Há dez dias, os Estados Unidos lançaram no Iêmen mais uma campanha de ataques por drones contra supostos membros da Al Qaeda na Península Arábica. A explicação seria um reavivamento de ameaças jihadistas contra os interesses ocidentais, e a recusa categórica de deixar a Al Qaeda constituir para si um novo santuário.
Paradoxalmente, Washington havia interrompido anteriormente as operações de drones no Iêmen, durante sete semanas, e até deixou entrever sua próxima cessação. A impressão que se fixava nos Estados Unidos era que esse método estava atingindo seus objetivos: no Iêmen, que havia sucedido o Afeganistão como principal foco de atividades dos imitadores de Osama Bin Laden, a "rede" estaria regredindo.
A administração Obama parecia também se conscientizar da multiplicação de vozes --em seu próprio país-- criticando os efeitos desastrosos do uso de drones, principalmente as "vítimas colaterais" civis, muitas vezes ignoradas nos balanços oficiais dos ataques. Outros, em número crescente, alertavam contra os efeitos a longo prazo de uma estratégia bélica fundamentada no uso de armas que logo poderiam proliferar nas mãos de outros países.
Eis que esses "assassinatos direcionados" recomeçaram no Iêmen. O presidente americano, para justificar o alerta internacional lançado por seus serviços consulares em cerca de 20 países, explicou em rede de TV, na terça-feira (6), que a Al Qaeda ainda constituía uma ameaça "muito significativa". O próprio presidente, preocupado em se distanciar dos anos George W. Bush, em maio proclamou durante um discurso que a "guerra" contra o terrorismo, "assim como todas as guerras, chega ao fim". E se esforçou para enunciar, com a ajuda de um decreto, uma política regulamentando o uso de drones, aviões pilotados à distância aos quais recorreram abundantemente durante seu primeiro mandato.
Os historiadores de guerra conhecem bem a atitude, tão comum aos generais, que em um dia proclamam a eficácia de uma estratégia, pulando de sucesso em sucesso, e depois justificam no dia seguinte a alocação de recursos reforçados, usando como argumento a persistência do inimigo que eles combatem. No caso da nova guerra dos drones no Iêmen, oficiais militares americanos às vezes deixam transparecer que eles não conseguem avaliar direito o grau real de eficácia da estratégia escolhida. O Pentágono admitiu, na terça-feira, não ter certeza quanto à identidade das pessoas alvejadas por ataques naquele dia.
Se a ameaça à segurança é considerada "extremamente alta", como afirmou o departamento de Estado americano, uma questão levantada por um número crescente de estrategistas da luta antiterrorista vem ganhando legitimidade: os assassinatos perpetrados por drones no Iêmen constituiriam a resposta adequada à Al Qaeda nessas regiões ou uma causa da manutenção de seu potencial?
É de se perguntar se essa estratégia, devido à mistura de rejeição com sentimento de impotência que ela suscita no espaço árabe-muçulmano, não estaria beneficiando a disseminação da Al Qaeda e suas capacidades de recrutamento. Pego por uma ameaça terrorista que a morte de Bin Laden em 2011 não eliminou, muito pelo contrário, Obama hoje parece preso nessa contradição.
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