Sob um mar de bandeiras espanholas, no domingo (27), milhares de pessoas (200 mil, segundo os organizadores da manifestação) pediram justiça para as vítimas do grupo separatista basco ETA.
Uma semana depois de o TEDH (Tribunal Europeu de Direitos Humanos) em Estrasburgo ter determinado, no dia 21 de outubro, que a Espanha libertasse a etarra Inès del Rio Prada, presa desde 1987 por 24 assassinatos, as principais associações de vítimas do terrorismo foram exprimir sua fúria na praça Colón, no centro de Madri, contra aquilo que eles consideram uma "humilhação", uma "injustiça" e uma "vergonha".
Ao considerar ilegal a "doutrina Parot", um sistema de cálculo de redução de penas aplicado retroativamente pela justiça espanhola para prorrogar a detenção dos etarras para além do cumprimento máximo de trinta anos previsto em lei, o TEDH abriu caminho para a libertação de cinquenta outros etarras nas próximas semanas.
Para os manifestantes, essa decisão é inaceitável. "Queremos que esse clamor se estenda por toda a Espanha e que ele chegue até Estrasburgo", declarou a presidente da Associação Vítimas do Terrorismo (AVT), Ángeles Pedraza.
Mas Estrasburgo não era o principal alvo dos manifestantes, que também criticaram o governo anterior de Zapatero e, sobretudo, o atual Executivo conservador de Mariano Rajoy (Partido Popular, PP). Assim que foi revelada a decisão do TEDH, a AVT lhe pediu que não a aplicasse e avisou que se a libertação de Inès del Rio fosse rápida, ela exigiria explicações. A etarra foi solta no dia seguinte.
"Rajoy, traidor da Espanha. Você pisa na dor das vítimas!", "ETA é culpado, governo é o responsável", "Rajoy, você está traindo os vivos e os mortos!" eram algumas das expressões que circulavam entre os manifestantes. Sob vaias e gritos de "traidores", "canalhas" e "bandidos", três importantes membros do PP tiveram de deixar a manifestação às pressas e escoltados.
Ciente de que a manifestação seria potencialmente explosiva, a direção do PP hesitou durante quatro dias antes de participar dela. Representantes de uma ala do PP que é crítica ao governo, como a ex-presidente da região de Madri, Esperanza Aguirre, ou a prefeita da capital, Ana Botella, esposa do ex-premiê José Maria Aznar, haviam anunciado sua participação.
Lobby influente
Diante do tamanho da polêmica, o PP por fim decidiu se juntar à procissão. "Não vamos à manifestação na condição de governo, mas sim como partido político", teve de se justificar Rajoy diante de jornalistas em Bruxelas, antes de acrescentar, desconfortável, que esta não era "contra o TEDH", mas sim "em apoio às vítimas".
As associações de vítimas por muito tempo foram usadas pelo PP para criticar nas ruas a política antiterrorista do governo socialista de José Luis Rodríguez Zapatero (2004-2011).
Durante as últimas negociações iniciadas com o ETA, em 2006, e após a libertação de Iñaki de Juana Chaos, em 2007, na sequência de uma longa greve de fome, os membros do PP estiveram na linha de frente das manifestações. Prometendo firmeza contra o grupo armado caso fossem eleitos, eles às vezes subiam no palanque ao lado de familiares de vítimas, como fez o próprio Mariano Rajoy em 2007, colocando-se como únicos garantidores da memória dos falecidos.
Hoje, essas associações, que são um lobby influente e uma base eleitoral sólida, se voltaram contra o PP, ou pelo menos a direita moderada encarnada por Mariano Rajoy, contribuindo para o bloqueio do "processo de paz". No dia 20 de outubro de 2011, o ETA anunciou o fim da luta armada. Desde então, Madri vem exigindo sua "dissolução incondicional", enquanto o grupo separatista pede que se tomem atitudes quanto aos detentos espalhados em presídios afastados do País Basco.
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