Os americanos chegaram sob a proteção da noite, com a eletricidade estática das pás da hélice de seu helicóptero criando anéis luminosos azuis em meio à escuridão.
Era o retorno deles ao Vale de Pech, um trecho acidentado do leste do Afeganistão, tão violento que eles o apelidaram de Vale da Morte, desde que os militares americanos encerraram abruptamente uma ofensiva contra o Taleban ali, em 2011, após sofrer grande número de baixas.
Mas os americanos, do 1º Batalhão da 327ª de Infantaria, não voltaram para lutar. Em vez disso, sua visita atual era uma chance de testemunhar algo impensável dois anos atrás: as forças afegãs que eles deixaram encarregadas do vale na época, e nas quais ninguém acreditava que conseguiriam manter a posição nem mesmo por semanas, não apenas resistiram, como também tiveram um efeito.
A estrada principal que leva a Pech agora é transitável, até certo ponto, e foguetes não mais chovem constantemente sobre a base que os americanos deixaram para os afegãos. Os moradores locais dizem que não se sentiam tão seguros há anos.
"Cara, não dava para caminhar por esta estrada sem virar alvo", disse o sargento Benjamin Griffiths, surpreso enquanto ele e cerca de uma dúzia de soldados inspecionavam a área no dia seguinte à chegada.
Ninguém sabe exatamente como as forças afegãs conseguiram obter os ganhos que os americanos não conseguiram por tantos anos no Vale de Pech. Mas ela representa um esboço do como deve ser a segurança liderada pelos afegãos em alguns lugares, após a retirada da coalizão militar internacional no ano que vem.
Entrevistas com oficiais americanos e afegãos e com moradores locais pintam o progresso como uma amálgama de muitas coisas: a ausência de tropas estrangeiras como elemento irritante, um Taleban enfraquecido e um exército afegão melhorado. Os oficiais também notaram o início, de fato, dos acordos entre os soldados afegãos e militantes em algumas áreas sobre o que está dentro e fora dos limites – um sinal não particularmente positivo, mas ainda assim um indício de como a batalha poderia mudar quando afegão estivesse combatendo afegão.
Os insurgentes há muito prometiam que se os americanos partissem, a violência diminuiria – uma narrativa que os comandantes americanos exploraram na época. O pensamento era este: os combatentes estrangeiros atraídos ao Afeganistão perderiam o interesse ou iriam para outros lugares, como a Síria, e os moradores locais, nem tanto pró-Taleban, nem tanto contra os forasteiros, diminuiriam sua militância.
Esse parece ser o caso em Pech agora. Os moradores locais dizem que os insurgentes se mostram mais relutantes em atacar outros muçulmanos, apesar de ainda estarem longe de serem dóceis.
"Quando os americanos estavam aqui e circulavam de carro ou patrulhavam a área, ninguém os via como amigos ou libertadores", disse Hajji Yar Mohammed, um ancião tribal do distrito vizinho de Manogai. "Todos nas aldeias tentavam combatê-los em nome da jihad."
A combinação de determinação do Taleban, hostilidade local e terreno desafiadoramente acidentado tornou o vale particularmente mortal para os americanos, que sofreram mais de 100 baixas durante a última ofensiva aqui.
Quando teve início em 2009, a ofensiva em Pech foi rotulada como uma chance crítica de sangrar o Taleban em um lugar que ele manteve sob seu controle por anos. Mas quando a missão foi cancelada, no início de 2011, havia afirmações de que o vale não valia as baixas sofridas ali. Alguns soldados americanos expressaram discretamente o ponto de vista de que seus sucessores afegãos estavam recebendo uma missão suicida.
Assim os americanos partiram e as forças afegãs assumiram as posições avançadas que as tropas americanas deixaram para trás. Ninguém lhes dava muito crédito.
Dois anos depois, o comandante geral da brigada de combate do batalhão americano decidiu realizar a viagem para Pech para mostrar que, em vez disso, os afegãos fizeram os sacrifícios americanos não terem sido em vão.
Seja qual for o sucesso que os afegãos tiveram, não foi sem ao menos um pouco de ajuda americana.
Uma campanha agressiva de ataques americanos com aeronaves não tripuladas em Pech, ao longo do último ano e meio, foi fundamental, disseram oficiais americanos e afegãos. Eles afirmam que os ataques devastaram as redes dos insurgentes, se concentrando nos líderes da Al Qaeda e em seus facilitadores. A morte recente do governador paralelo do Nuristão, Dost Muhammad Khan, considerado um dos principais líderes do Taleban no país e um ativo crucial para a Al Qaeda, foi um ponto alto da campanha.
Porém há mais do que o poder aéreo americano, com sua data de expiração próxima no ano que vem, em vigor aqui. Analistas e oficiais também dizem que a abordagem afegã para o policiamento da área tem sido um ponto forte. Enquanto os americanos consolidaram uma base principal e alguns poucos postos avançados, os afegãos estabeleceram mais de uma dúzia de novos postos avançados e postos de controle vale adentro. A meta deles é focada: proteger a estrada principal que cruza Pech e Nangalam, mantendo-a aberta pela primeira vez em quase 10 anos.
O Exército Nacional Afegão (ENA) também melhorou acentuadamente nos últimos dois anos, notaram os visitantes americanos.
"O ENA que deixamos neste vale não é o ENA que está aqui agora", disse o sargento Merle Powell, que, como outros, acreditava que os afegãos seriam derrotados em questão de semanas após a retirada americana.
Enquanto os visitantes americanos prosseguiam em sua incursão por sua velha base no Vale de Pech, eles tiravam fotos e conversavam sobre quanto ela mudou. Às vezes eles tropeçavam em lembranças deixadas para trás. Um soldado encontrou uma foto de duas mulheres de biquíni que os soldados americanos tinham colado em uma parede. "Eu aposto que essa foto deixou muitos soldados afegãos felizes", ele disse aos seus colegas.
O capitão Ramone Leon-Guerrero apontou os alvos de ataques de foguetes, notando os estragos e oferecendo algumas poucas palavras de contexto, como um guia turístico sombrio. "Eu tive que analisar a cratera de cada um deles", ele explicou.
Lembranças de perdas estavam por toda parte, mas o tom era mais nostálgico do que triste. Alguns homens até mesmo reconheceram que sentiam saudade – da ação, da camaradagem, da luta compartilhada.
"Eu disse a mim mesmo que se tivesse uma chance de voltar, eu voltaria", disse Leon-Guerrero. "É uma daquelas coisas que você sempre deseja rever. Como voltar ao seu velho bairro e passar pela sua antiga casa."
incrivel como 'ningue' gosta dos americanos. ninguem gosta d ver sua soberania invadida. Michel, foi no afeganistao q ate os russos tiveram problemas na guerra fria, correto?
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