quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Guerra na Síria une rebeldes e jihadistas

Num momento em que combatentes estrangeiros se infiltram na Síria num ritmo cada vez intenso, grupos extremistas conquistam bolsões de território que se tornam refúgios para militantes islâmicos, constituindo aquilo que autoridades de inteligência dos EUA e de outros países ocidentais dizem que pode vir a se tornar uma das maiores ameaças terroristas do mundo.

Conhecidos como combatentes aguerridos, dispostos a usar carros-bombas guiados por suicidas, os grupos jihadistas incluem atualmente mais de 6.000 estrangeiros, dizem autoridades de contraterrorismo, acrescentando

que tais combatentes continuam chegando à Síria em número maior do que entrava no Iraque no auge da insurgência contra a ocupação americana naquele país.

Muitos dos militantes são parte da Frente Nusra, grupo extremista cujos combatentes ganharam a reputação de estar entre os mais eficazes da oposição. Mas outros estão se reunindo sob um grupo novo e ainda mais extremista, o Estado Islâmico no Iraque e na Síria, que está juntando alguns sírios a combatentes do mundo todo -Tchetchênia, Paquistão, Egito e países ocidentais, além da Al Qaeda no Iraque, grupo sunita que ganhou proeminência na luta contra a ocupação americana.

A preocupação é de que uma nova afiliada da Al Qaeda possa estar emergindo..

Foi o temor de que os militantes passassem a dominar a oposição que levou os EUA e seus aliados ocidentais a reter o envio de ajuda militar letal para a oposição síria, pelo menos por enquanto. Mas, por causa disso, afirmam analistas de contraterrorismo, eles perderam a chance de influenciar a batalha na Síria.

Autoridades americanas de inteligência disseram que Aiman al Zawahri, líder da Al Qaeda no Paquistão, manteve comunicações regulares com a Frente Nusra na Síria, refletindo uma opinião muito favorável da liderança da Al Qaeda acerca do potencial de longo prazo da Síria como refúgio. Juan Zarate, ex-funcionário de contraterrorismo no governo de George W. Bush, disse que a Síria está no centro de um arco de instabilidade que vai do Irã ao norte da África e que "nessa zona você pode ter a regeneração e a ressurreição de uma nova marca da Al Qaeda".

Na Síria, as frentes de combate se endureceram. O governo sírio, amparado pelo Irã e pelo Hizbullah, recuperou território dos rebeldes no sul e no leste. O poder dentro da fraturada oposição, com cerca de 1.200 grupos, deslizou para as mãos dos jihadistas sediados no nordeste, região onde eles recentemente capturaram um aeroporto estratégico. Eles também dominam Raqqa, uma capital provincial.

A ideia de que a Síria possa vir a suplantar o Paquistão como principal reduto da Al Qaeda, caso o governo caia, é um duro golpe para a oposição síria apoiada pelo Ocidente e para o seu braço militar, o Exército Sírio Livre (ESL). Isso interessa diretamente ao ditador sírio, Bashar al Assad, cujo governo se apresenta como a única alternativa ao extremismo islâmico e ao caos, e torna ainda mais remota do que já era a perspectiva de um apoio americano integral.

O argumento de Assad "começou como ficção durante o período dos protestos pacíficos e desarmados, mas agora é uma realidade", escreveu Hussein Ibish, da Força-Tarefa Americana para a Palestina, em ensaio na revista "The National".

Recentemente, um comandante do Estado Islâmico no Iraque e na Síria bebericava um café em Raqqa. O comandante Abu Omar é sírio, mas descrevia os objetivos do seu movimento como algo que vai muito além das fronteiras do país.

Ele não falou em atacar os EUA. Mas ameaçou a Rússia e falou de uma batalha contra o Irã xiita e sua luta por dominar a região. Disse ainda que os sunitas do mundo todo têm justificativa ao ir à Síria lutar, por causa da associação do governo local com combatentes xiitas do Líbano e do Iraque.

Abu Omar rejeitou os apelos de alguns membros da oposição para manter o foco da luta dentro da Síria. "Temos um inimigo", disse ele, referindo-se ao Irã, "e devemos enfrentar esse inimigo como uma frente e em diferentes frentes".

Ele também pareceu sugerir que a Rússia seria um alvo legítimo por seu papel no apoio a Assad e por sua brutal repressão a militantes muçulmanos no Cáucaso.

O líder do ESL, o general Salim Idris, acusou os jihadistas de trabalharem para o governo Assad ou de terem seu auxílio, uma ideia que não é absurda, já que muitas autoridades ocidentais acreditam que o governo Assad teve papel importante em direcionar sírios e outros estrangeiros para o Iraque durante a insurgência nesse país. Alguns rebeldes dizem que a artilharia e a aviação do governo os atacam ferozmente, enquanto geralmente poupam posições jihadistas.

Os combatentes do ESL já travaram confrontos com grupos jihadistas por causa de armas e suprimentos, e ativistas civis anti-Assad lutam contra eles por causa dos seus esforços para impor regras religiosas à sociedade. Os grupos já sequestraram e aprisionaram dezenas de ativistas.

No entanto, os limites que separam o ESL dos grupos jihadistas são fluidos, e os conflitos não impediram os líderes do ESL de colaborar com os combatentes islâmicos, cuja ferocidade no campo de batalha é inconteste. Isso também contribuiu para criar uma discrepância entre as declarações de líderes da oposição no exílio, que rejeitam os extremistas e sua ideologia, e as ações dos comandantes no terreno, ávidos por qualquer ajuda que possam obter.

O grupo jihadista Jaish al Muhajireen wal Ansar (Exército de Emigrantes e Apoiadores), liderado por um ex-combatente do Cáucaso conhecido como Abu Omar al Shesheni (ou "O Tchetcheno"), colaborou no começo de agosto com batalhões do ESL para capturar a base aérea de Menagh, na província de Aleppo, após dez meses de tentativas.

O que pareceu definir os rumos da batalha, disse Charles Lister, do Centro IHS Jane's de Terrorismo e Insurgência, foram os atentados suicidas com veículos.

Após a batalha, o coronel Abdul Jabbar al Okaidi, chefe do conselho militar da oposição em Aleppo, que tem apoio dos EUA, apareceu em um vídeo ao lado de Abu Jandal, líder do Estado Islâmico no Iraque e na Síria. Okaidi agradeceu aos "nossos irmãos do Al Muhajireen wal Ansare outros", acrescentando: "Estamos aqui para beijar cada mão que aperta o gatilho". Ele então cedeu o espaço a Abu Jandal e a líderes jihadistas e do ESL, que ficaram de pé juntos, cada um elogiando seus homens.

Tal cooperação complica os esforços para isolar os jihadistas dentro da insurgência, onde comandantes de todos os matizes políticos percebem ter poucas opções a não ser colaborar com qualquer aliado que estiver disponível. "Há uma grande dose de pragmatismo no terreno", disse Lister.

Mas esse mesmo pragmatismo, afirmou Ibish, sugere que há esperança de que muitos dos sírios lutando ao lado dos extremistas não estejam ideologicamente comprometidos com o objetivo desses grupos de criar um Estado islâmico. A ideologia extremista, disse, "vai contra a cultura tradicional e as realidades da Síria moderna".

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