quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Novo presidente do Irã desperta otimismo nos EUA

Hasan Rowhani
Atolado nas difíceis negociações nucleares com as potências europeias quase dez anos atrás, Hasan Rowhani fez algo que nenhum diplomata iraniano jamais fez.

Ele pegou seu celular, segundo os diplomatas ocidentais que lá estavam, ligou para seu antigo amigo e parceiro, o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, e o convenceu de que o Irã precisava suspender o enriquecimento de urânio. A ligação de Rowhani, eleito há pouco presidente do Irã, resultou em um acordo em outubro de 2003, o único pacto nuclear entre o Irã e o Ocidente em 11 anos.

"Rowhani mostrou sua importância", disse Stanislas de Laboulaye, que está aposentado do Ministério das Relações Exteriores da França e foi membro da delegação europeia nessas negociações. "Ele foi o único capaz de vender algo profundamente impopular aos outros líderes."

Existe um crescente otimismo no Irã e no Ocidente de que Rouhani, 64, esteja disposto a reiniciar sérias conversações sobre a questão nuclear. O governo Obama já indicou sua disposição a se envolver em um diálogo direto.

Rowhani deixou claro que está profundamente preocupado com os problemas econômicos de seu país e determinado a abrandar a tática intransigente de seu antecessor, Mahmoud Ahmadinejad. A questão é em que medida ele conseguirá atingir esses objetivos.

Qualquer presidente iraniano tem de responder ao líder supremo. Mas essa não é a única limitação. A ascensão e a queda de Ahmadinejad servem como advertência sobre a natureza fugaz do poder presidencial no Irã.

Ahmadinejad chegou ao governo e foi reeleito -de maneira fraudulenta, segundo a maioria dos observadores- como o candidato da facção tradicionalista dos religiosos ultraconservadores e dos comandantes da Guarda Revolucionária. Durante anos, ele foi arrogante, negando o Holocausto e desafiando Israel. Mas, no final de seu mandato, estava preso em uma amarga luta interna com seus antigos defensores e era amplamente impopular.

Rowhani foi derrotado pelos tradicionalistas depois que o acordo nuclear se desfez em 2005 e ele foi dado como morto, no sentido político. Aos olhos de seus críticos, era um "vendido" que havia cometido o pecado imperdoável de demonstrar fraqueza nas negociações com os europeus.

Em uma das viradas mais surpreendentes na história da República Islâmica, ele conseguiu ressuscitar sua carreira a partir desse ponto, aproveitando conexões que remontam aos primeiros dias da resistência religiosa ao xá. Para redirecionar o país -salientando os direitos individuais, o relaxamento das tensões com o Ocidente e o reparo da economia-, ele terá de enfrentar as forças que o derrotaram e a Ahmadinejad.

Rowhani nasceu Hasan Fereydoon, durante o reinado do xá pró-ocidental Mohamed Reza Pahlevi, em uma família de comerciantes de bazar e religiosos em uma pequena cidade no deserto. Tinha apenas 13 anos quando começou os estudos em um seminário no centro teológico de Qum, onde faria amizade com muitos dos homens que mais tarde seriam figuras centrais na República Islâmica.

Qum foi um berço da resistência contra o xá, e o jovem Hasan se encaixou perfeitamente. "Nós, estudantes, estávamos prontos para ser mortos, presos ou torturados", escreveu Rowhani sobre a prisão em 1963 do aiatolá Ruhollah Khomeini, que lideraria a revolução islâmica em 1979. Mais tarde, ele estudou direito na Universidade de Teerã e cumpriu o serviço militar obrigatório em Mashhad, onde ficou amigo de Khamenei.

Em 1978, Rowhani mudou-se para o Reino Unido, deu aulas na Universidade de Lancaster e estava pronto para fazer pós-graduação na Universidade Harvard, nos EUA, quando irrompeu a revolução no Irã. Então rumou para Paris e se uniu ao aiatolá Khomeini no exílio. Ficou conhecido depois da revolução por sua habilidade para transitar em um sistema dominado por ideólogos, formando consenso entre forças opostas.

Ele foi uma das três autoridades iranianas que se reuniram com o ex-assessor de Segurança Nacional dos EUA Robert McFarlane quando este visitou secretamente Teerã em 1986, para negociar a troca de armas por reféns que mais tarde levaria ao escândalo Irã-Contras.

Os colegas de Rowhani dizem que ele é, acima de tudo, um religioso muçulmano xiita que dedicou sua vida à revolução islâmica. "As sanções e outras pressões não nos farão mudar de posição", disse um de seus antigos associados, que pediu para manter o anonimato porque Rowhani não quer que ninguém fale em seu nome. "Rowhani se interessa por um diálogo com o Ocidente, não por um monólogo."

Entretanto, diplomatas que o enfrentaram em negociações elogiaram suas técnicas e sua flexibilidade. "Ele está perfeitamente situado no sistema de poder do Irã", disse Paul von Maltzahn, que trabalhou como ex-embaixador alemão no país. "Ele não é facilmente manipulável e é assertivo."

Durante seus 16 anos como secretário do Conselho de Segurança Nacional do Irã, Rowhani evitou que a linha-dura formasse uma aliança com Saddam Hussein depois que o Iraque invadiu o Kuait em 1990. Ele dirigiu a reação inesperadamente respeitosa do Irã aos atentados de 11 de Setembro e foi instrumental na ajuda para coordenar os EUA com forças de oposição no Afeganistão e no Iraque quando esses países foram invadidos pelas forças americanas.

Sua negociação mais difícil -a que levou ao acordo nuclear de 2003- o fez cair em desgraça com o público. Ele está disposto a tentar novamente? Analistas dizem que talvez esteja. "Ele é um soldado proativo desse sistema desde a juventude", disse o colunista Nader Karimi Joni. "É sua criação. Ele se sente responsável."

Alguns diplomatas europeus acham que Rowhani estava otimista demais em 2003, talvez se adiantando à maior parte da liderança. Mas o associado de Rowhani, que tem pleno conhecimento das negociações, discorda.

"O que importa agora é que, com a eleição de Rowhani, uma nova janela de oportunidade se abriu para o Ocidente."

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