveríamos reconhecer a natureza de um Estado que está nos ocupando? Um milhão e meio de palestinos vivem em Israel com cidadania israelense. Sabemos por experiência que não se pode resolver um conflito tão complicado com uma base ideológica ou religiosa."

Existe somente um método para avançar, ele observa: conversar imediatamente sobre o traçado das fronteiras e cessar todas as atividades de colonização: "Do contrário, isso quer dizer que estamos discutindo sobre o destino do bolo – o Estado palestino – enquanto uma das partes come o bolo!"

Yasser Abed Rabbo teme que a inflexibilidade israelense resulte na "destruição" do processo de negociações, cuja suspensão já é exigida por diversos políticos israelenses e palestinos. É para tentar destravar a situação que os norte-americanos estão procurando promover um encontro entre Mahmoud Abbas e Benjamin Netanyahu. Mas o segundo afirmou, na terça-feira (15), que ele não tinha "parceiro para fazer as pazes."

Um comentário:

  1. Enquanto os EUA/OTAN/RÚSSIA/CHINA não se meterem nessa história, não haverá=NUNCA acordo. Parto do princípio que o mesmo respaldo que a RÚSSIA deu a Síria (derrubando os foguetes em direção a DAMASCO) deverá ser dado a Israel, ou seja, uma garantia que se o mesmo for atacado por qualquer nação prevalecerá o direito desses países acima iniciarem uma solução militar de qualquer ordem. Este deverá ser o princípio de qualquer negociação; seria mais ou menos por aí que a coisa deveria iniciar. Isto sim, o comprometimento de todos os países com a defesa e segurança de Israel, penso que, até no momento o aparato militar de Israel não encoraje qualquer vizinho uma aventura militar contra. Concluindo, sem comprometimento das nações militarmente fortes e disposição para garantir um acordo, qualquer dessas negociações atuais é mais um fogo de palha dos EUA para fingir que estão interessados em solucionar o problema da Palestina.

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