Barack Obama buscará apoio adicional dos principais políticos do mundo na cúpula do G20, em São Petersburgo. Mas o presidente russo, Vladimir Putin, já espera por um confronto com o presidente americano.
Vladimir Putin tem a vantagem de jogar em casa. Como anfitrião da cúpula do G20 em São Petersburgo, ele pode controlar as imagens e a logística do encontro das mais importantes economias industrializadas e emergentes do mundo dentro do Palácio Constantino, também conhecido como "Versalhes Russo".
Ele mal pode esperar para exibi-lo, completo com os pisos de madeira de lei reluzentes, para Barack Obama. O G20, disse Putin, proporcionará uma "boa plataforma" para discutir os problemas na Síria.
A ironia é que é o próprio Putin quem faz objeção veemente a soluções diplomáticas.
As linhas de frente políticas foram estabelecidas. Na noite de quarta-feira, o Comitê de Relações Exteriores do Senado americano deu sua aprovação a um ataque militar limitado, apesar de a Câmara ainda não ter votado a questão. Em São Petersburgo, Obama deverá buscar apoio internacional para sua política.
Putin, por sua vez, acredita que pode isolar ainda mais Obama ao forçar um "referendo internacional" à possível intervenção americana na Síria, disse o especialista em Rússia e membro do Conselho de Segurança Nacional, Andrew Weiss, ao site americano "Politico". "Essa viagem se transformou em uma dor de cabeça", ele disse.
Mesmo sem as tensões em torno da Síria, as relações entre Estados Unidos e Rússia já estavam em pedaços. Obama cancelou o encontro bilateral planejado com Putin depois que a Rússia concedeu asilo ao delator da Agência de Segurança Nacional americana, Edward Snowden. Em vez dele, o presidente americano planeja se encontrar com ativistas gays em São Petersburgo –uma afronta deliberada a Putin, agora que as leis anti-homossexuais e os maus-tratos a gays e lésbicas na Rússia se tornaram alvo de debate internacional.
O "reinício" que Obama queria nas relações entre os dois países se transformou em uma série contínua de erros e desentendimentos.
O gelo nas relações teve início em 2011, durante a intervenção internacional na Líbia. A Rússia não se opunha a uma ação "humanitária" pelo Conselho de Segurança da ONU, mas o Kremlin se sentiu enganado quando a missão se transformou em uma de mudança de regime. "Os russos se sentiram feitos de bobos na Líbia", disse o ex-secretário de Defesa americano, Robert Gates, ao "New York Times" nesta semana. O mesmo artigo citou um funcionário americano declarando que Putin mantém o "pé firme" na "ideia de que nunca teremos outra Líbia".
Obama corteja a França e a China
As relações ruins entre Estados Unidos e Rússia se tornaram particularmente óbvias e problemáticas ao longo da crise na Síria. E há mais nas reservas de Washington em relação a Putin do que o fato de Moscou ser o principal aliado do presidente sírio Bashar Assad. Quase como um aparte, o secretário de Defesa americano, Chuck Hagel, declarou na quarta-feira no Congresso que a Rússia forneceu as armas químicas para a Síria.
O próprio Putin descreveu a alegação de que Assad utilizou gás venenoso como "absurda". Em uma entrevista para a agência de notícias "The Associated Press" e para a emissora de TV russa "First Channel", ele disse não descartar um ataque militar contra o regime Assad. Mas disse que isso só pode ser feito com aprovação do Conselho de Segurança da ONU, onde a Rússia deixou claro que bloqueará uma resolução dessas. Putin está claramente fazendo um jogo de gato e rato.
Em São Petersburgo, Obama provavelmente negociará com os outros para aplicar pressão sobre Putin. Por exemplo, ele se encontrará separadamente com o presidente francês, François Holland, que apoia um ataque militar.
Notadamente, o Parlamento britânico rejeitou a opção de um ataque militar colocada na mesa por um dos aliados mais importantes de Obama, o primeiro-ministro David Cameron.
Obama também deverá se encontrar com o presidente chinês, Xi Jinping, na cúpula do G20 em São Petersburgo, um político que também rejeita um ataque militar e está bloqueando essas propostas no Conselho de Segurança da ONU.
'Credibilidade em jogo'
A jornada de Obama a São Petersburgo teve início com uma parada em Estocolmo. Na quarta-feira, o presidente americano fez uma visita de cortesia diplomática à capital sueca. A visita envolveu uma série de gentilezas bilaterais: um encontro com o primeiro-ministro Fredrik Reinfeldt, uma visita a uma sinagoga local e um jantar. Suecos aplaudindo margeavam as ruas.
Mas o assunto desagradável da guerra civil da Síria também estava na agenda. Em uma coletiva de imprensa com Reinfeldt, Obama apresentou outro argumento a favor de uma ação militar contra o regime Assad. Obama disse que não foi apenas ele, mas o mundo que traçou uma "linha vermelha" contra o uso de armas químicas. "A credibilidade da comunidade internacional está em jogo", ele disse.
A intenção de Obama é posicionar o conflito sírio, no qual ele investiu pessoalmente, como uma responsabilidade global –uma provável amostra do que virá durante sua visita a São Petersburgo.
Ban Ki-moon, o secretário-geral da ONU, também estará presente em São Petersburgo –principalmente para fazer lobby pela inclusão do Conselho de Segurança da ONU no trato do conflito. Esta abordagem já estava tangível em Estocolmo. "Vamos depositar nossas esperanças na ONU", disse Reinfeldt na coletiva de imprensa.
Uma pessoa poderia ser perdoada por esquecer o verdadeiro propósito da cúpula de São Petersburgo –a discussão da questão da persistência da instabilidade no mercado financeiro. Mas a questão ao menos será abordada na declaração de encerramento da cúpula, na qual "um objetivo coletivo de obtenção de um crescimento forte, sustentável e equilibrado" é mencionado. Afinal, a declaração já foi em grande parte escrita.
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