quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Opinião: valores americanos exigem que Assad responda por seus atos

A Europa entende, e esta cidade em particular, a importância das "linhas vermelhas" americanas. Berlim Ocidental, presa por mais de quatro décadas 160 quilômetros dentro da zona de ocupação soviética, sobreviveu graças à credibilidade do compromisso americano com ela, demonstrado pela ponte aérea dos Aliados em resposta ao bloqueio soviético de 1948.

Uma Europa despedaçada se tornou inteira, livre e próspera sob o escudo da credibilidade americana. O Artigo 5º do Tratado do Atlântico Norte declara que um ataque armado contra um membro "deve ser considerado um ataque contra todos".  Isso foi crível o bastante para dissuadir um ataque soviético à Europa Ocidental.

A credibilidade americana na Ásia tem um papel substancial na rápida, mas pacífica, ascensão da China, um deslocamento de poder de um tipo que raramente, se é que alguma vez, ocorreu na história do mundo sem um grande conflito. A China acredita no compromisso de defesa dos Estados Unidos com o Japão, Coreia do Sul, Filipinas, Austrália e Nova Zelândia. Os Estados Unidos são o poder compensador aliviando as tensões da ascensão da China.

É a credibilidade dos Estados Unidos como um poder na Europa, Ásia e Oriente Médio que garante a segurança global.

Nas Américas, a crise que teve início em outubro de 1962, com a apresentação ao presidente John F. Kennedy de evidências de que mísseis soviéticos estavam sendo instalados em Cuba, a cerca de 140 quilômetros da costa da Flórida, forneceu um duro teste para a credibilidade americana. Kennedy, como o presidente Barack Obama em relação à Síria, ponderou antes de declarar: "Será a política desta nação considerar qualquer míssil nuclear lançado de Cuba contra qualquer nação no Hemisfério Ocidental como sendo um ataque da União Soviética contra os Estados Unidos, exigindo resposta retaliatória complete sobre a União Soviética". No final, Moscou recuou.

A Síria não faz parte do império de Moscou da mesma forma que Cuba fazia, e a Síria não representa nem de longe uma ameaça aos Estados Unidos como a crise dos mísseis cubanos. Mesmo assim, o presidente Bashar Assad é um homem de Moscou e a Síria se transformou em um teste crítico para o poder americano.

Ninguém, que eu sabia, legou a Síria perpetuamente à família Assad. Mas vamos deixar isso de lado por um momento –e Hama, e os 100 mil mortos dos últimos 30 meses, e os mais de 2 milhões de refugiados. Não é fácil ignorar os crimes de um líder que massacra e dispersa sua própria população. Mas vamos tentar, porque uma questão global de extrema importância agora surge na Síria.

Trata-se da questão da manutenção da credibilidade das "linhas vermelhas" americanas, que são a fundação da ordem mundial pós-1945.

Obama traçou uma no ano passado a respeito do uso de armas químicas na Síria. A França declarou que o ataque químico de 21 de agosto perto de Damasco "não poderia ter sido ordenado ou executado por outro a não ser o governo sírio", a mesma conclusão a qual chegou o governo americano. O gás, as munições, o alvo, a inteligência e a história, todos apontam para o regime.

Quanto ao motivo, poderia muito bem ser perguntado que motivação levou Assad a concordar com o massacre ou dispersão de vários milhões de seus cidadãos.

A Síria, nas palavras do secretário de Estado americano, John Kerry, falando sobre o ataque químico, se transformou em uma "obscenidade moral". O homem que carrega a responsabilidade final por essa obscenidade é Assad.

A política externa não pode se limitar a valores, talvez estes não possam nem mesmo chegar a um quarto dela; mas uma política externa americana destituída totalmente de valores deixa de ser americana. A autoridade americana está vinculada à sua estatura moral como um estado de direito comprometido com a liberdade. Ela está igualmente vinculada à credibilidade de sua palavra. Na Síria, as duas vertentes inextricáveis da política externa americana –valores e realpolitik– se unem.

Este é o cerne da questão atualmente perante o Congresso. Como disse o senador John McCain, um não do Congresso a uma resposta militar americana ao ataque com armas químicas seria "catastrófico" para os Estados Unidos e sua credibilidade mundial. Se Assad puder desdenhar os Estados Unidos, então qualquer um pode, inclusive a República Islâmica do Irã.

Minha resposta inicial à decisão de Obama de buscar apoio do Congresso e o longo adiamento envolvido foi de expor uma hesitação já familiar. Mas eu reconsiderei: trata-se de um reequilíbrio necessário pós-11 de Setembro, dos perigosos "poderes ilimitados" da presidência dos quais Obama falou, poderes que abriram o caminho para o comprometimento dos "valores básicos" americanos, sobre o qual ele também falou neste ano.

Os interesses e valores americanos estão alinhados em exigir que Assad responda por seus atos. Como a diplomacia síria agora está apoiada pela primeira vez por uma ameaça crível de força, ela pode até mesmo produzir algo nos próximos 10 dias.

Mas eu duvido. Nesse caso, o Congresso deve assumir suas responsabilidades.

Passados três dias na crise dos mísseis cubanos, o general Curtis LeMay, da Força Aérea dos Estados Unidos, sugeriu que a recusa do presidente em ordenar ataques aéreos imediatos aos mísseis soviéticos era "quase tão ruim quanto o apaziguamento em Munique". Ele confundiu as deliberações de Kennedy com indecisão. A linha vermelha americana foi mantida –como deve ser na Síria atualmente.

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